O jornalista Rodrigo Rodrigues faleceu no fim da manhã desta terça-feira, entristecendo colegas de profissão, entidades esportivas e atletas, amigos e familiares, assim como todo o público que costumava ver o apresentador no comando de programas da Rede Globo e no SporTV. Rodrigo recebeu a confirmação para a COVID-19 há duas semanas, e a princípio não teve sintomas graves. Mas, no último fim de semana, passou mal e foi hospitalizado em unidade médica da Unimed no Rio de Janeiro. O coronavírus acabou desencadeando trombose venosa cerebral.
O comunicador estava internado desde a noite do último sábado, 25. No domingo, foi submetido a procedimento cirúrgico para reduzir a pressão intracraniana decorrente da trombose, mas teve complicações. Segundo os boletins do hospital, ele estava em coma induzido e em estado grave, e acabou não resistindo. Rodrigo tinha 45 anos.
Em geral, a trombose ocorre quando o vaso sanguíneo fecha e barra a circulação normal do sangue. O problema se manifesta quando um coágulo (chamado trombo) se constitui nos vasos sanguíneos, veias ou artérias, de maneira parcial ou total.
O neurocirurgião Júlio Pereira, da Beneficência Portuguesa de São Paulo (BP), explica que os tipos mais comuns de trombose são os que acometem as pernas e o pulmão. Em circunstâncias mais raras afetam o cérebro, como foi o caso de Rodrigo Rodrigues - dentre as várias consequências que podem prejudicar ou agravar o quadro clínico de pacientes com a COVID-19, a trombose venosa cerebral é um risco importante. "Começamos a associar a COVID-19 com o problema. Tem sido uma ocorrência frequente, quando a infecção agrava fatores inflamatórios. No cérebro, é uma das formas mais agressivas, como aconteceu com o jornalista, tão jovem", diz.
Ainda que esclarecimentos acerca da questão não sejam tão precisos, o neurocirurgião aponta duas hipóteses: além da inflamação do vaso propriamente dita que predispõe à trombose (e também ao AVC em grandes vasos), mais uma constatação parte da própria resposta do organismo para combater a COVID-19. "Quando o organismo está diante de um distúrbio e começa a produzir anticorpos, também produz uma série de substâncias, entre elas a citocina. Se a produção da citocina é exacerbada, se a maneira de ação e reação do próprio corpo é exagerada, pode acabar sendo prejudicial. É quando a substância é produzida em um nível mais alto ao que é necessário. O próprio organismo, no momento de formar a defesa, gera o transtorno", esclarece.
As chamadas "tempestades de citocina" representam uma reação hiperinflamatória, e têm um papel-chave nos casos graves de COVID-19. A questão é que muito ainda não está claro sobre o tema. Além do consenso sobre o risco maior de complicações devido à infecção do coronavírus entre idosos, cardiopatas, diabéticos, hipertensos, obesos, pessoas com doenças no pulmão e doenças autoimunes, a manifestação e as decorrências agressivas da COVID-19 podem ocorrer mesmo sem a presença de tais fatores. "Estudos ainda não são conclusivos sobre o tema. Não se sabe ainda porque essa reação imune exagerada acontece. Não há comprovações", explica Júlio Pereira.
Algumas pesquisas recentes atrelam a trombose a estados graves da COVID-19. Parâmetros anormais de coagulação incorrem comumente em óbito do paciente. Em levantamento coordenado por cientistas na China, quando foram considerados 183 pessoas infectadas pelo coronavírus, revelou-se que 71% dos que faleceram apresentavam coágulos. No Holanda, especialistas também identificaram, entre 184 pacientes da COVID-19 internados em UTIs, que um terço deles tinha coágulos. Em alguns casos, a coagulação descontrolada também pode causar infarto, AVCs e amputações.
De acordo com informações da Sociedade Internacional de Trombose e Hemostasia, uma em cada quatro pessoas no mundo falece devido a complicações causadas pela trombose. Entre a população mais vulnerável, afetada pela formação de trombos ou coágulos, estão gestantes e mulheres no puerpério e pessoas com câncer. Mulheres em idade fértil que utilizam anticoncepcionais também são mais suscetíveis à trombose.
Mas, muitas vezes, são consequências que não se limitam a questões de gênero ou situações específicas em cada fase da vida. Entre os fatores que aumentam a chance de aparecimento da trombose venosa cerebral, estão: tabagismo, hereditariedade, idade avançada, presença de tumores malignos e varizes, ficar sentado ou deitado por longos intervalos de tempo, insuficiência cardíaca, obesidade, distúrbios de hipercoagulabilidade hereditário ou adquirido, e história prévia de trombose venosa.