“Choro, cansaço e fadiga alguns dos sintomas que estamos sentindo por conta da sobrecarga. Há 10 dias não vejo minha filha”. Thiago Saldanha dos Santos é enfermeiro, trabalha no Serviço de Atendimento Médico de Urgência (Samu) e é um dos muitos profissionais da saúde que estão na linha de frente contra a COVID-19 em Pernambuco. Ele enfrenta plantões de até 72 horas de trabalho para tentar suprir a demanda. Isso porque Pernambuco é o terceiro estado em número de casos – fica atrás apenas de São Paulo e do Rio de Janeiro. E já atua no limite.
O estado enfrenta problemas de unidade de terapia intensiva (UTI) lotadas, médicos sobrecarregados, falta de equipamentos de proteção individual (EPI) e o afastamento um grande número de profissionais de saúde que contraíram o novo coronavírus. Em meio ao avanço, cemitérios de Recife e Olinda abriram sepulturas extras para alocar os mortos. Três profissionais de saúde, que trabalham na linha de frente no combate ao novo coronavírus contam sobre as principais dificuldades enfrentadas no estado.
Thiago Saldanha trabalha na capital de Recife e disse que a situação do novo coronavírus está “a cada dia pior". Ele explica que unidades estão encerrando plantões por conta de falta de leito e de falta de respiradores. “Em certas situações, não tem onde se colocar um paciente que necessita de uma simples fonte de oxigênio – sobrecarregando o serviço e os profissionais que nela atuam", relata. Segundo ele, o Samu está trabalhando “no limite”.
Essa também é a sensação do médico Gabriel Aureliano Serrano, infectologista que trabalha na linha de frente em hospitais de Recife. “Temos uma lotação de quase 100% dos leitos reservados para COVID-19, mas mais leitos estão programados para serem abertos”. Ele relata que pacientes já estão sendo levados para leitos de municípios do interior do estado... Porém, ele destaca que, quanto aos leitos do interior, não demorará muito pra ocupá-los. “São poucos, infelizmente. Mal dá pras suas próprias populações”, disse ele.
Os depoimentos ilustram a realidade dos números. De acordo com uma matéria publicada pelo site UOL, o estado tem 327 leitos de UTI destinados ao combate à COVID-19, sendo que a taxa de ocupação supera os 97%. Com 508 mortes, Pernambuco apresenta alto índice de letalidade pela doença: 8,87% em relação aos 5.724 casos confirmados. Os números foram divulgados pelo Ministério da Saúde no fim da tarde desta terça-feira (28)
Os números preocupam, isso porque o pico – dias que terão maior número de infectados – ainda não foi alcançado. “Atualmente, aparentemente, o estado passa pelo início da elevação do número de infectados, sendo possível notar isso inclusive no número de colegas infectados que costumam me ligar, por exemplo”, disse. Isso segue, de acordo com ele, a programação matemática, que projeta esse pico para acontecer na décima nona semana do ano, aproximadamente na segunda ou terceira semana de maio.
Mas, o que preocupa bastante é a quantidade de profissionais de saúde infectados. "São colegas de trabalho e enfermeiros", disse o infectologista. Segundo ele, existem unidades de saúde com metade do corpo de enfermagem afastada por COVID-19. O enfermeiro que trabalha no Samu afirma que a situação é complicada. "Colegas entrando de atestado e se afastando das suas atividades. Há um grande número desses profissionais que adoeceram, confirmaram a infecção pelo coronavírus e apresentaram sintomas graves”, disse. Na sexta-feira, ele lamenta em contar que se deparou com uma "situação ímpar" no qual os profissionais tiveram que “escolher quem vive e quem morre.”
Segundo o infectologista um dos principais problemas é a quantidade de testes. “Estamos testando muito pouco, em todo o país, mas aqui bem menos do que outros estados. Passamos muito tempo testando apenas as pessoas mais graves, ou utilizando os exames pra investigar óbitos suspeitos, o que tem o intuito correto frente à escassez de exames – mas essa escassez não deveria ter acontecido. O reflexo disso é a alta porcentagem de mortalidade, porém, isso é esperado, quando temos a testagem apenas de pessoas graves, que têm uma maior probabilidade de evoluir ao óbito”, disse.
Na segunda-feira da semana passada, os cemitérios que abriram novas sepulturas foram o Parque das Flores e Santo Amaro, na capital pernambucana, e de Guadalupe, em Olinda. Imagens aéreas, feitas pela TV Globo, mostram as aberturas de novas covas.
