Jornal Estado de Minas

Vacinas contra a COVID-19 enfrentam teste 'do mundo real' no Brasil



No dia em que a Rússia registrou a primeira vacina da COVID-19, o Estado de Minas realiza levantamento das vacinas testadas ou desenvolvidas no Brasil e em Minas. Duas candidatas a imunizante contra o novo coronavírus estão sendo testadas em humanos no Brasil, uma desenvolvida pela Universidade de Oxford e o laboratório Astrazeneca e a CoronaVac, desenvolvida pela biofarmacêutica chinesa Sinovac Biotech, cujos testes da fase 3 da terceira etapa estão sendo aplicados por pesquisadores da UFMG, considerada a mais crítica do processo. “Agora, é o mundo real”, define o professor Flávio Fonseca, do Departamento de Microbiologia do Instituto de Ciências Biológicas da instituição, virologista e pesquisador do CTVacinas.




 
Até o momento, a chinesa foi aplicada em 20 dos 850 voluntários necessários nesta fase 3. Uma terceira vacina, em desenvolvimento pelo CTVacinas da UFMG, entrou na etapa 2, quando são feitos testes em animais. Os pesquisadores estimam que a etapa 2 deve levar de quatro a seis meses e logo depois devem iniciar os ensaios clínicos em humanos.

O desenvolvimento de vacina compreende três etapas, divididas em cinco fases: a primeira (bancada de laboratório) e segunda etapas (teste pré-clínico) têm, cada uma, respectivamente, uma fase, enquanto a terceira etapa (ensaio clínico), com aplicação da substância em humanos, é compreendida por três fases. O ensaio clínico consiste em três fases, que medem, sucessivamente, a segurança, geração de anticorpos e eficácia. A Oxford/Astrazeneca e CoronaVar estão na etapa 3. A vacina do CTVacinas chegou à etapa 2.
 
Na primeira fase da terceira etapa, o pesquisador avalia se o grupo testado apresentou algum efeito colateral. Na fase seguinte, é verificado se foram gerados anticorpos e células de imunidade. A última fase da terceira etapa avalia a eficiência, se de fato a substância protegeu os voluntários do vírus. Nessa última fase, são realizados testes em grande número de voluntários, sendo que alguns recebem o medicamento e outros, substância placebo.




 
A CoronaVac será aplicada em 850 voluntários. Depois que recebem a substância, eles voltam à vida normal. Os cientistas então, depois do acompanhamento, analisam se a substância candidata a vacina protegeu percentual expressivo dos voluntários.
 
O médico Mauro Teixeira, professor do Departamento de Bioquímica e Imunologia, coordenador do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Fármacos do Instituto de Ciências Biológicas da UFMG, é o responsável pelos testes. Ele foi procurado pela reportagem, mas, por meio da assessoria, disse que está envolvido com ações de sua pesquisa e não pôde atender a imprensa.
 
O professor Flávio Fonseca, do Departamento de Microbiologia do ICB, virologista e pesquisador do CTVacinas, acredita que é pouco provável que os laboratórios comecem a vacinar grupos populacionais em massa antes de 2021. Flávio acredita que, mesmo que os pesquisadores acelerem, os resultados da fase 3 das vacinas em ensaio clínico devem ficar prontos até o final deste ano.




 
"A intenção publicizada por alguns laboratórios é de começar a vacinar grupos específicos até antes do fim de 2020, mas estamos falando de uma vacinação experimental. Vacinação em massa, de uma população como a brasileira, dificilmente vai acontecer antes de 2020. Estamos com perspectiva de início de vacinação em 2021 se os resultados dessas substâncias forem realmente bons", diz Flávio.
 
A Universidade de Oxford e a Astrazeneca, que publicaram os resultados das etapas 1 e 2 da candidata a vacina, adotaram tecnologia inédita. Não há nenhuma vacina humana licenciada que use essa tecnologia. “São bons resultados, muito promissores. Mas a fase três da terceira etapa é a mais crítica. Na fase 1, avalia-se se tem efeito colateral; na fase 2, se gera anticorpos e imunidade. Agora, na fase 3, é o mundo real. A eficácia é avaliada agora. Há grande chance de dar certo, mas, em ciência, só testando. Só provando. A fase crítica começou agora”, afirma Flávio.

