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Estado de Minas

Coronavírus põe o Rio de Janeiro à beira do colapso

Lotação de leitos de UTI para pacientes com a COVID-19 está quase esgotada no estado. Na capital fluminense, falta mão de obra para hospitais de campanha


postado em 27/04/2020 04:00 / atualizado em 27/04/2020 11:54

Voluntário faz limpeza em área de favela na capital fluminense. Estado é o segundo no ranking de mortes por COVID-19 no Brasil (foto: Mauro Pimentel/AFP %u2013 20/4/20)
Voluntário faz limpeza em área de favela na capital fluminense. Estado é o segundo no ranking de mortes por COVID-19 no Brasil (foto: Mauro Pimentel/AFP %u2013 20/4/20)

Segundo estado brasileiro com o maior número de mortes e casos relacionados à pandemia de coronavírus, o Rio de Janeiro luta agora para não ser também a segunda unidade da Federação – depois do Amazonas – a entrar em colapso por causa da doença. No estado, praticamente todos os leitos de UTI destinados ao tratamento de pessoas diagnosticadas com a doença estão ocupados; o mesmo ocorre com a rede da capital fluminense. Enquanto isso, hospitais de campanha construídos na cidade do Rio justamente para ampliar o número de vagas não estão em operação. O motivo? Faltam mão de obra e equipamentos.

Nesta reportagem, o Estado de Minas explica como está a situação do estado, onde casos trazidos do exterior causaram rapidamente um boom de diagnósticos positivos. O vírus não poupou nem mesmo o governador Wilson Witzel (PSC) e a primeira-dama Helena Witzel.

O primeiro caso de COVID-19 foi registrado no estado foi em 5 de março: uma mulher de 27 anos, moradora da cidade de Barra Mansa, que apresentou os sintomas ao voltar da Lombardia, região da Itália mais afetada pelo coronavírus. Até então, o vírus ainda estava a 130 quilômetros da capital fluminense. No entanto, menos de 24 horas depois, a cidade do Rio já tinha quatro casos confirmados e, 14 dias mais tarde, registrava sua primeira morte pela doença.

Desde então, o crescimento de casos e mortes foi exponencial e as notícias deixaram de ser apenas números para se transformar em nomes e rostos de pessoas conhecidas. Para se ter uma ideia, em 26 de março, 421 pessoas já estavam diagnosticadas com a doença no estado e nove tinham morrido; ontem, um mês depois, esses números chegam a 7.111 e 645, respectivamente. Em comparação, na mesma data, Minas tinha 153 casos confirmados e nenhum óbito; ontem eram 1.548 diagnósticos positivos e 61 mortes.

O mesmo “boom” foi registrado na capital fluminense, onde em 1º de abril havia 697 casos e 24 mortes; hoje já são 4.498 e 382, respectivamente.

Hoje, a cidade do Rio de Janeiro representa 63% do número de casos e 59% das mortes em todo o estado. Do total de casos, 246 estão na Barra da Tijuca e 230 em Copacabana, bairros que abrigam moradores de boa condição financeira. Em relação ao número de mortes, Copacabana também está em destaque, com 22 óbitos. No entanto, em segundo lugar, está o Bairro Campo Grande, com 20 mortes e, em terceiro e quarto, a Tijuca e o Realengo, com 16 e 14 óbitos, respectivamente. Essas regiões têm valor de metro quadrado baixo em comparação com os bairros da Zona Sul do Rio.

LOTAÇÃO 

A alta taxa de contágio na capital fez com que os hospitais do estado e, principalmente da cidade do Rio, ficassem lotados rapidamente. Conforme informado pela Secretaria de Estado de Saúde (SES-RJ), na última sexta-feira, todos os leitos destinados a pacientes com suspeita ou confirmação de COVID-19 estavam ocupados. O único hospital que ainda tinha vagas na rede estadual era o Regional Zilda Arns, em Volta Redonda, a 137 quilômetros do Cristo Redentor – até sexta, as taxas de ocupação da unidade de saúde eram de 56% na enfermaria e 51% na UTI.

A SES-RJ ainda informou ao Estado de Minas que a taxa de ocupação em enfermarias da rede estadual na sexta era de 66% e de 80% em leitos de UTI – há duas semanas, as taxas eram de 41% e 63%, respectivamente. Ao todo, 2.037 pacientes estão internados na rede estadual; desses, 220 suspeitos ou confirmados de coronavírus aguardavam transferência para UTIs, que podem ser reguladas para as diferentes redes, seja ela municipal, estadual ou federal.