A enfermeira Karina Saldanha dos Santos Silva é irmã do Thiago e trabalho na rede privada, coordenando a equipe da assistência na parte de diagnósticos. Ela explica sobre o isolamento em Recife, que segundo pesquisas, foi a cidade que saiu em segundo lugar na adesão ao isolamento. “Tenho visto poucas pessoas. O governo e a prefeitura estão reforçando e enfatizando a adesão À quarentena com pronunciamentos, propagandas e campanhas”, disse. Só está aberto o comércio de itens essências, mesmo assim, com medidas de segurança, com redução de espaço no estacionamento dos estabelecimentos, higienização das mãos e carrinhos de compras nós supermercados, distanciamento nas filas.
O estado todo passou a adotar medidas restritivas mais intensas para conter a disseminação do coronavírus a partir da segunda quinzena de março e o monitoramento da eficiência das ações tem contado com o apoio de soluções tecnológicas do próprio estado. A In Loco, empresa pernambucana de geolocalização, está usando uma base com mais de um milhão de pessoas abrangendo todo o estado, sendo 700 mil só no Recife, para mapear os locais que estão respeitando as medidas de isolamento social. No ranking entre os estados com maior índice de isolamento, Pernambuco ocupava o segundo lugar no início do mês, conforme mostrou o Diário de Pernambuco.
A prefeitura também não está medindo esforços. A capital passou a utilizar sistemas de localização de celulares dos moradores do Recife para coordenar ações de incentivo ao isolamento social. Para reforçar o incentivo para que a população permaneça reclusa a seus lares, a administração municipal também passou a adotar uma nova estratégia para reforçar as medidas educativas: a utilização de drones com mensagens de áudio para localidades de difícil acesso.
Entretanto, Thiago explica que no dia a dia do seu trabalho tem visto pelos locais em que passa, principalmente nas periferias, muitas pessoas ainda nas ruas não se dando conta do real perigo da situação “Alguns por falta de conhecimento chegam até relatar que isso é uma simples gripe e na verdade em algumas situações estamos até escolhendo quem vive e quem morre”, disse.
No Recife, dados do Ministério da Saúde divulgados na tarde desta terça-feira (28) mostram que a capital de Permanbuco tem 2,972 casos confirmados, com 197 mortes pela COVID-19. Até 25 de abril de 2020, foram confirmados 2.722 casos de COVID-19, sendo 867 casos leves da doença e 1.855 casos de SRAG, destes 182 evoluíram para o óbito, o que representou um aumento de 9,6% dos casos leves da doença, 4,5% dos casos graves e 12,3% dos óbitos, em relação ao dia anterior. Jailson Correia é o secretário de saúde de Recife e foi ouvido pelo Estado de Minas.
“Recife é uma cidade de 165 milhões de habitantes e está cravada no coração de uma região metropolitana com mais de 4 milhões. É uma capital que tem aeroporto internacional, um fluxo de pessoas muito grande, com influência que vai além dos limites do estado de Pernambuco. E, isso, faz com que Recife seja uma cidade de risco devido ao padrão de mobilidade para doenças infectocontagiosas”, explicou o secretário. Em 26 de fevereiro de 2020, foi notificado o primeiro caso suspeito de COVID-19 no Recife. Desde então, o município confirmou os primeiros casos importados em 12 de março, o primeiro de transmissão local em 14 de março e de transmissão comunitária em 17 de março.
O secretário pontua que a situação é “crítica”, mas que as autoridades não medem esforços para o combate do novo coronavírus. “Então, temos feito um esforço muito grande para ficar na frente da evolução do número de casos e, especialmente, de casos graves, naquilo que diz respeito à geração de leitos de unidade de terapia intensiva (UTI) para que não vejamos o sistema entrar em colapso como em outras localidades.”
Esta semana, a prefeitura inaugurou o sexto hospital de campanha na área externa do Hospital da Mulher do Recife (HMR). A estrutura conta com 120 leitos de enfermaria – que se somam aos leitos de enfermaria e de UTIs já abertos na área interna do hospital no fim de março. “Podemos dizer hoje que estão prontos 947 leitos como parte desse esforço e sempre com muita mobilização”, afirmou.
Ele explica que o trabalho da capital é feito ao lado do governo do estado. “Estamos juntos todos os dias até em coletiva de imprensa – situação pouco frequente no país em que a capital e o governo estadual tem dificuldade para se relacionar. Aqui estamos sempre muito alinhados”, acrescentou.
