Jornal Estado de Minas

Em coma

Naja que picou estudante no Distrito Federal tem veneno que pode matar

A cobra naja, espécie encontrada no Sul da Ásia, que picou o estudante de veterinária Pedro Henrique Lehmkuhl, de 22 anos, nessa terça-feira (7/7), no Distrito Federal, é extremamente nociva ao ser humano, possuindo um veneno de ação neurológica, segundo o Zoológico de Brasília.


Após ser picado, o jovem foi levado ao Hospital Maria Auxiliadora, no Gama, e está em coma na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI). O soro antiofídico necessário para anulação do veneno foi entregue pelo Instituto Butantan em caráter emergencial, e chegou ao DF durante a noite de terça-feira.

A serpente, encontrada especialmente na Tailândia e responsável por vários acidentes nesse país, possui uma peçonha capaz de afetar o sistema nervoso central das vítimas, vindo a ser fatal. “Vai afetar a respiração, a noção de espaço e tempo, a pessoa perde essa noção e tende a ir para o estado sonolento até ir para o estado mais sério e ter complicações mais graves decorrentes do veneno do animal, podendo vir a óbito”, explica o biólogo diretor de répteis e artrópodes do Zoo, Carlos Eduardo Nóbrega.

Carlos diz também que não é possível mensurar o tempo que leva para o veneno chegar a matar outros animais ou seres humanos. Tudo irá depender da quantidade de peçonha injetada e do estado prévio da saúde daquela vítima.


De acordo com o biólogo, a espécie brasileira que mais se assemelha ao tipo de veneno e comportamento da naja é a cobra-coral verdadeira. Contudo, ele ressalta que a peçonha da naja tem maior potencial danoso às pessoas.

As najas vivem, em média, 15 anos e, na fase adulta, podem chegar a medir até três metros. O biólogo afirma, contudo, que a espécie é tranquila e que só ataca os seres humanos exclusivamente por defesa: “Ela é uma espécie que, se você não mexe com ela, ela é tranquila e vai embora sem maiores problemas. Mas se ela se sente ameaçada, a primeira reação não é atacar, é levantar, erguer o corpo e abrir o capelo”, explica o biólogo.

Ele acrescenta: “A partir do momento que essa pessoa insiste em entrar na área de segurança dela, ela desfere os botes que podem inocular a pessoa ameaçada”.

O réptil se alimenta basicamente de roedores. As fêmeas de naja botam de 15 a 30 ovos por ninhada, os quais são incubados durante 60 a 80 dias.


Devido às confusões na hora de classificar e definir este gênero, o número de espécies pode variar entre 20 e cerca de 270, dependendo de como é analisada.

Desequilíbrio no ecossistema

O biólogo explica, ainda, que, pelo fato de o cerrado possuir vários microclimas, caso fosse solta, a naja poderia vir a se adaptar e se estabelecer na região.

“Se esse exemplar encontrar um parceiro do sexo oposto que também consiga se estabelecer, eles podem até reproduzir, aumentando o número de exemplares na área”, afirma.

Tal adaptação poderia vir a trazer desequilíbrio no ecossistema do cerrado, trazendo a depredação de espécies nativas e doenças inexistentes no local.

Há relatos, segundo o biólogo, de que outras espécies exóticas como as pítons e as corn snakes estão sendo encontradas em áreas do cerrado.

De acordo com o diretor, não se deve trazer nenhum animal para o Brasil sem autorização do Ibama e licença de todos os órgãos ambientais. “Isso porque, quando você traz um animal desse, você tem que primeiro trazer o soro”, explica.


Caso seja comprovado que Pedro não possuía autorização para criação na espécie, ele poderá responder pelo crime de tráfico de animais.

Soro antiofídico

O Hospital Maria Auxiliadora fez um pedido em caráter emergencial para que o Instituto Butantan, em São Paulo, enviasse o soro antiofídico para Brasília. Somente o soro é capaz de neutralizar o veneno dentro do corpo humano e, assim, aumentar as chances de sobrevivência da vítima.

O Instituto ressalta que, por ser uma espécie exótica, o soro é importado e faz parte de um estoque limitado, voltado para uso dos próprios pesquisadores caso aconteça algum acidente. O Butantan produz soros apenas para espécies encontradas no Brasil.

Estudante de veterinária
Pedro Henrique cursa veterinária no Centro Universitário Uniceplac. De acordo com a coordenadora do curso, Daniella Ribeiro Guimarães Mendes, vários alunos manifestam apreço pelos mais diversos tipos de animais, mas são instruídos sobre a necessidade do respeito ao habitat de cada espécie.



 

"Para aulas, podemos ter bovinos, equinos e outros animais mais domésticos. Animais selvagens em cativeiro representam um perigo e pode ser um mal para o próprio animal. Até porque é impossível alguém sair andando e se deparar com uma espécie dessas por aqui", avalia.

A professora explica ainda que esse tipo de serpente é proveniente da Índia e da África. A espécie específica, uma naja kaouthia, vive apenas no Sul da Ásia e apenas instituições autorizadas pelo Ibama, a exemplo do próprio Instituto Butantan, têm autorização, no Brasil, de criar serpentes do gênero e ter ambientes que promovam segurança, inclusive, para o animal. A Polícia Civil vai investigar a origem do animal que picou o rapaz.