Jornal Estado de Minas

RACISMO

#BombrilRacista entra nos Trending Topics após marca relançar esponja de aço 'Krespinha'

Em meio às diversas manifestações em defesa da vida das pessoas negras, a marca de produtos de limpeza Bombril foi centro de uma polêmica na manhã desta quarta-feira (17) nas redes sociais. Isso porque internautas apontaram racismo no relançamento de uma esponja de aço inox batizada de "Krespinha."


Os internautas apontaram racismo no trocadilho entre cabelos crespos e uma esponja de aço.



"Krespinha, a esponja de aço da Bombril, perpetua estereótipos racistas e imagens de controle que associam o corpo de mulheres negras ao trabalho doméstico pesado. O nome e o marketing é baseado em racismo. Fere historicamente a subjetividade de mulheres negras e segue firme no mercado", afirmou a influenciadora Winnie Bueno.
 
 
 
O produto, de 1952, estampava uma criança negra em sua publicidade, foi relançado em 2020 e descrito como "perfeita para a limpeza pesada. Remove sujeiras e gorduras de um jeito rápido e eficaz, sem esforço. Resiste e não enferruja", segundo a própria marca.
 
 
 
 
A Bombril não havia se posicionado sobre o assunto até o fechamento desta matéria.
 

"Desumanização histórica"


O professor do Departamento de Comunicação da UFMG, Pablo Moreno Fernandes, destaca que a "Krespinha" é mais um indicativo de desumanização de pessoas negras, frequente na história brasileira.



"Se a gente pensar, a escravidão já foi uma desumanização das pessoas negras na história da humanidade, em que elas se tornaram objeto de venda, em que as identidades foram negadas. Com a abolição a gente até vê uma tentativa de mudança, mas ainda há uma resquícios de desumanização muito forte no imaginário", comenta.

"Pegar um atributo de uma pessoa negra e o relacionar com o produto da casa, uma associação já forte no imaginário brasileiro, é uma experiência de desvalorização da autoestima. A prova disso são tantas crianças negras que não gostam dos seus próprios cabelos, querem alisar ou raspar", completa.
 
 

A pesquisadora de relações étnico-raciais Etiene Martins, também da UFMG, ressalta os estereótipos ligados tanto a gênero quanto a raça. "Limita o espaço social da mulher negra, ligando-a necessariamente a uma força servil, celebrado no imaginário escravocrata. Reafirma esse lugar subalterno", explica.

"É o que Adilson Moreira chama de racismo recreativo, mas classifica um lugar no imaginário das pessoas. O racismo nasceu lá na escravidão, mas se reinventa pra subalternizar as pessoas negras, inclusive através da linguagem. É inadmissível pensar que uma empresa, no país com uma população negra do tamanho do Brasil, se preste a esse lugar", completa.

* Estagiário sob supervisão da subeditora Ellen Cristie.