Com quase 50 mil mortes confirmadas provocadas pela COVID-19 e mais de 1 milhão de casos da doença, o Brasil é um dos epicentros mundiais da pandemia. Os altos índices de disseminação do coronavírus são, na visão do professor e autor Rodrigo Zeidan, de total responsabilidade do governo federal e do presidente da República, Jair Bolsonaro, autores de políticas equivocadas na gestão da crise.
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Festa com teste de COVID-19 na entrada gera críticas até de Bruna MarquezineEstado de São Paulo registra mais de 4 mil casos de covid-19 em 24 horasFortaleza avança à fase 2 de plano; restaurantes e igrejas voltam a funcionarCOVID-19: Brasil tem 641 mortes registradas em 24h e mais 17.459 casos confirmadosRodrigo Zeidan é professor de economia e finanças da New York University Shanghai e da Fundação Dom Cabral. Autor de diversos livros sobre economia, desenvolveu modelos de gerenciamento de risco para lidar com questões de sustentabilidade de bancos e multinacionais. Trabalhou em empresas como Kraft Foods, Johnson & Johnson, Santander, Skanska, L’Oreal, RCI Banque, Vale, Queiroz Galvão, Itaú Bank e Petrobras. Leia a entrevista abaixo.
O senhor atribui à política do governo federal a responsabilidade pelos altos índices de disseminação do coronavírus e pelo alto número de óbitos que temos no Brasil?
Claro que sim. Basicamente, o único governo responsável por isso no ponto de vista geral. Como o governo abdicou da responsabilidade de tomar decisões sobre a COVID-19, passou a ser responsabilidade dos estados e municípios fazer o que pudessem. Em qualquer lugar do mundo, principalmente para país grande, as respostas foram coordenadas pelo governo federal. Isso vale para a Alemanha, um país tão descentralizado quanto o nosso, para a China, Estados Unidos, Inglaterra. Basicamente, todo o mundo. Os países em que os governos federais resolveram sair pela tangente ou não encarar a pandemia estão sofrendo mais. Independentemente do que pode fazer o gestor municipal ou estadual.
No início de abril, o Supremo Tribunal Federal decidiu que não compete à Presidência da República interferir nas decisões dos governos locais estaduais sobre restrição de serviços e circulação de pessoas durante a pandemia. O presidente, em várias oportunidades, usa como defesa o fato de, teoricamente, não poder agir devido à decisão judicial...
Mentira. O governo teve e tem milhões de mecanismos. Tem não só a chave do cofre, como vários tipos de decisão que poderia tomar, inclusive coordenando respostas. Nenhum ente subnacional vai querer fazer um lockdown sem que o do lado queira fazer. É muito mais difícil. É o governo federal que toma decisões sobre movimentação de pessoas. Tivemos até autoridades estaduais querendo implantar políticas de segurança em aeroportos e a Infraero e o governo federal dizendo que não. É um absurdo completo. O governo não fez nada e agora quer se esvair da responsabilidade. É o pior dos mundos. É o cara que te vê sangrando até morrer, não te leva para o hospital e fala: ‘Opa! Não fui eu. Então dane-se!’. A responsabilidade é, primeiramente, do governo federal.
Em quais outras ações objetivas o senhor acha que o governo falhou? Em que deveria ter agido e não agiu, ou agiu de forma errada?
Criar um lockdown sério, assim como foi feito em vários países, como Espanha e Itália. Fazer uma política clara sobre testes, inclusive reconversão industrial (reorientação do setor para as novas exigências econômicas e sociais). O governo demorou demais a soltar políticas de crédito e auxílio para pessoas e empresas. Basicamente, o governo fez tudo errado. A renda básica emergencial só saiu por causa do Congresso. De novo, o governo federal abdicou da responsabilidade de fazer algo. O Congresso foi lá e criou o mecanismo de R$ 600 por três meses e basicamente o enfiou goela abaixo do governo, que está dizendo agora que não tem dinheiro para expandir, que não quer fazer. Toda e qualquer política que o governo poderia ter feito não fez.
E sobre a postura do presidente de não respeitar a quarentena, derrubar dois ministros da Saúde durante a pandemia, entre outras ações?
Enxergo como quase um genocídio. Talvez um possível genocídio, com o governo sendo irresponsável. Tem um artigo (https://bit.ly/2zs3h6W) sensacional do Tiago Cavalcanti, que é professor de Cambridge, com outros coautores, mostrando como, em cidades que apoiam o presidente, quando ele falava contra a quarentena, dizendo que era uma gripezinha, o índice de distanciamento social diminuía e o nível de infecção aumentava. A responsabilidade de um líder na ação de um sistema presidencialista é monstruosa. O presidente, então, tem toda e qualquer responsabilidade sobre o aumento de casos a mais do que seria esperado se o governo tivesse adotado políticas sérias para combater a pandemia. Coloco na conta do governo todas essas questões. E me desespero, porque estava fora do Brasil e vi os outros países fazendo as coisas seriamente e conseguindo achatar a curva de casos. E o governo aqui simplesmente ignora isso.
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