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Estado de Minas PANDEMIA

COVID-19: Brasil deve aproveitar platô da infecção para deter doença

OMS vê estabilização, em alto patamar, na transmissão da doença no Brasil. Alerta que, com ações corretas, a ''janela de oportunidade'' permitiria a redução do contágio. Mas, pelo quarto dia consecutivo, o país teve mais de mil mortes pelo novo coronavírus em 24 horas


18/07/2020 16:24 - atualizado 18/07/2020 16:42

'O Brasil está sustentando o patamar mais alto de casos e óbitos a que chegou desde o início. Isso é péssimo. Se comparamos com ondas, é como um tsunami que não passa'', Claudio Maierovitch, sanitarista da Fiocruz do DF
"O Brasil está sustentando o patamar mais alto de casos e óbitos a que chegou desde o início. Isso é péssimo. Se comparamos com ondas, é como um tsunami que não passa'', Claudio Maierovitch, sanitarista da Fiocruz do DF (foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil )
Ainda que a epidemia do novo coronavírus no Brasil mostre tendência de uma estabilização, como destacou a Organização Mundial de Saúde (OMS), não representa que a sociedade possa abandonar as medidas de precaução. Ontem, o organismo internacional avaliou que, no momento, o Brasil tem uma “janela de oportunidade” para que, com medidas efetivas, consiga frear a progressão da COVID-19, conforme salientou o diretor de emergências sanitárias Michael Ryan.


Este platô não indica uma curva de descida na infecção, mas somente que o número de pessoas atingidas e de mortes tende a se estabilizar. “O Brasil está sustentando o patamar mais alto de casos e óbitos a que chegou desde o início. Isso é péssimo. Se comparamos com ondas, é como um tsunami que não passa. Trata-se de uma média nacional, resultado de variações para cima e para baixo em cada cidade, a maioria para cima”, alerta o sanitarista da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) do Distrito Federal, Claudio Maierovitch.

Na avaliação do diretor médico da Dasa, Gustavo Campana, diferenças no isolamento e nas medidas de restrição de cada localidade influenciam nas curvas. “Essas diferentes curvas vistas no Brasil têm relação com hábitos de isolamento de cada uma das regiões. A gente teve menor isolamento no Norte e no Nordeste, daí porque tiveram o pico precocemente. No Sul, a gente sabe de várias cidades que tiveram isolamento mais forte no começo e, por isso, demorou mais para subir”, observou.

Fator que influencia diretamente na formação do platô é a taxa de transmissão do vírus, que, segundo a OMS, tem demonstrado queda desde o fim de junho. O índice varia de 0,5 a 1,5, atualmente, sendo que, na fase de maior explosão de casos, estava entre 2 e 1,5. Taxas acima de 1 indicam que a transmissão do vírus ainda ocorre de forma descontrolada.

Outro comportamento que mostra que o coronavírus avança descontrolado pelo país é a velocidade com que se alastra em municípios do interior. Desde a semana 24, a distribuição de casos entre metrópoles e cidades menores se igualou e, atualmente, 57% das infecções novas ocorrem no interior.

“Experimentamos a consequência das diversas ondas de chegada do vírus no contexto geográfico. Em diferentes lugares, a epidemia está em estágios também distintos. E como não conseguimos realmente controlar, tende a ficar estável, mas em um nível alto. Em certo sentido, é o que ocorre nos Estados Unidos, mas lá as ondas ficam mais perceptíveis. Aqui, aparentemente é mais contínuo”, explicou o pesquisador José Alexandre Diniz Filho, professor do Departamento de Ecologia da Universidade Federal de Goiás (UFG).

Média alta

Ontem, pelo quarto dia consecutivo, o Brasil confirmou mais de mil mortes pelo novo coronavírus em 24 horas. Foram 1.163 novas mortes pela COVID-19 e, com isso, o país soma 77.851 vítimas da doença. Também foram contabilizadas 34.177 infecções e, no total, 2.046.238 brasileiros foram diagnosticados positivamente com o vírus.

