Jornal Estado de Minas

CORONAVÍRUS

Quem é Roberto Kalil, 'médico de famosos' citado por Bolsonaro para defender a hidroxicloroquina


Ao falar em rede nacional nesta quarta-feira sobre o combate à pandemia do novo coronavírus, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) citou um renomado médico brasileiro. Mas não foi o ministro da saúde, o ortopedista Luiz Henrique Mandetta. O mencionado, na verdade, foi Roberto Kalil Filho.



Bolsonaro citou o cardiologista para defender o uso da hidroxicloroquina no tratamento de pacientes com a Covid-19, embora ainda não haja estudos conclusivos sobre a eficiência do medicamento no combate à doença. Horas antes do pronunciamento do presidente, Kalil declarou ter usado a substância para se tratar e a prescreveu para outros pacientes com coronavírus.

“Há pouco, conversei com o doutor Roberto Kalil. Cumprimentei-o pela honestidade e o compromisso com o juramento de Hipócrates ao assumir que não só usou a hidroxicloroquina, bem como como a ministrou para dezenas de pacientes. Todos estão salvos. Disse-me mais: que mesmo não tendo finalizado o protocolo de testes, ministrou o medicamento agora para não se arrepender no futuro. Essa decisão poderá entrar para a história como tendo salvo milhares de vidas no Brasil. Nossos parabéns para o doutor Kalil”, disse Bolsonaro.

Roberto Kalil Filho foi diagnosticado com coronavírus e ficou dias internado no Hospital Sírio-Libanês, onde trabalha, em São Paulo. Nesta quarta-feira, declarou ter usado não apenas a hidroxicloroquina, mas vários outros medicamentos no tratamento da Covid-19, doença da qual se curou.



"Foi proposto antibióticos, anticoagulantes, oxigenioterapia e a hidroxicloroquina. Obviamente, eu aceitei tomar sim a hidroxicloroquina, embora todos saibam que não tem grandes estudos comprovando benefício, em uma situação de paciente mais grave, eu acho que tem que ser ponderado, sim, o uso", disse à Jovem Pan.

“Aí você me perguntar, você melhorou só por causa da hidroxicloroquina? Provavelmente não, porque uma gama de remédios. Deve ter ajudado? Espero que sim, provavelmente sim”, completou.

As declarações de Bolsonaro sobre o uso da hidroxicloroquina contrastam com o posicionamento do próprio Ministério da Saúde, uma vez que ainda não há comprovação sobre a eficiência do medicamento no combate ao coronavírus e por conta de possíveis reações colaterais. Mais cedo, ainda nesta quarta-feira, o chefe da pasta, o ministro Luiz Henrique Mandetta, pregou cautela no uso da hidroxicloroquina.


Quem é Roberto Kalil Filho?


Além de ter fundado o Centro de Cardiologia do Hospital Sírio-Libanês, o médico citado por Bolsonaro se formou na Universidade de Santo Amaro (Unisa), é professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e diretor do Instituto do Coração (Incor). Durante anos, estudou e fez pesquisas nos Estados Unidos.

Roberto Kalil Filho, de 60 anos, é mais conhecido por ser médico de famosos, como os ex-presidentes José Sarney, Fernando Collor, Lula, Dilma Rousseff e Michel Temer, os tucanos José Serra e Geraldo Alckmin, além dos artistas Roberto Carlos, Gilberto Gil e Wanessa Camargo. Foi muito ligado a outros nomes históricos da política nacional, como Paulo Maluf e João Figueiredo.

Em 2018, segundo publicou a Revista Piauí, foi o responsável por enviar médicos do Hospital Sírio-Libanês a Juiz de Fora, na Zona da Mata mineira, para que observassem os resultados da cirurgia de Jair Bolsonaro, que havia sido esfaqueado horas antes. A tentativa era fazer com que o então candidato se tratasse onde Kalil trabalha. Porém, o local escolhido foi o Hospital Albert Einstein, em São Paulo.