A população brasileira terá à disposição uma nova plataforma para verificar os dados sobre a pandemia do novo coronavírus no país. A expectativa é que o site completo, segundo o coronel Elcio Franco, secretário-executivo do Ministério da Saúde, esteja no ar a partir desta terça-feira (9).
Segundo o secretário-executivo, o governo voltará a informar o número consolidado de mortes e casos confirmados de COVID-19 no Brasil. Nos últimos dias, o Ministério da Saúde vinha informando apenas os diagnósticos e óbitos computados entre um boletim e outro, o que foi criticado por especialistas e pela imprensa pela falta de transparência.
Além disso, a nova metodologia, conforme Elcio Franco, vai permitir que o usuário pesquise a situação não só do país, regiões geográficas e estados – como na plataforma atual –, mas também de cidades do interior e regiões metropolitanas.
Ainda de acordo com o secretário-executivo do Ministério da Saúde, a expectativa é que mais dados sejam incluídos no sistema, como ocupações de leitos no país e a divisão dos casos confirmados em síndrome respiratória aguda grave (pacientes graves, que geralmente precisar ser hospitalizados) e síndrome gripal (quadros clínicos mais controlados).
Não foi mencionada, no entanto, a divulgação dividida entre cor e raça. Especialistas apontam que a população indígena e preta está mais vulnerável à doença por questões socioeconômicas.
O governo também adiantou que pretende informar a data de início dos sintomas dos pacientes, com objetivo de analisar as curvas da COVID-19 no Brasil. Assim, segundo o ministério, será possível mapear qual a real situação da doença no país.
Reunião
O Ministério da Saúde informou que vai se reunir com estados e com os conselhos nacionais de Secretários de Saúde (Conass) e de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems) para discutir as estratégias de compilação e divulgação dos números de COVID-19. O encontro vai acontecer nesta terça (9).
A ideia do governo é que estados, municípios e o Distrito Federal usem uma plataforma criada pelo Ministério da Saúde, o e-SUS, para notificar os casos e mortes de COVID-19.
Segundo Eduardo Macário, secretário de Vigilância em Saúde, "muito investimento" foi feito no sistema, mas alguns estados não aderiram à plataforma e optaram por tecnologias próprias.
"Não é simplesmente pegar o resultado, somar em uma planilha e divulgar. A equipe recebe as informações das secretarias estaduais, checa com os dados do e-SUS e também checa qual a consistência desses dados", justificou Macário.
De acordo com ele, o e-SUS compila por uma plataforma os casos de síndrome gripal. Outro sistema reúne os diagnósticos de síndrome respiratória aguda grave. No caso dos quadros clínicos mais graves, o governo usa a mesma metodologia das notificações de gripe no Brasil.
Repercussão
As mudanças recentes na estratégia de divulgação do Ministério da Saúde sobre a situação do Brasil frente à pandemia geraram uma série de críticas de membros de outros poderes, especialistas e usuários das redes sociais.
Após reunião de líderes de hoje (8), ficou decidido que a Comissão Mista Especial de Acompanhamento do Coronavirus trabalhará com os dados estatísticos da pandemia fornecidos pelos estados e DF. É papel do parlamento buscar a transparência em um momento tão difícil para todos.
— Davi Alcolumbre (@davialcolumbre) June 8, 2020
Pelo Twitter, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), afirmou que a Comissão Mista Especial de Acompanhamento do Coronavirus trabalhará com os dados dos estados e do Distrito Federal, descartando o levantamento da União. "É papel do parlamento buscar a transparência em um momento tão difícil para todos", escreveu o senador.
Em entrevista à TV Globo, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Marco Aurélio Mello, ressaltou que a mudança da pasta gera prejuízos diplomáticos e "insegurança".
"Até que ponto não há manipulação, se a ótica é no sentido de omitir, né? Manipulação é mais fácil que a omissão, chama menos a atenção", disse.
A polêmica aumentou depois que o ministério mudou o número de mortes de um mesmo boletim. No domingo (7), em um primeiro momento, a pasta anunciou 1.382 óbitos. Mais tarde, alterou o número para 525, uma diferença de 857.