O grande volume de pacientes extrapolou as previsões da administração pública estadual, que criou 521 novos leitos exclusivos para o tratamento de pacientes suspeitos ou confirmados da COVID-19 e destinou outros 137 já existentes para esse grupo. No entanto, só na capital, 773 pacientes estavam internados na sexta-feira em unidades municipais, estaduais e federais, por suspeita ou confirmação de coronavírus, sendo 261 em UTIs. Conforme frisado pelas secretarias municipais e estaduais de Saúde, esses números variam diariamente, devido às altas e óbitos de pacientes.

Na quarta-feira, a Justiça acatou o pedido do Estado do Rio de Janeiro e deu até 48 horas para que hospitais federais liberassem leitos livres para pacientes de outras unidades de saúde. A magistrada à frente do caso chegou a estipular multa de R$ 1 mil por dia para aqueles diretores que não disponibilizarem os leitos. Por outro lado, os hospitais vêm ressaltando que não têm condições de receber outros pacientes.

Aeroporto Tom Jobim passa por desinfecção contra o coronavírus (foto: Carl de Souza/AFP)
Aeroporto Tom Jobim passa por desinfecção contra o coronavírus (foto: Carl de Souza/AFP)

Novas estruturas fora de serviço

Para evitar o colapso do sistema de saúde em meio à pandemia, o estado e a cidade do Rio de Janeiro construíram hospitais de campanha direcionados a pacientes com suspeita ou confirmação de COVID-19. No entanto, essas unidades ainda não estão em funcionamento, já que faltam aparelhos e profissionais de saúde para atender os pacientes.

Ainda em março, o prefeito do Rio, Marcelo Crivella (Republicanos) anunciou um hospital de campanha no Riocentro – espaço de convenção, na capital. No entanto, mais de um mês depois, o espaço, que já foi inaugurado, segue sem funcionar. Isso porque a administração municipal está aguardando a chegada de 200 respiradores e 40 monitores da China. Ao todo, o hospital conta com 100 leitos de UTI e mais de 400 de clínica médica. A expectativa é de que o espaço comece a receber pacientes em 1º de maio.
Já em relação a médicos e enfermeiros, Crivella diz que está fazendo contatos com prefeitos de cidades e governadores de estados menos impactados pela doença para que ajudem a suprir a escassez de profissionais de saúde. Na quarta-feira, a prefeitura abriu edital para contratar 3.922 profissionais que atuarão na linha de frente do combate ao coronavírus.

Além do Riocentro, foi inaugurado, no sábado, um hospital de campanha no Bairro Leblon. A unidade é custeada pela iniciativa privada e conta com 200 leitos, sendo 100 de UTI. Outros 400 leitos serão destinados ao Maracanã, que tem previsão de abertura nos primeiros dias de maio.

Por fim, a Secretaria de Estado informou que vai disponibilizar outros 1,8 mil leitos em 8 hospitais de campanha e um modular, que serão inaugurados de forma gradativa no mês de maio em várias regiões do estado, de acordo com a evolução da pandemia. Enquanto os hospitais não ficam prontos ou os aparelhos e médicos não chegam, a população fluminense tem que torcer para não ser infectada pelo vírus.

*Estagiário sob supervisão da subeditora Rachel Botelho

Quatro perguntas para...

(foto: Reprodução/ Redes Sociais)
(foto: Reprodução/ Redes Sociais)
Alberto Chebabo
vice-presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia e diretor médico do hospital da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)*

A situação do Rio de Janeiro é preocupante. É possível que o estado siga os passos do Amazonas?

Manaus é a situação mais crítica do Brasil atualmente, teve um colapso da rede. A gente vê o Rio de Janeiro e São Paulo como uma situação preocupante, mas São Paulo ainda tem uma rede hospitalar um pouco maior do que o Rio de Janeiro, mas também uma população maior. Aqui no Rio de Janeiro ainda estamos com curva ascendente de casos com uma perspectiva de que o pico aconteça nas próximas duas semanas e, ainda em maio, uma manutenção muito grande desse pico. A preocupação maior é se a gente vai conseguir abrir todos esses leitos que estão sendo planejados. Se conseguirmos, vamos dar conta de atender, mas se não, certamente vamos entrar em colapso também.

