O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, negou nesta quarta-feira (8) que o presidente Jair Bolsonaro tenha feito imposições para que a pasta chancele a utilização da cloroquina em pacientes infectados pelo coronavírus (COVID-19). Mandetta disse que ambas as partes estão alinhadas quanto a cautela para o uso do medicamento por ter várias situações que podem colocar os pacientes em risco.
Mandetta ressaltou que dada a grande circulação de vírus entre a população, como a H1N1 e Influenza A e B, é complicado aplicar a cloroquina, uma vez que sintomas gripais são semelhantes entre os casos. A grande preocupação do ministro é com os efeitos colaterais que o medicamento pode trazer aos pacientes, como fortes dores de cabeça e cegueira.
“Lembram do primeiro paciente (infectado pela COVID-19)? Recebeu alta e está andando. O senador Davi Alcolumbre confirmou, ficou na casa dele uma semana, teve febre, dor de cabeça, ficou abatido. Precisou ir para o hospital? Não. Tomou Tylenol, Novalgina. Sarou? Sarou. Está bem, presidindo o Senado. A grande maioria, 85%, vai ficar muito bem, obrigado. Então será que seria inteligente dar um remédio a 85% das pessoas que não precisam desse remédio que tem efeitos colaterais? Será que vale a pena sem saber se é coronavírus, e ainda sim, colocando esse medicamento?”, indagou Mandetta.
O ministro também expôs outras situações, como o caso de pessoas do grupo de risco para o coronavírus, acima dos 60 anos, supondo que a cloroquina poderia causar arritmia cardíaca, causando um infarto. Mandetta ressaltou que o Conselho Federal de Medicina está fazendo estudos sobre o medicamento e estabeleceu que os resultados sejam entregues ao Ministério da Saúde até 20 de abril.
“Não existe ninguém dono da verdade. Não existe aquele que sabe mais do que o outro. Não tem. Somos todos iguais, vamos todos ter mais disciplina, mais foco, mais ética e comportamento. Com base nisso daqui, vamos todos andar bem. Podemos errar? Sim. Podemos demorar um pouco para tomar decisão? Talvez. Podemos tomar uma decisão precoce que possamos nos arrepender depois? Talvez. Mas vamos juntos. Consciência, foco e disciplina”, disse.
Pensamentos alinhados com Bolsonaro
Durante toda a coletiva, Mandetta utilizou tons amenos ao se referir a Bolsonaro, dizendo que o presidente está no comando das ações contra o coronavírus. O ministro disse que os pensamentos de ambas as partes estão alinhados quanto ao uso da cloroquina e negou que esteja recebendo imposições para liberar o remédio.
“Precisamos que todos tenham maturidade, visão, foco, disciplina para que a gente possa atravessar esse momento. O presidente em nenhum momento fez diretamente imposição. Ele defende, como todos nós defendemos, que se há chance para este ou aquele paciente, que possamos garantir o medicamento. Mas ele também entende que a gente coloca situações que podem ser complexas. Ele também entende que precisamos que os conselhos analisem (a utilização do medicamento)”, concluiu.
O uso da cloroquina é uma das principais divergências entre Mandetta e Bolsonaro. Enquanto o ministro prega cautela sobre a utilização do medicamento, usando a ciência como base, o presidente tenta a todo momento chancelar a cloroquina, se reunindo com outros médicos.