Jornal Estado de Minas

Nova tecnologia de mini-cápsulas de 'Aedes do Bem' pode suprimir 95% do mosquito

A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que 390 milhões de pessoas são acometidas pela dengue todos os anos, com aproximadamente metade da população mundial em risco. O número de casos de dengue relatados à OMS aumentou mais de 15 vezes nas últimas duas décadas. O Aedes aegypti, um mosquito invasor encontrado em todo o mundo, também transmite zika, chikungunya e febre amarela.

A boa notícia é que o estudo para o uso de mosquitos criados em laboratório para combater o Aedes aegypti avança. Neste mês, foi divulgado o resultado do segundo teste feito com caixas com ovos do inseto criado em laboratório que foram instaladas em diversos ambientes para verificar qual deles permite que os mosquitos nasçam mais rápido. Trata-se da nova fase do programa "Aedes do bem".

“Temos enfrentado epidemias devastadoras de dengue no Brasil e novas ferramentas de controle de vetores são desesperadamente necessárias para auxiliar nossas cidades e comunidades. É por isso que o produto de mini-cápsulas do Aedes do Bem será tão impactante - ele pode fornecer um controle superior e seguro do Aedes aegypti por meio da fácil implantação de minúsculas cápsulas de ovos em caixas que não exigem infraestrutura dispendiosa ou operações complexas. Estamos tornando o controle do Aedes aegypti simples, sustentável e escalável - em outras palavras, é exatamente o que as cidades e comunidades do Brasil precisam neste momento crítico”, disse Natalia Ferreira, diretora geral da Oxitec do Brasil.

A Oxitec usa da engenharia genética para controlar insetos e pragas que espalham doenças e danificam plantações. A empresa foi fundada em 2002 como uma spinout da Universidade de Oxford (Reino Unido) e é formada por uma equipe composta por profissionais de 15 nacionalidades. Inclusive, brasileira. Ela trabalha com o desenvolvimento de soluções biológicas seguras e direcionadas para controlar insetos e anunciou, em 19 de maio, os resultados preliminares de um teste da nova tecnologia de mini-cápsulas do que chamam “Aedes do Bem”. 


No início deste mês, a Agência de Proteção Ambiental dos EUA (EPA) concedeu à Oxitec uma Permissão de Uso Experimental (EUP) para testes de campo dessa mesma tecnologia nos Estados Unidos. Já no Brasil, o teste com a tecnologia de mini-cápsulas que encapsula ovos da linhagem da 2ª geração do "Aedes do bem" foi feito na cidade de Indaiatuba, em São Paulo. 

“A primeira geração fez história no projeto que começou em Piracicaba, em São Paulo. Muita gente se lembra de uma van que passava pelos bairros liberando mosquitos adultos. Foi um projeto que, também, teve bastante sucesso no controle da população de Aedes Aegypti selvagem na cidade. Mas, a Oxitec resolveu inovar para simplificar o processo e, com isso, diminuir os custos do produto. Foi assim que surgiu a cápsula de segunda geração”, afirma a cientista. Isso porque a cápsula contém uma característica dentro da sua genética que é a seleção de machos.

“Então, ao invés de fazer a separação manual de machos e fêmeas e machos adultos, os nossos cientistas incorporaram na genética da segunda geração a característica de seleção de maneira que apenas os machos sobrevivem. As fêmeas morrem na fase larval a partir do cruzamento de um macho e uma fêmea selvagem”, informou. “Isso possibilitou o desenvolvimento de uma cápsula - como se fosse uma cápsula de remédio que a gente manda manipular - e, dentro dela, tem ovos do Aedes do Bem”, completou.


Esses ovos, quando em contato com a água, vão eclodir e dar origem a larvas. As fêmeas vão morrer e apenas os machos se desenvolveram até a fase adulta.Esses machos, ao saírem da caixa, se dispersam no ambiente para acasalar com fêmeas Aedes aegypti selvagens em uma área de até 8 mil metros quadrados. “São seguros, auto-limitantes e não picam”, afirma a cientista.

TESTES FEITOS NO BRASIL Em Indaiatuba, o tratamento envolveu a colocação de mini-cápsulas do Aedes do Bem em propriedades residenciais uma vez por semana, sem ferramentas ou manuseio especiais. Estudo mostra que o esforço gerou rápida supressão do mosquito em uma área onde moram aproximadamente 1 mil pessoas, e demonstrou eficácia da tecnologia na eliminação de larvas fêmeas - validando completamente a biossegurança do produto. 

“Esse foi um resultado preliminar do primeiro resultado que a gente teve com o ensaio de campo. Estamos nos preparando para começar um novo ensaio numa escala maior, além de estarmos preparando para obter a licença e os registros necessários junto aos órgãos governamentais. Esperamos que isso aconteça dentro dos próximos 12 meses”, afirma a cientista.  “A gente está bastante feliz com o resultado e muito animado com essa próxima fase que vai consolidar ainda mais essa tecnologia tão simples e tão acessível”, finalizou.