A liberação do uso do medicamento foi assinado pelo ministro-interino da Saúde, general Eduardo Pazuello, que está no cargo desde quando Nelson Teich deixou o comando da pasta, na última sexta-feira (15). Um dos pontos determinantes para a saída de Teich foi justamente a utilização da cloroquina, ferrenhamente defendida pelo presidente Jair Bolsonaro. Antecessor de Teich no cargo, Luiz Henrique Mandetta também saiu da pasta por discordâncias a Bolsonaro.
O Ministério da Saúde, no protocolo anterior, publicado em março, liberou o uso da cloroquina somente em pacientes em estado grave em função do coronavírus. O medicamento era fornecido como complemento a outros métodos utilizados no tratamento de pessoas com COVID-19, como assistência ventilatória, que nada mais é que o uso dos respiradores.
Com o novo protocolo, casos leves de coronavírus poderão ser enfrentados com a cloroquina, mediante assinatura de um termo de consentimento por parte do paciente. O documento, no entanto, ressalta que não há garantia de resultados positivos e que não há estudos que comprovam a eficácia do medicamento.
O paciente que assinar o termo de consentimento, de acordo com o documento, deve estar ciente que a cloroquina pode causar efeitos colaterais que podem resultar em "disfunção grave de órgãos, ao prolongamento da internação, à incapacidade temporária ou permanente, e até ao óbito".
Na noite dessa terça (19), Bolsonaro, em entrevista ao Blog do Magno, afirmou que "toma o remédio quem quer", fazendo até uma piada com o medicamento.
"Quem for de direita toma cloroquina, quem for de esquerda toma Tubaína", disse o presidente.
Também na data de ontem, o Brasil registrou um triste recorde de novas mortes, com 1.179 vidas perdidas notificadas pelo Ministério da Saúde em 24 horas. O país já contabiliza 17.971 óbitos. Ao todo, 271.628 casos confirmados de COVID-19.
Estudos apontam baixa eficácia
De acordo com os resultados dos dois maiores estudos já realizados com a cloroquina para o tratamento do coronavírus, o medicamento não trouxe benefícios práticos, como a redução na letalidade ou no tempo de internação. Outro problema são os efeitos colaterais, como a arritmia cardíaca, que levaram a Associação Médica Americana a emitir um comunicado pedindo que o uso da cloroquina fosse limitado a estudos clínicos e dentro de hospitais sob rigoroso controle.
Conforme publicado no Journal of the American Medical Association (JAMA), uma dessas pesquisas analisou dados de 1.438 pacientes infectados pelo coronavírus entre 15 de março e 24 de abril em hospitais de Nova York. O objetivo era saber se havia diferença na taxa de mortalidade entre quatro grupos: os que foram tratados apenas com a hidroxicloroquina (derivado da cloroquina com menor toxicidade); os que receberam o medicamento associada à azitromicina (um antibiótico); os que tomaram apenas a azitromicina; e os que não receberam nenhum medicamento. A conclusão deste estudo é que não houve diferença significativa entre a taxa de letalidade observada entre os quatro grupos.
O outro estudo foi publicado no New England Journal of Medicine (NEJM). Realizado com 1.376 pacientes americanos infectados pelo coronavírus, foi observado o resultado de tratamentos com e sem hidroxicloroquina. Assim, 811 pacientes foram medicados por cerca de cinco dias com a hidroxicloroquina e 565 pacientes não receberam o remédio. A pesquisa foi concluída em 25 de abril, quando os autores indicaram que pacientes com e sem o tratamento apresentavam o mesmo risco de morrer. Apesar disso, ambos os estudos usaram uma metodologia limitada, sem um controle de classificação dos grupos, sendo necessárias pesquisas complementares para confirmar os resultados. Levantamentos deste tipo estão em andamento em diversos países. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), ainda não existe nenhum tratamento comprovado contra o coronavírus.