Ainda não há publicações em revistas científicas sobre os resultados da CoronaVac. Na fase 3 da terceira etapa, milhares de voluntários são imunizados. No entanto, a exposição ao vírus ocorre de forma natural, ou seja, no cotidiano da cidade em que cada voluntário vive. Por isso, essa fase é realizada, preferencialmente, em localidades onde esteja ocorrendo a infecção. Com alto número de casos e curva de transmissão ascendente para a COVID-19, o Brasil foi escolhido para os testes. (MMC)

Candidatos a imunizante


Células infectadas pelo novo coronavírus: busca por vacina provoca corrida internacional (foto: Handout/AFP)
Conheça a tecnologia de três vacinas em teste contra o coronavírus no Brasil

» Oxford/Astrazeneca – Vacina chamada de vetor viral. Um gene que codifica uma proteína do coronavírus é inserido no genoma de outro vírus, chamado de adenovírus, por engenharia genética. Nesse caso, é um adenovírus de chimpanzé, não patogênico para o ser humano. O adenovírus, dentro do DNA, leva um pedacinho do genoma do coronavírus. Quando entra em uma célula humana se multiplica e produz, além da própria proteína, também a proteína do coronavírus. O sistema imunológico gera resposta imune, células de defesa, contra todas aquelas proteínas do adenovírus (vetor viral) e também contra a proteína do coronavírus cujo gene foi inserido por engenharia genética.




 
» CoronaVac – É uma vacina clássica, composta por vírus morto. O vírus é multiplicado em laboratório e inativado por meio de processos físicos e químicos. Já há vacinas humanas que adotam essa estratégia. Por exemplo, a vacina tradicional usada no Brasil contra a gripe é composta por vírus morto.

» Vacina CTVacinas – É semelhante à vacina da AstraZeneca. Usa um vírus da gripe atenuado, não replicativo. Um gene que codifica a proteína do coronavírus é inserido no genoma desse vírus. Quando entra na célula, o vetor viral tem o vírus vacinal (da gripe) e a proteína do coronavírus. O sistema imune não faz distinção, reagindo aos dois.

O que é o coronavírus


Coronavírus são uma grande família de vírus que causam infecções respiratórias. O novo agente do coronavírus (COVID-19) foi descoberto em dezembro de 2019, na China. A doença pode causar infecções com sintomas inicialmente semelhantes aos resfriados ou gripes leves, mas com risco de se agravarem, podendo resultar em morte.



Vídeo: Por que você não deve espalhar tudo que recebe no Whatsapp

Como a COVID-19 é transmitida? 

A transmissão dos coronavírus costuma ocorrer pelo ar ou por contato pessoal com secreções contaminadas, como gotículas de saliva, espirro, tosse, catarro, contato pessoal próximo, como toque ou aperto de mão, contato com objetos ou superfícies contaminadas, seguido de contato com a boca, nariz ou olhos.

Vídeo: Pessoas sem sintomas transmitem o coronavírus?


Como se prevenir?

A recomendação é evitar aglomerações, ficar longe de quem apresenta sintomas de infecção respiratória, lavar as mãos com frequência, tossir com o antebraço em frente à boca e frequentemente fazer o uso de água e sabão para lavar as mãos ou álcool em gel após ter contato com superfícies e pessoas. Em casa, tome cuidados extras contra a COVID-19.
Vídeo: Flexibilização do isolamento não é 'liberou geral'; saiba por quê

Quais os sintomas do coronavírus?

Confira os principais sintomas das pessoas infectadas pela COVID-19:

  • Febre
  • Tosse
  • Falta de ar e dificuldade para respirar
  • Problemas gástricos
  • Diarreia

Em casos graves, as vítimas apresentam:

  • Pneumonia
  • Síndrome respiratória aguda severa
  • Insuficiência renal
Os tipos de sintomas para COVID-19 aumentam a cada semana conforme os pesquisadores avançam na identificação do comportamento do vírus. 



Vídeo explica por que você deve 'aprender a tossir'


Mitos e verdades sobre o vírus

Nas redes sociais, a propagação da COVID-19 espalhou também boatos sobre como o vírus Sars-CoV-2 é transmitido. E outras dúvidas foram surgindo: O álcool em gel é capaz de matar o vírus? O coronavírus é letal em um nível preocupante? Uma pessoa infectada pode contaminar várias outras? A epidemia vai matar milhares de brasileiros, pois o SUS não teria condições de atender a todos? Fizemos uma reportagem com um médico especialista em infectologia e ele explica todos os mitos e verdades sobre o coronavírus.

Coronavírus e atividades ao ar livre: vídeo mostra o que diz a ciência

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