Anunciada no dia 20 de abril, a compra emergencial de 12 milhões de testes rápidos da covid-19 está travada no Ministério da Saúde. O processo não tem data para ser concluído e, segundo apurou o Estadão, pode até ser cancelado por questionamentos sobre possíveis irregularidades. Se confirmada a desistência, a promessa de realizar 46,2 milhões de exames de diagnóstico no Brasil ficará ainda mais longe. Mesmo após quase dois meses sem conseguir avançar, a meta continua sendo celebrada por canais oficiais da gestão Jair Bolsonaro nas redes sociais.
O processo de aquisição de 12 milhões de testes rápidos teve reviravoltas. No fim de maio, o laboratório Abbott passou a ser o favorito para levar o certame após conseguir o registro de seu produto na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Sem licitação, sob argumento de ser "emergencial", a compra levanta desconfiança dentro do Ministério da Saúde.
Alguns gestores chegaram a pedir a sua anulação, ainda durante a gestão de Nelson Teich, que deixou a pasta no mês passado. Uma das razões seria a entrega de dados da compra para pessoas que acompanham a disputa. Outra seria a limitação dos testes rápidos, que têm baixa sensibilidade se aplicados nos primeiros dias de sintomas.
O exame de diagnóstico da covid-19 em larga escala é um dos pilares da estratégia do governo para enfrentar a pandemia, mas o Brasil testa pouco, quando comparado a outros países. O ministro interino da Saúde, Eduardo Pazuello, tem dito a interlocutores que para vencer a "guerra" contra a doença o "mais importante" é melhorar a triagem de pacientes e medicá-los o quanto antes, até mesmo com a cloroquina, medicamento sem eficácia comprovada.
O governo federal discute com Estados e municípios ampliar o uso de exames de imagem ou clínico-epidemiológicos para o diagnóstico da covid-19. Na leitura de gestores do Sistema Único de Saúde (SUS), a medida evitaria ficar refém da disponibilidade de testes, mas infectologistas alertam que o ideal é o exame laboratorial.
A promessa do governo é distribuir 22 milhões de testes do tipo rápido, sendo 10 milhões doados de empresas e 12 milhões comprados. Cerca de 7,52 milhões já foram entregues a Estados e municípios. O exame rápido detecta anticorpos para a covid-19, indicando que a pessoa já foi infectada, e deve ser aplicado após o sétimo dia de sintomas. Caso contrário, a chance de falso negativo é alta.
Para atingir 46,2 milhões de exames, o ministério promete distribuir também 24,2 milhões de testes do tipo RT-PCR, que detecta a presença do vírus. Tido como de "padrão ouro" para diagnósticos, o equipamento é aplicado nos primeiros dias de sintomas de pacientes.
Após quase quatro meses desde a confirmação do primeiro infectado pela covid-19 no Brasil, o governo entregou cerca de 3,79 milhões de exames desse tipo, ou seja, pouco mais de 15% do prometido. Mesmo sem nem sequer ter se aproximado dos 46,2 milhões prometidos, um dos perfis oficiais da gestão Bolsonaro nas redes sociais, a @SecomVC, destacou "Mais 46,2 milhões de testes" entre as ações do governo contra a covid-19, em publicação feita no Twitter em 13 de junho.
O próprio Bolsonaro, quando cobrado sobre avanço da covid-19 nos Estados, tem dito que já fez a sua parte. Ele atribui a gestores locais a culpa pelo aumento de casos. "Já ajudamos com dinheiro", disse o presidente na última segunda-feira a uma apoiadora que afirmava que Roraima "precisa de ajuda".
Testagem baixa
O ministério lançou o programa Diagnosticar para Cuidar, em 6 de maio, com a promessa de realizar teste de diagnóstico em larga escala, com exame RT-PCR, e pesquisa epidemiológica, com uso do produto "rápido".
Mas, até 4 de junho, a rede pública havia feito apenas cerca de 555 mil exames. A estimativa total de testes realizados no País é imprecisa, pois sistemas de unidades privadas e públicas de saúde não dialogam. Técnicos do ministério apontam que cerca de 1,7 milhão de exames já foram aplicados. Conforme revelou o Estadão, a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) já alertou o Palácio do Planalto sobre o baixo número de testes. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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