Depois de ver grande parte de sua família infectada pelo novo coronavírus (COVID-19) e perder o pai para a doença, o vereador de Belém Sargento Silvano (PSD) mudou de opinião sobre o enfrentamento à pandemia. Desde o fim de março, quando defendia publicamente o fim do isolamento social e a abertura do comércio na capital do Pará, o parlamentar e pelo menos outros 10 familiares tiveram testes positivos. A luta contra o vírus mudou a atitude do político, antes defensor do presidente Jair Bolsonaro, que passou a criticar as decisões do Planalto.
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'Teremos lockdown se houver necessidade', afirma DoriaSociedade de Imunologia diz que é 'precoce' uso de cloroquina para COVID-19Prefeitura do Rio vai adquirir contêineres frigoríficos para hospitaisBolsonaro chama patrimônio arqueológico brasileiro de 'cocô de índio' e choca estudiososDeputado do PSL, Gil Vianna, morre de COVID-19 no Rio de Janeiro"Tive COVID-19 e foi muito ruim me sentir como paciente"Já a partir de 12 de abril, Silvano mudou o discurso. “Eu estou do lado da ciência e não de políticos. Ainda acredito nos médicos, até que provem o contrário”, disse. Mas foi de 20 de abril em diante que o vereador começou a combater as falas do presidente. “Isso não é uma gripinha, como disse o Bolsonaro. O presidente mente para o povo brasileiro. Bolsonaro perdeu o meu respeito! Falo de tudo que tenho sofrido com minha família nesses últimos dias. Misericórdia Deus”, publicou.
Criticado por apoiadores de Bolsonaro pelos comentários, Silvano, que ainda não havia sido infectado, reagiu mantendo sua nova posição e pedindo orações para a melhora na saúde de familiares, entre eles a esposa e o pai, internados. “Entre defender um lado político e minha família, não terei dúvida em escolher minha casa. A verdade precisa ser dita ao povo brasileiro. O COVID-19 mata, e está matando muita gente. Abre os teus olhos pelo amor de Deus”, escreveu.
Em 24 de abril, depois de contrair e se recuperar do vírus, Silvano foi mais enfático em oposição ao presidente. “Sentido-me decepcionado com o presidente. Como ex paciente de COVID-19, e agora com a saída do Moro, foi o fim de tudo. Daqui a pouco, se continuar assim, vou começar a gritar #ForaBolsonaro”, disse. O pai do vereador ficou internado cerca de um mês com a doença e não resistiu.
“Agora defendo o lockdown. Meu pai, por exemplo, construiu um patrimônio, mas quando foi enterrado não levou nem a roupa do corpo. Foi enterrado no lençol do hospital e em um saco. O que significa isso? Que defendo o isolamento e lockdown. O emprego é importante, mas se tu morrer, vai sem nada, como aconteceu com meu pai. Estão brigando para abrir o comércio, mas se tu morrer, não vai levar nada, amigo", afirmou Silvano ao UOL.
“Sou totalmente contra o Bolsonaro hoje, por uma postura louca dele, sem limites. Consegui graças a Deus abrir os meus olhos. Quem fala isso é um cara que deu um título a ele e o conhecia antes de ser candidato, ainda em 2017. Ninguém falava dele e tínhamos um relacionamento bom. Cheguei a andar com ele pelo Pará”, comentou o vereador.
“Fiquei muito triste com a postura dele, totalmente contrária da realidade, que é o pobre morrendo e o governo federal não investindo o recurso necessário. É fácil criticar quando o problema não chega na sua casa. Minha posição hoje é humanitária e não política. Luto hoje a favor da vida. Se as pessoas estão morrendo, tenho que esquecer o Bolsonaro. Que os críticos não sintam na pele a perda de um pai”, complementou em entrevista ao portal.