Entre as maiores dificuldades enfrentadas estão: compra de máscaras e equipamentos de segurança, aquisição de respiradores e as incertezas quanto a doença. “A dificuldade é lidar com as incertezas quanto à ciência. Eu tenho uma responsabilidade como secretário, como um cientista de formação, como pesquisador na área de infectologia, de fazer com que as nossas decisões tomadas aqui possam sempre se pautar pelas melhores evidências científicas disponíveis para aquele momento”, acrescentou.
O estado enfrenta problemas de unidade de terapia intensiva (UTI) lotadas, médicos sobrecarregados, falta de equipamentos de proteção individual (EPI) e o afastamento um grande número de profissionais de saúde que contraíram o novo coronavírus. Em meio ao avanço, cemitérios de Recife e Olinda abriram sepulturas extras para alocar os mortos. Três profissionais de saúde, que trabalham na linha de frente no combate ao novo coronavírus contam sobre as principais dificuldades enfrentadas no estado.
Thiago Saldanha trabalha na capital de Recife e disse que a situação do novo coronavírus está “a cada dia pior". Ele explica que unidades estão encerrando plantões por conta de falta de leito e de falta de respiradores. “Em certas situações, não tem onde se colocar um paciente que necessita de uma simples fonte de oxigênio – sobrecarregando o serviço e os profissionais que nela atuam", relata. Segundo ele, o Samu está trabalhando “no limite”.
Essa também é a sensação do médico Gabriel Aureliano Serrano, infectologista que trabalha na linha de frente em hospitais de Recife. “Temos uma lotação de quase 100% dos leitos reservados para COVID-19, mas mais leitos estão programados para serem abertos”. Ele relata que pacientes já estão sendo levados para leitos de municípios do interior do estado... Porém, ele destaca que, quanto aos leitos do interior, não demorará muito pra ocupá-los. “São poucos, infelizmente. Mal dá pras suas próprias populações”, disse ele.
Os depoimentos ilustram a realidade dos números. De acordo com uma matéria publicada pelo site UOL, o estado tem 327 leitos de UTI destinados ao combate à COVID-19, sendo que a taxa de ocupação supera os 97%. Com 508 mortes, Pernambuco apresenta alto índice de letalidade pela doença: 8,87% em relação aos 5.724 casos confirmados. Os números foram divulgados pelo Ministério da Saúde no fim da tarde desta terça-feira (28)
Esgotamento
Os números preocupam, isso porque o pico – dias que terão maior número de infectados – ainda não foi alcançado. “Atualmente, aparentemente, o estado passa pelo início da elevação do número de infectados, sendo possível notar isso inclusive no número de colegas infectados que costumam me ligar, por exemplo”, disse. Isso segue, de acordo com ele, a programação matemática, que projeta esse pico para acontecer na décima nona semana do ano, aproximadamente na segunda ou terceira semana de maio.
Mas, o que preocupa bastante é a quantidade de profissionais de saúde infectados. "São colegas de trabalho e enfermeiros", disse o infectologista. Segundo ele, existem unidades de saúde com metade do corpo de enfermagem afastada por COVID-19. O enfermeiro que trabalha no Samu afirma que a situação é complicada. "Colegas entrando de atestado e se afastando das suas atividades. Há um grande número desses profissionais que adoeceram, confirmaram a infecção pelo coronavírus e apresentaram sintomas graves”, disse. Na sexta-feira, ele lamenta em contar que se deparou com uma "situação ímpar" no qual os profissionais tiveram que “escolher quem vive e quem morre.”
Segundo o infectologista um dos principais problemas é a quantidade de testes. “Estamos testando muito pouco, em todo o país, mas aqui bem menos do que outros estados. Passamos muito tempo testando apenas as pessoas mais graves, ou utilizando os exames pra investigar óbitos suspeitos, o que tem o intuito correto frente à escassez de exames – mas essa escassez não deveria ter acontecido. O reflexo disso é a alta porcentagem de mortalidade, porém, isso é esperado, quando temos a testagem apenas de pessoas graves, que têm uma maior probabilidade de evoluir ao óbito”, disse.
Na segunda-feira da semana passada, os cemitérios que abriram novas sepulturas foram o Parque das Flores e Santo Amaro, na capital pernambucana, e de Guadalupe, em Olinda. Imagens aéreas, feitas pela TV Globo, mostram as aberturas de novas covas.
Isolamento social
A enfermeira Karina Saldanha dos Santos Silva é irmã do Thiago e trabalho na rede privada, coordenando a equipe da assistência na parte de diagnósticos. Ela explica sobre o isolamento em Recife, que segundo pesquisas, foi a cidade que saiu em segundo lugar na adesão ao isolamento. “Tenho visto poucas pessoas. O governo e a prefeitura estão reforçando e enfatizando a adesão À quarentena com pronunciamentos, propagandas e campanhas”, disse. Só está aberto o comércio de itens essências, mesmo assim, com medidas de segurança, com redução de espaço no estacionamento dos estabelecimentos, higienização das mãos e carrinhos de compras nós supermercados, distanciamento nas filas.
