Jornal Estado de Minas

DESABAFO

Mãe de Miguel: 'Ela (a patroa) não teve nem dez minutos de paciência com meu filho. Sempre tive com o filho dela'

"A ficha está caindo aos poucos, e meu sentimento de dor pela perda de meu filho começa a se misturar com o de raiva. Por que ela não teve 10 minutos de paciência com ele? Por que não o tirou do elevador?", questionou a doméstica Mirtes Renata  de Souza, mãe do menino Miguel Otávio Santana da Silva, de cinco anos.


As perguntas foram em relação à ex-patroa, Sarí Gaspar Côrte Real, esposa do prefeito de Tamandaré, Sérgio Hacker (PSB). Miguel morreu depois de cair do 9º andar de um prédio no Recife. A declaração foi dada durante o programa Encontro com Fátima Bernardes, na Rede Globo, na manhã desta sexta-feira.

Mirtes contou que desceu no elevador social do prédio para levar o cachorro para um passeio rápido, próximo ao prédio, e deixou a criança com sua patroa. "Ele ficou chorando, eu disse pra ele que mamãe já voltaria. Desci e quando cheguei na portaria o encarregado disse que algúem tinha caído do prédio. Senti uma dor forte no peito e quando corri, ví meu filho caido, com os olhinhos fixos sem piscar. Ouvi o coraçãozinho dele batendo. O encarregado pegou a mão dele e fez uma oração."

Muito emocionada, Mirtes disse que não sabia o que tinha acontecido. "Gritei por socorro e algumas pessoas foram chegando. Só depois que enterrei meu filho e cheguei em casa que vi o vídeo. Minha patroa deixou ele subir sozinho no elevador. Ela não teve dez minutos de paciência. A paciência que sempre tive com os filhos dela, que eu tratava como se fossem meus. Por que ela não puxou ele pelo braço. E ainda apertou o botão do elevador para ele chegar ao nono andar."


Mirtes disse que o Samu e a polícia foram acionados, mas como estavam demorando, foi no carro da patroa para o Hospital da Restauração, no bairro do Derby. Ela contou que um médico morador do prédio atestou que ele ainda estava vivo, mas precisava de socorro imediato. A criança morreu asim que deu entrada no hospital.
 
Em prantos, a doméstica contou que se revoltou ao ver o vídeo, onde a criança entrava no elevador e a patroa  "nada fez para que ele não subisse sozinho. Ela diz que vai provar que não apertou o botão do elevador. Mas como deixar uma criança de cinco anos sozinha no elevador?", questionou. "Ele não tinha noção de perigo, poderia ter descido as escadas e se acidentado também. "Por falta de paciência, paciência que eu tive com os filhos dela, meu filho está lá em Bonança (distrito de Moreno, na Região Metropolitana), junto com o tio, enterrado". O irmão de Mirtes morreu em 2015.

A doméstica disse que durante o velório, recebeu a patroa com abraços e não entendeu a reação da irmã, que demonstrou revolta "pedi que ela se acalmasse porque queria paz no velório do meu filho. Não sabia nada do que tinha acontecido. Nem de qual andar tinha caído. Alguém me falou que era acima do sétimo, porque uma funcionária viu algo passando pela janela do sétimo andar mas não identificou que se tratava de uma pessoa."


 
"Depois que enterrei meu filho e cheguei em casa e vi o video e o que realmente aconteceu, me bateu uma angústia. Liguei para ela (a patroa). Por que você deixou ele sozinho, porque não pegou ele pela mão e tirou do elevador? Vi ela com a mão no botão da cobertura mas nção vi se ela apertou". Ela contou que Sarí disse que "provaria que não apertou o botão do elevador. Mas ela deixou ele sozinho".
 
Mirtes Renata de Souza, mãe de Miguel Otávio Santana da Silva,  está registrada como servidora da Prefeitura de Tamandaré, mas trabalhava como doméstica na residência do prefeito Sérgio Hacker Corte Real (PSB) e da primeira-dama. Sarí foi presa em flagrante mas liberada após pagar fiança de R$ 20 mil.
"Se fosse eu, meu rosto estaria estampado, como já vi vários casos na televisão. Meu nome estaria estampado e meu rosto estaria em todas as mídias. Mas o dela não pode estar na mídia, não pode ser divulgado. Se fosse eu, a essa hora, já estava lá no Bom Pastor (Colônia Penal Feminina), apanhando das presas por ter sido irresponsável com uma criança".


 
Na entrevista a Fátima Bernardes ela falou do relacionamento com os filhos do casal, aos quais disse tratar como seus próprios filhos. Disse ainda que Miguel era seu único filho e que sempre o tratou com muito carinho e atenção. "Procurava oferecer o que há de melhor para ele, dentro das minhas condições financeiras. Ele era um menino muito alegre."
 
Disse ainda que sua família está traumatizada com a morte do filho e que a avó de Miguel se revezava com ela no trabalho. Ela qum cuidava da criança quando a mãe saia para o trabalho e que no dia do acidente ela não pode tomar conta do neto. "Eu levei ele para o apartamento" (dos patrões). E disse que já  fizera outras vezes.
 
Entenda o caso
 
Miguel, de 5 anos, estava passando o dia no trabalho da mãe, na terça-feira (2/6), no apartamento localizado no 5º andar do Píer Maurício de Nassau, um dos prédios das Torres Gêmeas, no bairro de São José. A criança faleceu após despencar de uma altura de aproximadamente 35 metros.


 
O primeiro atendimento à vítima foi feito pela mãe e por um médico que mora no edifício, no momento ela ainda estava viva. O SAMU chegou a ser acionado às 13h23, mas quando chegou o menino já estava sendo encaminhado ao Hospital da Restauração, no bairro do Derby, na área central do Recife. Miguel não resistiu e morreu ainda no caminho.
 
Segundo o perito André Amaral, do Instituto de Criminalística, as câmeras de vigilância do prédio registraram imagens da criança saindo sozinha do 5º andar do prédio, pegando o elevador e chegando ao 9º  andar.
 
Na sequência, Miguel teria se dirigido ao hall de máquinas, área comum onde ficam localizados os condensadores dos ar-condicionados daquele pavimento. Esta é a única parte do prédio que não é protegida por telas, e foi de onde a criança caiu.