A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) alega que 90% dos focos de incêndio na área da Floresta Amazônia em 2019 ocorreram em áreas já desmatadas. No ano passado, o aumento das queimadas na região elevou as críticas à política ambiental do governo Jair Bolsonaro, pondo em risco investimentos estrangeiros no País.
Segundo a estatal vinculada ao Ministério da Agricultura, em nota técnica divulgada este mês, o aumento do fogo na Amazônia não estaria derrubando porções da floresta para a abertura de novas áreas de cultivo. A Embrapa põe a culpa das queimadas em pequenos produtores rurais já estabelecidos na região, que não contariam com tecnologias mais modernas para o preparo de terrenos utilizados em pastagens e lavouras.
Ao cruzar dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) com as informações do Cadastro Ambiental Rural (CAR/SFB), os analistas da Embrapa Territorial apontam que no primeiro semestre de 2019 foram identificadas 76.016 queimadas em áreas de desmatamento já consolidado na Amazônia. Os técnicos ressaltam que esses locais desenvolvem atividades agropecuárias "há anos, dezenas de anos e até há séculos".
"Arredondando, 90% das queimadas detectadas em 2019 ocorreram em locais já desmatados e estão associadas ao uso do fogo na agropecuária por produtores pouco tecnificados", diz o documento.
Outra conclusão
Outros estudos já tinham revelado que o fogo de fato ocorre em locais desmatados, mas a conclusão foi bem diferente da indicada pela Embrapa. Análises das queimadas do ano passado na Amazônia feitas por pesquisadores da Nasa, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e pelo Instituto de Pesquisas Ambientais da Amazônia (Ipam) revelaram que boa parte das áreas desmatadas nos meses anteriores é que estavam sendo queimadas, em um processo de limpeza do terreno.
De fato ninguém bota fogo na Amazônia como primeiro movimento para derrubar a floresta. O fogo, de acordo com especialistas, ocorre justamente como etapa final do processo, para limpar áreas que recém foram desmatadas. A floresta é derrubada, os troncos que não são usados para exploração de madeira ficam secando no solo e depois ateia-se fogo para limpeza.
As proporções dos incêndios, segundo análises da Nasa, não são condizentes com limpeza de pasto por pequenos agricultores. São grandes áreas com muito material orgânico queimando exatamente onde meses antes o Inpe apontou desmatamento.
Segundo o Ipam, os dez municípios amazônicos que mais registraram focos de incêndios na Amazônia até agosto do ano passado foram também os que tiveram maiores taxas de desmatamento.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.