O estado todo passou a adotar medidas restritivas mais intensas para conter a disseminação do coronavírus a partir da segunda quinzena de março e o monitoramento da eficiência das ações tem contado com o apoio de soluções tecnológicas do próprio estado. A In Loco, empresa pernambucana de geolocalização, está usando uma base com mais de um milhão de pessoas abrangendo todo o estado, sendo 700 mil só no Recife, para mapear os locais que estão respeitando as medidas de isolamento social. No ranking entre os estados com maior índice de isolamento, Pernambuco ocupava o segundo lugar no início do mês, conforme mostrou o Diário de Pernambuco.
A prefeitura também não está medindo esforços. A capital passou a utilizar sistemas de localização de celulares dos moradores do Recife para coordenar ações de incentivo ao isolamento social. Para reforçar o incentivo para que a população permaneça reclusa a seus lares, a administração municipal também passou a adotar uma nova estratégia para reforçar as medidas educativas: a utilização de drones com mensagens de áudio para localidades de difícil acesso.
Entretanto, Thiago explica que no dia a dia do seu trabalho tem visto pelos locais em que passa, principalmente nas periferias, muitas pessoas ainda nas ruas não se dando conta do real perigo da situação “Alguns por falta de conhecimento chegam até relatar que isso é uma simples gripe e na verdade em algumas situações estamos até escolhendo quem vive e quem morre”, disse.
Recife vive situação crítica
No Recife, dados do Ministério da Saúde divulgados na tarde desta terça-feira (28) mostram que a capital de Permanbuco tem 2,972 casos confirmados, com 197 mortes pela COVID-19. Até 25 de abril de 2020, foram confirmados 2.722 casos de COVID-19, sendo 867 casos leves da doença e 1.855 casos de SRAG, destes 182 evoluíram para o óbito, o que representou um aumento de 9,6% dos casos leves da doença, 4,5% dos casos graves e 12,3% dos óbitos, em relação ao dia anterior. Jailson Correia é o secretário de saúde de Recife e foi ouvido pelo Estado de Minas.
“Recife é uma cidade de 165 milhões de habitantes e está cravada no coração de uma região metropolitana com mais de 4 milhões. É uma capital que tem aeroporto internacional, um fluxo de pessoas muito grande, com influência que vai além dos limites do estado de Pernambuco. E, isso, faz com que Recife seja uma cidade de risco devido ao padrão de mobilidade para doenças infectocontagiosas”, explicou o secretário. Em 26 de fevereiro de 2020, foi notificado o primeiro caso suspeito de COVID-19 no Recife. Desde então, o município confirmou os primeiros casos importados em 12 de março, o primeiro de transmissão local em 14 de março e de transmissão comunitária em 17 de março.
O secretário pontua que a situação é “crítica”, mas que as autoridades não medem esforços para o combate do novo coronavírus. “Então, temos feito um esforço muito grande para ficar na frente da evolução do número de casos e, especialmente, de casos graves, naquilo que diz respeito à geração de leitos de unidade de terapia intensiva (UTI) para que não vejamos o sistema entrar em colapso como em outras localidades.”
Esta semana, a prefeitura inaugurou o sexto hospital de campanha na área externa do Hospital da Mulher do Recife (HMR). A estrutura conta com 120 leitos de enfermaria – que se somam aos leitos de enfermaria e de UTIs já abertos na área interna do hospital no fim de março. “Podemos dizer hoje que estão prontos 947 leitos como parte desse esforço e sempre com muita mobilização”, afirmou.
Ele explica que o trabalho da capital é feito ao lado do governo do estado. “Estamos juntos todos os dias até em coletiva de imprensa – situação pouco frequente no país em que a capital e o governo estadual tem dificuldade para se relacionar. Aqui estamos sempre muito alinhados”, acrescentou.
Entre as maiores dificuldades enfrentadas estão: compra de máscaras e equipamentos de segurança, aquisição de respiradores e as incertezas quanto a doença. “A dificuldade é lidar com as incertezas quanto à ciência. Eu tenho uma responsabilidade como secretário, como um cientista de formação, como pesquisador na área de infectologia, de fazer com que as nossas decisões tomadas aqui possam sempre se pautar pelas melhores evidências científicas disponíveis para aquele momento”, acrescentou.