A informação de que o governo brasileiro e a empresa farmacêutica britânica AstraZeneca fizeram uma parceria para o desenvolvimento e a produção de uma vacina contra o novo coronavírus gerou grande interesse na população. Criada nos laboratórios da Universidade de Oxford, na Inglaterra, a vacina já está sendo testada pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) desde o dia 22 de junho em profissionais da saúde da cidade de São Paulo. Em uma live nesta segunda-feira (29), o Embaixador Britânico no Brasil, Vijay Rangarajan, e os médicos da Astrazeneca Brasil, Maria Augusta Bernardini e Jorge Mazzei, deram detalhes da pesquisa.
A Fiocruz anunciou que poderá produzir a vacina contra o coronavírus a partir de dezembro.
A iniciativa já está na fase 3 dos estudos clínicos, última fase de testes em humanos para apontar segurança e eficácia. Estudos preliminares das fases 1 e 2 demostraram que ela apresenta respostas imunológicas promissoras.
A Fiocruz determinou um cronograma até a vacina ser bem produzida. A previsão é de um primeiro lote, com 15,2 milhões de doses, fique pronto ainda em dezembro. Um novo lote, com as 15,2 milhões de doses restantes, estará à disposição em janeiro de 2021. Elas seriam testadas em um determinado grupo de pessoas.
Ainda seriam necessárias as etapas de registro e validação, antes de uma possível distribuição. Serão priorizados profissionais da saúde e pessoas dos grupos de risco, como idosos e portadores de doenças crônicas.
De acordo com os médicos Maria Augusta Bernardini e Jorge Mazzei, a estratégia usada nessa vacina é a de um vetor viral não replicante. Ou seja, os pesquisadores usam um vírus diferente do coronavírus como uma forma de “enganar” o sistema. Nesse caso, é utilizado um adenovírus, que é geneticamente modificado para ser fraco e incapaz de se replicar no corpo humano. Após inserirem este vírus, uma parte do coronavírus também é modificada.
Quando a vacina é inserida no corpo, o sistema imunológico promove uma resposta, escondida dentro do vetor, e produz anticorpos e células de defesa.
Os médicos explicaram a escolha do Brasil como país de testagem. “No ínicio, o Brasil era relevante por conta da capacidade técnica para pesquisas clínicas, o país tem grandes profissionais. Outro motivo é a postura das grandes entidades, como por exemplo a Anvisa, que vem fazendo um ótimo trabalho. O terceiro ponto, infelizmente, é por ser um país de grande foco, o que faz do Brasil um bom lugar para se testar a vacina. Afinal de contas, por ter o vírus circulando, a vacina pode ser testada mais facilmente”, respondeu a médica Maria Augusta Bernardini.
Os médicos também ressaltaram que no Reino Unido, principalmente em Oxford, existem muitos pesquisadores brasileiros influentes. “O que fortalece a imagem do Brasil.”
Vantagens da vacina de Oxford
Segundo Maria Augusta Bernardini, a vacina de Oxford tem vantagem sobre outras em desenvolvimento no mundo pois, além de usar uma plataforma já conhecida e testada em vírus como Mers e Ebola, funcionaria com uma dose única. “Estamos desenvolvendo uma vacina em dose única. É um diferencial. […] Outro diferencial que temos é que sabemos que potencial da geração de anticorpos é muito forte, muito positivo”.
Testagem
Durante a fase de testagem, os pacientes são divididos em dois grupos: metade toma a vacina e a outra metade recebe o placebo ou outra vacina que não protege. Ninguém sabe o que tomou. Os grupos são sorteados e equilibrados. Após receberem a vacina, voltam para casa e continuam a rotina sendo acompanhados durante um dado tempo. A previsão é que as pesquisas durem até dezembro deste ano.
“Apoiamos toda a pesquisa e tentaremos que ela seja feita e produzida aqui no Brasil. O desafio é uma distribuição eficaz. Vale relembrar que cada país tem uma estratégia para combater o coronavírus e o mais importante a se fazer é investir em vacinas. No Reino Unido, estamos priorizando idosos e profissionais da saúde, mas isso não é uma regra, é diferente em cada país. Cada um tem o foco de testagem diferente”, explica o Embaixador Britânico no Brasil, Vijay Rangarajan.
Distribuição
Durante a transmissão, os médicos e o embaixador exaltaram todo momento o trabalho feito pela Anvisa. De acordo com eles, a vacina só está sendo testada no país pelo bom trabalho da instituição. “Eles montaram um gabinete de guerra”, afirmou Jorge Mazzei.
De acordo com o médico, já existe uma conversa sobre a aprovação da vacina no país caso a testagem corra bem. Ele categoriza isso como fundamental no combate à COVID-19.
Para começar a distribuição o mais rapidamente possível, a ideia da Oxford é montar um dossiê de registros e apresentá-los para as autoridades regulatórias do Reino Unido até o mês de dezembro. Se aprovada, a vacinação começará ser feita em caráter emergencial.
Aplicação
A vacina será aplicada no braço dos pacientes. A médica Maria Augusta Bernardini explica que ainda não é possível exemplificar o tempo de proteção. “Isso é um dado que precisa ser avaliado durante o ano. Acreditamos que ele possa ser mantido por longo prazo, mas é uma questão ainda em aberto”.
Ao falarem sobre efeitos colaterais, os médicos explicaram que, até o momento, 10% dos voluntários tiveram os efeitos normais esperados entre as vacinas. Isso é: dor, vermelhidão e febre.
Desafio
No final da transmissão, o embaixador Vijay Rangarajan relembrou que o desafio do Brasil é equivalente aos dos outros países. “Precisamos controlar o vírus para não deixar ele circular, para não existir uma segunda onda. Temos que pensar que é primordial ter uma vacina para o ser humano. O desafio do Brasil também está imposto em vários lugares do mundo. É um tempo de guerra e para isso é preciso colocar todos os esforços no êxito em menor tempo”, explicou.