Considerado serviço essencial, o setor de carnes não parou as atividades em meio às medidas de segurança impostas devido à pandemia do novo coronavírus e costuma ter aglomeração de pessoas na linha de produção. Com isso, a preocupação de que a COVID-19 possa se espalhar entre esses profissionais está se tornando realidade.
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População morta por coronavírus no Brasil equivale a 18 'onzes de setembro'Interior de SP já tem mais mortes do que a capital; Estado chega a 13.759 óbitosGovernador do ES cobra maior coordenação do governo federal no combate à covid-19COVID: Brasil registra 54.971 mortes e dobra casos em relação à RússiaSegundo o pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e doutorando em Geografia na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFJR), Ernesto Pereira Galindo, as cidades com maior número de trabalhadores do setor concentram as contaminações fora das grandes capitais. Para ele, “não é nada contra o setor em si, mas ele reúne características que são ideiais para a disseminação do vírus”.
O rápido aumento na quantidade de infecções pela COVID-19 preocupa as autoridades de saúde de todos os estados brasileiros, já que a própria estrutura operacional dos frigoríficos favorece a disseminação.
Entre essas características, estão as baixas temperaturas em ambientes fechados, inferiores a 5ºC, e a grande concentração de pessoas no local, inclusive no transporte entre trabalho e casa, não respeitando o distanciamento social mínimo seguro.
Entre essas características, estão as baixas temperaturas em ambientes fechados, inferiores a 5ºC, e a grande concentração de pessoas no local, inclusive no transporte entre trabalho e casa, não respeitando o distanciamento social mínimo seguro.
De acordo com o médico epidemiologista Dirceu Greco, outro ponto de importante destaque é que a exposição a baixas temperaturas podem causar outras infecções viróticas, o que pode ser mais um complicador para a COVID-19.
Além disso, o uso incorreto dos equipamentos de proteção individual (EPI) colabora para essa contaminação.
Além disso, o uso incorreto dos equipamentos de proteção individual (EPI) colabora para essa contaminação.
“Não estou dizendo que elas (outras infecções viróticas) têm relações diretas com a COVID-19, mas causam sintomas respiratórios e isso aumenta as secreções, espirros e tosses. O frio também pode deixar a máscara de proteção úmida, e isso faz com que a pessoa leve a mão até o rosto, podendo, assim, se contaminar”, afirmou.
Para o autor do estudo, as conclusões ainda são preliminares, mas já indicam forte correlação entre a localização geográfica dos frigoríficos e as contaminações. "O impacto dos frigoríficos é extremamente relevante na interiorização dos casos em regiões que possuem essa atividade bem desenvolvida, principalmente no Centro-Sul do país".
COVID-19 em frigoríficos do país
A continuidade da produção de alimentos do ramo foi um pedido do Ministério da Agricultura ao governo para que o abastecimento do país não fosse comprometido, assim como as exportações do setor, que trazem bilhões de dólares para o Brasil.
As exportações do segmento cresceram 17,5% nos quatro primeiros meses de 2020 na comparação com o mesmo período do ano passado, de acordo com dados da pasta.
No início de maio, o Ministério Público do Trabalho (MPT) começou a avaliar 61 unidades de processamento de bovinos, aves e suínos em 11 estados brasileiros, para analisar as condições de trabalho durante a pandemia. Em pelo menos 17 desses locais houve funcionários com teste positivo para o vírus àquela altura.
O número de frigoríficos inspecionados na ocasião pelos procuradores foi equivalente a 13,7% dos 446 existentes no país, de acordo com o Ministério da Agricultura.
Ainda segundo as investigações do MPT, não é possível afirmar se essas pessoas contraíram a doença dentro das empresas.
Região Sul
Segundo o levantamento mais recente, a situação mais grave de contaminação é no Rio Grande do Sul. O estado atingiu, nessa quarta-feira (24), o número de 32 frigoríficos com trabalhadores infectados pelo vírus, de acordo com o MPT. As unidades se localizam em 23 municípios gaúchos.
Até agora, 4.957 trabalhadores do setor foram diagnosticados com COVID-19, o equivalente a 25,14% do total de infectados no estado, além de cinco mortes.
O MPT estima que a quantidade de funcionários infectados corresponde a 7,62% do total de trabalhadores de todos os frigoríficos gaúchos (65 mil).
O MPT estima que a quantidade de funcionários infectados corresponde a 7,62% do total de trabalhadores de todos os frigoríficos gaúchos (65 mil).
Em Chapecó, cidade da Região Oeste de Santa Catarina, 1.634 trabalhadores de unidades frigoríficas foram infectados pelo vírus até essa terça-feira (23), sendo 11,4% do número total de empregados no setor (14.310) – 8,5% do total de pacientes com a doença no estado.
Na avaliação do infectologista Dirceu Greco, ainda assim “não é possível afirmar que os estados da Região Sul estejam mais propensos a apresentar casos de coronavírus nos frigoríficos, pois todos os estados estão sujeitos a esse problema se não forem respeitadas as medidas de segurança, tanto de distanciamento social, quanto de proteção individual”.
*Estagiário sob supervisão da subeditora Kelen Cristina
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