Em menos de 48h, o perfil Fraudadores de Cotas promoveu uma onda de exposição de universitários de instituições públicas que teriam feito uso indevido de cotas raciais e sociais, provocou polêmica e acabou removido das redes. Antes de ser desativado, no entanto, a iniciativa levou a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), primeiro alvo do grupo, a se manifestar e tornar público um processo de verificação interno em condução para averiguar possíveis fraudes de seus estudantes.
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Unesp expulsa 30 alunos por fraudes nas cotas raciaisDefensoria da USP pede combate a fraude em cotasMP do Cidadão contesta projeto que acaba com cotas raciais no ensino superiorEm decisão inédita, USP expulsa aluno por fraude em cotas raciais e sociaisA instituição alega também que a mesma comissão conduzirá uma revisão dos alunos já com o curso em andamento, a partir de denúncias recebidas por sua ouvidoria.
"Caso se comprove a fraude, a Universidade toma as providências legais cabíveis, em consonância com o Ministério Público Federal (MPF), caso a caso, podendo levar ao cancelamento da matrícula daqueles cuja fraude foi constatada", anunciou.
Nas redes, houve quem defendesse o movimento, inclusive um dos alunos expostos pelo grupo. "Sou eu. Eu sei que já fiz merda, e não escondo minha cara por isso. Aí eu tinha 16 anos. E depois saí da faculdade, abandonei essa matrícula e reingressei com outro Enem e uma regular. Ja sofri retaliação e exposição desde o início e acho que isso é necessário mesmo pra que não se repita hoje", escreveu publicamente Ruan Carlos, estudante de direito da Universidade Federal Fluminense, de Niterói, no Rio de Janeiro.
"Isso não é um segredo, eu já fui exposto desde o início e é por poder ter conversado com as pessoas e ter entendido que eu tinha feito merda, que eu abandonei a vaga", completa.
O Fraudadores de Cotas acabou sendo duramente criticado por, entre as pessoas expostas, denunciar uma estudante de origem indígena. "Eu tenho aldeia, eu tenho foto, eu tenho vídeo, eu tenho documentos, eu tô na Funai! Eu não posso pintar cabelo não, é?", disparou Larissa Sá, estudante de medicina na Universidade Federal do Maranhão.
A garota compartilhou ainda que, em seu processo de admissão, teve candidatura indeferida porque uma banca não acreditou que ela fosse indígena, o que foi provado por documentos familiares e cadastro na Funai.
"Precisamos de voz, precisamos ser ouvidos e melhores interpretados. Não só a cota indígena. Ser indígena é questão de pertencimento e não de fenótipo. As pessoas precisam se educar intelectualmente para assim educar o coração e parar de espalhar ódio", concluiu.
Apesar de ter sido removida, a conta inspirou a criação de cópias locais relacionadas a dezenas de universidades do país.
O movimento de exposição preocupa defensores dos direitos humanos quanto ao possível uso político do fato para colocar em xeque novamente a existência das próprias cotas, defendida por especialistas de várias frentes como um dos aceleradores necessários para a diminuição da desigualdade social no Brasil.
Averiguações não são de hoje
Casos de criação de bancas examinadoras para verificar se estudantes burlaram o sistema seletivo volta e meia retornam às manchetes.
A Universidade de Brasília (UnB), depois de cinco anos sem trabalho sistemático de averiguação, após denúncias, montou uma comissão para investigar 100 alunos de seus cursos em 2017, justamente por vários deles não terem características fenotípicas de negros ou indígenas, mas terem se autodeclarado como membros desses grupos.
A Universidade do Ceará (UFC), por sua vez, decidiu cancelar a matrícula de 13 estudantes beneficiados pelas cotas para negros, pardos e indígenas, no segundo semestre de 2019 e investiga outros 20 vínculos neste ano, sendo a maioria relacionada aos cursos de medicina e direito.
A investigação foi aberta em 27 de fevereiro e os alunos com matrículas canceladas podem continuar o curso em outras universidades ou voltar à instituição de ensino se aprovados em nova seleção por via regular.
De acordo com o jornal cearense O Povo, vários deles tinham cursado mais de 50% da grade regular e seis já conseguiram liminar judicial para serem reintegrados.