Jornal Estado de Minas

AVANÇO DA COVID-19

Brasil completa 100 dias de COVID-19 com maior curva ascendente no mundo


O Brasil completou nesta quinta-feira 100 dias desde que registrou o primeiro caso de coronavírus, confirmado pelo Ministério da Saúde em 26 de fevereiro. Desde então, a curva de crescimento de infectados e óbitos no país avança em níveis assustadores, o que preocupa a população e exige ações ainda mais concretas, num momento em que o poder público começar liberar gradualmente as atividades econômicas.



Diferentemente das demais nações que ocupam hoje o top-10 no número de infectados, os brasileiros são os únicos que mantiveram a evolução progressiva depois de 50 dias. É o que mostra uma pesquisa da faculdade de medicina da US Pde Ribeirão Preto, que levou em consideração estatísticas divulgadas pelos países.
 
 
Com o aumento dos casos desde o mês passado, o Brasil assumiu o segundo posto no mundo em contaminações (614.941), atrás apenas dos Estados Unidos, e ocupa o terceiro lugar em mortes (34.021), ficando abaixo dos próprios norte-americanos, além de Reino Unido - ultrapassou a Itália nesta quinta-feira. O cenário pode ser ainda muito pior, já que a Organização Mundial de Saúde (OMS) aponta que o país sul-americano não está no pico máximo da doença, o que deve ocorrer a partir da metade de julho, de acordo com especialistas. 
 
Gráfico mostra que curva no Brasil vem crescendo desde o primeiro caso, enquanto outros países se mantêm estabilizados (foto: Reprodução/USP)

O estudo realizado pela USP mostra que países como China, França, Itália e Espanha, que já foram epicentro de COVID-19 nos meses anteriores, mantiveram uma curva estabilizada depois do 50º dia de pandemia. Com o primeiro caso registrado em 21 de janeiro, até mesmo os Estados Unidos registraram aumentos dentro do previsto na evolução dos casos. Em 11 de março, quando completou 50 dias da doença, o país teve uma taxa de 9.385 infectados por 100 mil habitantes. Em 30 de abril, quando foi o marco dos 100 dias, o número subiu para 10.489. Já o Brasil pulou de 7.982 para 10.008 no período semelhante




 
“Se colocarmos todos os países começando do zero da igual e contar os dias, observamos que o Brasil é o único país do mundo que a partir do 50º dia o número de casos e mortes estava acelerado. Em todos os demais países, houve desaceleração. A partir do 50º, os demais colocaram o pé no frio e nós não. Somos os únicos com os pés no acelerador”, ressalta o professor da USP, Domingos Alves, coordenador da pesquisa. 

Para o especialista, o poder público brasileiro não seguiu corretamente o que foi determinado pelas autoridades de saúde no período mais crítico do coronavírus: “Essa situação perigosa do Brasil que observamos hoje se deve à má gestão da epidemia durante o que todo mundo chamou de medidas de restrição de mobilidade. Nós mantivemos o isolamento por quase dois meses em média por 50% e depois sempre caindo, um índice muito baixo. Hoje, por exemplo, segundo o Instituto In Loco, o Brasil atingiu 39,5% de adesão às medidas de isolamento. E esse é o grande motivo do alto número de contaminações e mortes”.

Desde a semana passada, o Brasil tornou-se o líder mundial em mortes diárias por COVID-19, chegando frequentemente a ultrapassar os 1 mil óbitos por dia. Os registros no país despencam em fins de semana e feriados, por exemplo, em virtude dos regimes de plantão nos centros de saúde e em laboratórios, o que atrasa o repasse das informações. A escassez de testes faz também que óbitos sejam incluídos no balanço apenas semanas depois da morte, pela falta de confirmação do diagnóstico.





Domingos Alves faz outra crítica à postura do poder público, que só toma atitudes concretas depois que a pandemia se alastrou: “Hoje, o boletim brasileiro divulga apenas as pessoas que estão hospitalizadas na prática. Não fazemos testes nos sintomáticos leves e nos assintomáticos. Não estamos monitoramento da forma certa. O motivo de não termos controlados a epidemia e sermos o maior foco no mundo está relacionado à política que foi adotada desde sempre de enfrentamento da epidemia. Há, na realidade, apenas uma política de avaliação das consequências. Quando você vê um gestor que está aumentando leitos ou comprando respiradores, ele está lidando com as consequências e não com as causas”.

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