É justamente pelo comportamento heterogêneo da doença no país que não se consegue baixar os números de mortos e infectados coletados diariamente. No fechamento da semana epidemiológica 28, a observação é de que há uma acentuada aceleração de novos casos de COVID-19 em estados como Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Tocantins, Pernambuco, Minas Gerais, São Paulo, Santa Catarina, Rio Grande do Sul. Em mais da metade das unidades federativas, as mortes continuam crescendo ou não conseguiram desacelerar nos incrementos.

Das 27 unidades da Federação, 20 já acumulam mais de mil mortes cada. A última a atingir o patamar foi Goiás, que registrou, ontem, 1.029 óbitos. Quem lidera o ranking nacional é São Paulo, com 19.377 óbitos pelo novo coronavírus. O Rio de Janeiro é o segundo, com 11.919 vítimas fatais da doença. Os dois são os únicos estados que têm mais de 10 mil mortes.

Em seguida estão Ceará (7.165), Pernambuco (5.869), Pará (5.448), Amazonas (3.118), Bahia (2.738), Maranhão (2.640), Espírito Santo (2.174), Minas Gerais (1.904), Rio Grande do Norte (1.526), Paraíba (1.446), Alagoas (1.365), Paraná (1.292), Mato Grosso (1.268), Rio Grande do Sul (1.166) e Sergipe (1.088), Piauí (1.065) e Distrito Federal (1.060). Atualmente, apenas os EUA têm números absolutos mais altos do que o Brasil.

SBI orienta abandonar a cloroquina

O resultado de dois estudos internacionais atestando a ineficácia da cloroquina e da hidroxicloroquina para a aplicação fora da bula, conforme vinham recomendando o Ministério da Saúde e sugerindo o presidente Jair Bolsonaro, levaram a Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) a revisar o posicionamento quanto à indicação do medicamento. A contra-indicação da entidade veio 24 horas depois de a pasta pressionar a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e outros dois institutos federais de pesquisa para que divulgassem e recomendassem o uso das substâncias no tratamento precoce de pacientes da COVID-19.

“É urgente que a hidroxicloroquina seja abandonada no tratamento de qualquer fase da COVID-19”, diz nota da SBI, divulgada ontem.

O documento dos infectologistas solicita que o próprio ministério reavalie a orientação de tratamento para que não gaste dinheiro público em tratamentos que “são comprovadamente ineficazes e podem causar efeitos colaterais”. E indica que a verba federal seja usada em medicamentos que comprovadamente “são eficazes e seguros para pacientes com COVID-19 e que estão em falta, tais como anestésicos para intubação de pacientes que precisam ser submetidos à ventilação mecânica”.

Anteriormente, a SBI deixava a critério dos profissionais de saúde e dos pacientes a decisão do uso da substância, a depender do quadro clínico do caso. A decisão da entidade, segundo a nota divulgada, se baseia em ensaios publicados em importantes revistas médicas, nos quais foram avaliadas a eficácia e a segurança da hidroxicloroquina, mesmo em pacientes com os primeiros sintomas da COVID-19.

Segundo a SBI, um dos estudos avaliou pacientes em 40 estados americanos e três províncias do Canadá e não constatou benefício clínico –– observou-se apenas efeitos colaterais, como diarreia e vômito. A outra pesquisa, na Espanha, também não confirmou a redução da carga viral.

Probabilidade
 
Questionado sobre uma possível mudança na orientação do ministério, o secretário de Ciência, Tecnologia, Inovação e Insumos Estratégicos, Hélio Angotti Neto, afirmou que a pasta “provavelmente” acatará. “Se mudará as orientações? Provavelmente sim. Da nossa parte, não há problema nenhum em mudar a orientação”, disse, em coletiva de imprensa.
 
A possibilidade de mudar a orientação veio um dia depois de a pasta pressionar a Fiocruz para divugar e recomendar a cloroquina e sua derivada. Ofício enviado pelo secretário de Atenção Especializada à Saúde, Luiz Otávio Franco Duarte, solicitou que houvesse “ampla divulgação desse tratamento, considerando que ele integra a estratégia do Ministério da Saúde para reduzir o número de casos que cheguem a necessitar de internação hospitalar para tratamento de síndromes de pior prognóstico”. O documento também foi enviado para o Instituto Evandro Chagas e para o Instituto Fernandes Figueira.
 

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