Estar na linha de frente da batalha contra a pandemia do novo coronavírus não é uma tarefa fácil. Uma pesquisa feita pela Associação Paulista de Medicina (APM) com quase dois mil médicos de todo país aponta que os profissionais que atendem pacientes com COVID-19 estão suscetíveis a sintomas da síndrome do esgotamento profissional - ansiedade (69,2%), estresse (63,5%), exaustão física/emocional (49%) e sensação de sobrecarga (50,2%).
Dos médicos que responderam a pesquisa, 60% trabalham em hospitais e/ ou unidades de saúde que assistem a pacientes com coronavírus. A maioria atende, em média, por dia, até 20 ou mais pacientes com suspeita ou confirmação da COVID-19. E somente 28% deles se dizem plenamente capacitados para atender qualquer fase do tratamento.
E o que dificulta ainda mais esse tratamento é a falta de uma infraestrutura adequada. 59% se queixaram da estrutura física/ insumos e segurança no qual tem trabalhado. Na pesquisa, esses profissionais da saúde informaram que falta aventais, óculos, luvas, álcool em gel e muitos outros insumos. E o que preocupa a categoria ainda é a falta de leitos para pacientes que precisam de internação na Unidade de Terapia Intensiva (UTI).
Em Minas Gerais, por exemplo, a taxa de ocupação dos leitos chegou a disparar, chegando a quase 90%, segundo números da Secretaria de Saúde do Estado de Minas Gerais. Na última atualização em 6 de julho, esse dado despencou para 68,24%, embora o número de casos suspeitos e confirmados do novo coronavírus tenha crescido no estado. De acordo com o último boletim epidemiológico divulgado pelo governo nesta sexta-feira (10), já são mais de 70 mil confirmações da doença.
Além disso, outros fatores externos interferem no trabalho desses profissionais. É o caso das fake news - 69,2% dizem que interferem negativamente, pois levam algumas pessoas a minimizar (ou negar) o problema e, assim, a não observar as recomendações de isolamento social e higiene ou não procurar serviços de saúde. Outros 48,9% disseram que por causa disso, pacientes e familiares pressionam por tratamentos sem comprovação científica.
Outro dado revelado na pesquisa é no quesito violência. Trinta e sete porcento dos médicos que responderam o questionário confirmaram ter presenciado, ao longo da pandemia, episódios de agressões a médicos, outros profissionais ou colaboradores administrativos.
E quanto à subnotificação dos dados do Ministério da Saúde, quase a metade indicou que está sendo divulgado um número menor de novos casos do que a realidade. Já as mortes provocadas pelo coronavírus, 21,5% têm a percepção de que o dado apontado é inferior ao de fato ocorrido.
E por esses motivos, quase 90% dos médicos acreditam que é possível uma segunda onda da COVID-19 no Brasil.
* Estagiária sob supervisão da subeditora Ellen Cristie.