Jornal Estado de Minas

PANDEMIA DA COVID-19

Osmar Terra critica quarentena, vê epidemia no fim e estima que Brasil tenha 34 milhões de contaminados

O deputado federal Osmar Terra (MDB-RS), que é médico e ex-ministro do Desenvolvimento Social do governo Jair Bolsonaro, voltou a gerar polêmica neste sábado ao atacar a quarentena determinada por prefeitos, governadores e ex-ministros da Saúde em meio à pandemia do novo coronavírus. Segundo ele, não há nenhuma comprovação científica que tais medidas reduzam a contaminação.



“Não tem uma evidência científica que lockdown e quarentena diminuem o número de casos. Nunca se fez isso. É a primeira vez na história da humanidade. Estamos sendo cobaias de uma experiência que não funciona. (...) Essa história de que lockdown, flexibilização, piora, melhora, é invenção. Isso não tem base científica nenhuma. Temos que discutir ciência. Lockdown e quarentena não têm nada a ver com ciência”, declarou durante em entrevista ao canal CNN Brasil.

Ao ser indagado se era um negacionista, Terra reagiu com um ataque à mídia. “Eu tenho muito receio de botar apelido nas pessoas. Então tenho que chamar os que defendem a quarentena de apocalípticos, de catastrofistas. Hoje está um esforço muito grande da mídia, não coloco a CNN nisso, de assustar as pessoas. Assustar, assustar, não explicam nada, não falam dos ciclos virais, como funcionam, não mostram luz no fim do túnel. É medo, medo, caixão, caixão, cova rasa, só para assustar as pessoas. Tratam as pessoas de forma infantil, acham que têm que botar medo para as pessoas ficarem trancadas dentro de casa”.

No entendimento do médico, que é um dos conselheiros do presidente Jair Bolsonaro, apenas pessoas contaminadas e de grupos de risco deveriam ter sido isoladas no país. Ele apontou como problema do Brasil a baixa testagem, mas não por culpa dos governos e sim em razão do atraso na chegada dos exames em grande quantidade.



“Mais da metade das pessoas que morreram no mundo são idosos e em asilos. Em asilos. Essa história de lockdown, quarentena, não tem nada de ciência. Sempre se enfrentou (epidemia) com cuidados de proteção individual, máscara, lavar as mãos, guardar distância, proteger grupo de risco. A testagem localiza o vírus. Então, se isola (as pessoas contaminadas) e diminui o contágio. Não é trancar pessoas sadias em casa”, argumentou.

Previsão errada

Osmar Terra foi cobrado sobre afirmações feitas em março de que o Brasil teria, em 2020, menos mortos por COVID-19 do que por infecções causadas por H1N1 em 2019 (no total, 796 mortes). Neste sábado, o país atingiu a marca de 71.469 óbitos provocados pelo coronavírus.

“Cada vez que vou opinar, me cobram essa previsão. Na verdade, essa previsão não era o principal das minhas entrevistas. Eu sempre critiquei essa quarentena e lockdown, que não têm efeito nenhum. Nós estamos com 68 mil mortes (número desatualizado) em plena quarentena e lockdown. O país quebrado, a economia paralisada, dobrou o número de miseráveis, dobrou o número de desempregados pela primeira vez. Pela primeira vez na história, nós temos mais da metade da população sem renda nenhuma, dependendo dessa ‘mesada’ que o presidente Bolsonaro está dando, autorizou, de R$ 600, por mais dois meses. Uma tragédia que não diminuiu um doente e não diminuiu uma morte”, disse, Osmar Terra, sem responder, de fato, sobre a previsão errada que fez.


Epidemia no fim

Apesar de haver crescimento relevante dos números de contaminações em várias partes do país, como em Minas Gerais, na Região Sul e no Centro-Oeste, Osmar Terra vê a epidemia de coronavírus em sua fase final. Ele estima que o Brasil já tenha entre 30 milhões e 34 milhões de contaminados, a maioria assintomáticos. Com base em testes, o Ministério da Saúde registrou até este sábado 1.839.850 infectados.

“A epidemia está indo pro fim nessa área do Brasil onde a epidemia foi mais importante. Ela só não está indo pro fim onde não teve circulação do vírus, que foi o Sul e o Centro-Oeste e agora, com o inverno, aumentou a circulação. Isso também vai demorar algumas semanas e termina. (...) No Brasil, onde houve o grosso da epidemia, essa curva já se completou. Os hospitais se esvaziam, os que estavam lotados, de Recife, Fortaleza, Manau, Belém, São Luís, Rio de Janeiro, São Paulo, estão esvaziados. A epidemia caiu, a curva cai. De 14 de maio pra cá, está caindo a curva, mesmo subindo em estados do Sul”, disse.

“Imagino que temos 30 milhões de pessoas com o vírus já. Digo isso porque a letalidade, que é o número de pessoas que falecem em relação ao número de pessoas contaminadas, é de 1 para 500. Se é 1 para 500, nós devemos, com 68 mil óbitos, ter 34 milhões de casos de pessoas contaminadas. Isso faz efeito de imunidade coletiva que vai fazendo o vírus desaparecer”, opinou o deputado federal.

Contraponto

Apesar das afirmações de Terra, uma pesquisa do Imperial College, em Londres, constatou que medidas de isolamento social adotadas por 11 países podem ter ajudado a evitar 120 mil mortes na Europa.



O levantamento olhou para dados de Alemanha, Áustria, Bélgica, Dinamarca, Espanha, França, Itália, Noruega, Reino Unido, Suécia e Suíça. Modelos matemáticos focaram na chamada taxa de reprodução básica, ou seja, o número médio de novas infecções causadas por cada pessoa infectada. A conclusão é de que esses países seguraram o aumento da taxa de reprodução básica por meio de intervenções como o isolamento social.

O isolamento também foi a recomendação feita pela Organização Mundial de Saúde (OMS).