Por que os hospitais de campanha não foram abertos até hoje?

Eles não estão operando justamente pela necessidade de profissionais de saúde. Há uma dificuldade de conseguir funcionários de saúde para trabalhar em hospitais, tanto nos de campanha, quanto nos que já têm contratação aberta. Nesse momento, a maior questão nem são os respiradores, apesar de isso poder ser um problema se a gente realmente conseguir abrir todos os leitos. Nesse momento, não são os respiradores que estão afetando os hospitais. Você pode dizer que um ou outro hospital tem alguma dificuldade. A maior dificuldade para abrir leitos atualmente é a questão de profissionais de saúde.

Como está sendo o trabalho do senhor diariamente?

Trabalho no hospital universitário e a gente está atuando no atendimento de leitos específicos para COVID-19. Atualmente, estamos trabalhando para abrir mais vagas. Assim que tivermos mais profissionais de saúde, queremos abrir 60 leitos de CTIs específicos e pouco mais de 60 leitos de enfermaria. Hoje temos 21 leitos de enfermaria e em torno de 25 de CTI. Recebemos algumas doações de empresários e sociedade civil para estruturar esses leitos e estamos recebendo profissionais de saúde entre o Ministério da Saúde, a Prefeitura do Rio de Janeiro e a UFRJ. Os recursos são do Ministério da Saúde e a contratação via Rio Saúde.

Isolamento ou voltar à rotina?

Estamos em isolamento, apesar de vermos um relaxamento maior da população. Aqui, a prefeitura ainda está mantendo o distanciamento social, sabendo que as próximas semanas serão críticas e o isolamento é necessário. O governo do estado está avaliando, mas provavelmente não deve abrir, porque estamos tendo um número muito grande de casos aqui na cidade. Defendo o isolamento; não temos condições no momento de sair dele. Essa é a única medida que temos para conseguir atender adequadamente o número de pessoas que está chegando aos hospitais. Se o número de casos aumentar abruptamente, vamos , com certeza o colapso, nos próximos dias. (PL)

*Apesar de ser uma unidade de saúde federal, o hospital da UFRJ não está envolvido na ação judicial movida pelo governo do Rio de Janeiro, já que é ligado ao Ministério da Educação e não ao da Saúde
 

O que é o coronavírus?

Coronavírus são uma grande família de vírus que causam infecções respiratórias. O novo agente do coronavírus (COVID-19) foi descoberto em dezembro de 2019, na China. A doença pode causar infecções com sintomas inicialmente semelhantes aos resfriados ou gripes leves, mas com risco de se agravarem, podendo resultar em morte.

Como a COVID-19 é transmitida?

A transmissão dos coronavírus costuma ocorrer pelo ar ou por contato pessoal com secreções contaminadas, como gotículas de saliva, espirro, tosse, catarro, contato pessoal próximo, como toque ou aperto de mão, contato com objetos ou superfícies contaminadas, seguido de contato com a boca, nariz ou olhos.

Como se prevenir?

A recomendação é evitar aglomerações, ficar longe de quem apresenta sintomas de infecção respiratória, lavar as mãos com frequência, tossir com o antebraço em frente à boca e frequentemente fazer o uso de água e sabão para lavar as mãos ou álcool em gel após ter contato com superfícies e pessoas. Em casa, tome cuidados extras contra a COVID-19.

Quais os sintomas do coronavírus?

Confira os principais sintomas das pessoas infectadas pela COVID-19:

  • Febre
  • Tosse
  • Falta de ar e dificuldade para respirar
  • Problemas gástricos
  • Diarreia


Em casos graves, as vítimas apresentam:

  • Pneumonia
  • Síndrome respiratória aguda severa
  • Insuficiência renal

Mitos e verdades sobre o vírus

Nas redes sociais, a propagação da COVID-19 espalhou também boatos sobre como o coronavírus é transmitido. E outras dúvidas foram surgindo: O álcool em gel é capaz de matar o vírus? O coronavírus é letal em um nível preocupante? Uma pessoa infectada pode contaminar várias outras? A epidemia vai matar milhares de brasileiros, pois o SUS não teria condições de atender a todos? Fizemos uma reportagem com um médico especialista em infectologia e ele explica todos os mitos e verdades sobre o coronavírus.

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