Jornal Estado de Minas

COVID-19

"Deveria ter havido isolamento mais agressivo desde o começo"

Ana Raquel Lelles*

Pernambuco registrou, ontem, 1.318 novos casos de infecção pelo novo coronavírus, segundo a Secretaria de Saúde do estado.  Com o avanço, o número de pessoas contaminadas pulou para 21.274 e as mortes já chegam a 1.745, das quais 95 a mais em um único dia. A capital, Recife, é o epicentro da doença respiratória. O médico infectologista Felipe Prohaska, da Universidade Federal de Pernambuco, não tem dúvidas de que uma série de características da cidade facilitam a disseminação do vírus.



“Primeiro, porque é uma cidade turística, tem um carnaval bem popular no estado e recebe pessoas de todo o país. Outra coisa é a questão habitacional, visto que Recife, comparada com outras capitais do Brasil, tem mais favelas. Mais de 40% da população vivem em condições de higiene sanitária deficientes”, explica o infectologista.

Embora não acredite que a disseminação do vírus em Recife tenha começado no carnaval, em fevereiro, Rafael Prohaska afirma que medidas sanitárias mais severas deveriam ter sido implantadas no município desde o início da pandemia do novo coronavírus no estado. “Acho é que deveria ter sido feito um isolamento mais agressivo desde o começo, e não, simplesmente o fechamento das escolas e do comércio e acharmos, assim, que tudo estava resolvido” critica.

Entretanto, Felipe afirma que o estado “poderia estar em uma situação muito pior do que está hoje” caso não tivesse havido a paralisação do comércio e das escolas. Há três dias em bloqueio total, Recife registrou mais de 66% da população dentro de casa. Olinda foi a segunda cidade com a maior porcentagem de pessoas em quarentena, totalizando 65,3%. 



Além da capital e da cidade do frevo, outros quatro municípios pernambucanos que também estão em lockdown, marcaram mais de 60% da população em isolamento social. O estado deve permanecer em bloqueio total até dia 31.

Com essa média de adesão à quarentena, Pernambuco é o estado do Brasil que tem a porcentagem mais próxima dos 70%, considerado ideal pelos especialistas para controlar a pandemia e manter a segurança da população brasileira. Entretanto, o novo coronavírus está se disseminando rapidamente pelos municípios pernambucanos, segundo o secretário estadual de Saúde, André Longo.

Dificuldades 

Para o infectologista Felipe Prohaska, a maior dificuldade de conter o avanço do vírus está na “porta de entrada” da COVID-19. “Imagine uma grande quantidade de pacientes, principalmente na atenção básica e secundária, que são as UPAs (unidades de pronto-atendimento) e as unidades de Saúde. Essas unidades ficam sobrecarregadas e demoram para dar suporte ao paciente. Dessa forma, eles entram em tratamento num hospital terciário de forma tardia, já no sétimo dia de sintomas”, explica o médico.

Felipe conta que têm sido feito testes de todas as doenças respiratórias agudas graves em Pernambuco. Na avalição do infectologista, “o resultado de testes estão saindo relativamente rápido, comparado aos de outros estados brasileiros”.

*Estagiária sob supervisão da subeditora Marta Vieira