Ramaiane conta que foi para o país europeu para aproveitar uma oportunidade. “Tive a chance de vir para um grupo de dançarinos brasileiros aqui, que faz apresentação em vários lugares, em especial no litoral. Fazemos apresentações de samba, de axé, principalmente. Enfim, da música brasileira.”
A vida era tranquila em Ankara, até até surgiu a pandemia de coronavírus. “Tudo mudou de uma hora pra outra. Pessoas do nosso grupo retornaram ao Brasil. Eu e minha amiga, Giovanna Peixoto, preferimos ficar. Só que estamos num país muçulmano. Aqui é tudo diferente. Não podemos sequer circular pela cidade. Não podemos sair para ir para outra cidade, para pedir ajuda.”
Elas enfrentam, ainda, situações de assédio. “Pedimos uma comida pelo telefone. O entregador chegou aqui na casa onde estamos, de favor, entregou, mas colocou minha foto em redes sociais, me tratando como se fosse uma prostituta. Isso, por ser brasileira, dançarina e por ser mulher”, conta Ramaiane.
Ela conta que, há um mês e meio, está tentando conseguir ajuda do governo brasileiro. “Já fomos ao Consulado, mas lá, sequer deixar a gente entrar. Nem mesmo se aproximar no passeio. Ficamos limitadas a falar pelos canais oficiais, site da Embaixada brasileira, e grupos sociais. E as respostas, poucas, são sempre as mesmas, que devemos aguardar.”
Ramaiane conhece ao menos 90 brasileiros residentes na Turquia que estão sem emprego e passando dificuldade devido ao isolamento e ao fechamento do comércio. “Sabemos disso porque criamos um grupo só de brasileiros. O problema maior é que não existem mais voos comerciais. O espaço aéreo está fechado. Estamos pedindo pelo amor de Deus para que o Itamaraty nos ajude.”
O que diz o Itamaraty
Até a noite de quinta-feira, segundo o Itamaraty, 15.832 brasileiros retornaram ao país durante a pandemia. A estimativa do órgão é que cerca de 4.500 pessoas, em 82 países, ainda estejam aguardando o repatriamento.