Maior liderança indígena do País, o cacique Raoni teve alta hospitalar neste sábado, 25, em Sinop, no Mato Grosso, após mais de uma semana internado. Com idade estimada de 89 anos, ele sofreu anemia severa e hemorragia digestiva após apresentar sintomas de desidratação, úlceras gástricas e inflamação no cólon, segundo informações do Instituto Raoni.
Após participar de coletiva de imprensa com a equipe médica, o líder da etnia caiapó retornará para a aldeia Metuktire, na terra indígena Capoto/Jarina. Ele apresentava um quadro depressivo após a morte de sua esposa, Bekwyjkà Metuktire, aos 90 anos, no fim de junho.
Indicado ao prêmio Nobel da Paz em 2019, Raoni foi internado em um hospital de Colíder (MT) e, depois, transferido para Sinop após apresentador piora no estado de saúde.
No ano passado, em entrevista ao Estadão, fez críticas a políticas do governo Bolsonaro e disse que não vai aceitar de integrar os povos indígenas ao modo de viver dos não-índios. "Já não vejo mais floresta grande no Brasil. Só tem um pouquinho nas terras indígenas. Tem muita destruição, desmatamento, muito garimpeiro destruindo as terras", disse. "Hoje respiramos através das árvores, da natureza. Se continuar com o desmatamento, a destruição, todos vamos silenciar. Todos vamos sumir dessa terra. O homem branco também."
Raoni aprendeu a falar português após ter contato com os irmãos Villas-Boas, em 1954. Viajou com eles e se tornou tradutor não só da voz dos indígenas como de sua cultura e do ambiente em que viviam. Ficou famoso no País em 1984, quando foi à Brasília pintado de vermelho para guerra, com uma borduna, e literalmente puxou a orelha do então ministro do Interior, Mario Andreazza, cobrando demarcação definitiva do Parque do Xingu, criado pelos Villas-Boas em 1961.
Conhecido internacionalmente depois de 1989, quando fez uma turnê mundial com o cantor Sting para chamar a atenção para os riscos à Amazônia, Raoni já foi recebido por presidentes e por dois papas. No ano passado, se encontrou com o presidente francês Emmanuel Macron, (já havia sido, nos anos 2000, recebido por Jacques Chirac), e com o papa Francisco, em preparação para o sínodo da Amazônia.