O processo de desmatamento da Amazônia parece seguir alheio ao caos nos sistemas de saúde dos Estados da região com a pandemia do coronavírus. Os alertas de corte raso de floresta feitos pelo sistema Deter, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), voltaram a apresentar alta no mês de abril, em relação ao mesmo mês do ano passado. Foram derrubados 405,61 km² de floresta entre 1º e 30 de abril, ante 247,39 km² no mesmo período de 2019, uma alta de 64%.
De acordo com o Deter, de janeiro a abril deste ano já foram perdidos 1.202 km² de florestas, valor 55% superior ao observado no mesmo período do ano passado, de 773 km².
Considerando o período desde 1º de agosto, quando começa a ser considerado o ano do desmatamento, a intensificação do processo de desmatamento fica ainda mais evidente.
O corte raso atingiu até 30 de abril 5.666 km² - valor impulsionado principalmente pelos meses de agosto e setembro do ano passado, que registraram um desmate intenso. Entre agosto de 2018 e abril de 2019, os alertas haviam indicado 2.914 km² desmatados. O aumento é de 94%.
O aumento ocorre ao mesmo tempo em que coordenadores de fiscalização do Ibama foram exonerados após uma operação que destruiu equipamentos de garimpeiros. O assunto foi um dos temas de conversa entre o presidente Jair Bolsonaro e o ex-ministro Sergio Moro, flagrada na tela do celular do presidente. Também está em curso o debate no Congresso de uma medida provisória sobre regularização fundiária, a MP 910, apelidada de MP da grilagem.
Sistemas
O Deter é um sistema de alertas em tempo real, que servem para orientar a fiscalização em campo. Apesar de ser uma ferramenta ágil, não é extremamente precisa e acaba não vendo tudo, principalmente quando há muitas nuvens. Mas é um indicador do que está ocorrendo em campo. O Prodes, o outro sistema do Inpe que traz a taxa oficial do desmatamento, em geral confirma a tendência apontada pelo Deter.
Em 2019, foram os indicativos trazidos pelo Deter que mostraram que, no primeiro ano da gestão Bolsonaro, estava havendo uma retomada preocupante do desmatamento, o que acabou levando à queda do então diretor do Inpe, Ricardo Galvão. As queimadas que chamaram a atenção de todo o mundo em agosto revelaram que havia uma quantidade enorme de floresta previamente derrubada que naquela ocasião pegava fogo. Em novembro, o Prodes bateu o martelo: o desmatamento havia subido quase 30% no ano.