Há um ano, Letícia Curado, 26 anos, saía de casa para nunca mais retornar. Por volta das 7h de uma sexta-feira, a advogada deixava o bairro Arapoanga, em Planaltina, para ir ao trabalho, no Ministério da Educação (MEC), localizado na Esplanada dos Ministérios. Atrasada, ela resolveu entrar em um veículo, uma Blazer prata, conduzida pelo cozinheiro Marinésio dos Santos Olinto, 42, que se identificou como motorista de transporte pirata.
A ideia era chegar mais rápido ao destino. Entretanto, ela foi atacada e morta asfixiada. A partir do caso, a Polícia Civil conseguiu chegar ao assassino confesso e desvendar outros crimes cometidos por ele, como estupros, abusos sexuais e outro feminicídio. Um ano após a tragédia, famílias destruídas por Marinésio, inclusive a dele, tentam se reerguer.
Os investigadores da 31ª Delegacia de Polícia (Planaltina) prenderam Marinésio em 24 de agosto do ano passado, um dia após o desaparecimento de Letícia. Imagens de segurança da região mostram o momento em que a jovem entrou no carro do cozinheiro, em frente à parada de ônibus. Na noite do dia seguinte, os agentes encontraram o carro dele em via pública e, em seu interior, objetos que pertenciam à advogada. Na segunda-feira, 26 de agosto, ele confessou o crime e ainda revelou ter matado mais uma mulher em junho, a auxiliar de cozinha Genir Pereira Sousa, 47.
Após a prisão de Marinésio e a divulgação de vídeos e fotos dele pela imprensa, outras mulheres procuraram a Polícia Civil para denunciar abusos e estupros cometidos pelo cozinheiro. Conforme o Correio apurou, atualmente, Marinésio responde processualmente pelas mortes de Letícia e Genir e por cinco crimes de violência sexual, três de Planaltina, uma de Sobradinho e outro do Paranoá.
Além das acusações ainda em trâmite na Justiça, o cozinheiro foi condenado, em 7 de maio deste ano, a 10 anos de prisão pelo estupro de uma jovem que, à época do crime, tinha 17 anos. A vítima foi atacada na área de Pinheiral, no Paranoá, em 1° de abril de 2019. Para abordar a jovem, Marinésio usou o mesmo modo de atuação: em um veículo pessoal, ofereceu carona. Diante da negativa, ele desceu do automóvel e, com uma faca na mão, obrigou a então adolescente a entrar no banco de trás do carro, sob ameaça de morte, seguindo para a região deserta da cidade, onde estacionou. Ele a estuprou, conforme descreve o processo. A defesa do sentenciado recorreu da decisão e o processo ainda corre na Justiça.
Apesar de ser assassino confesso de Letícia e Genir, o júri de Marinésio relacionado a esses feminicídios ainda não está marcado. Entretanto, na sexta-feira (28/8), o cozinheiro estará no Fórum de Planaltina para a audiência de três casos de abuso sexual. Em uma das acusações, ele atacou duas irmãs, de 18 e de 21 anos. O caso foi em 24 de agosto, um dia após o assassinato de Letícia Curado. As jovens tinham saído de uma festa e decidiram pegar carona com o sentenciado. Após serem assediadas, as vítimas conseguiram fugir depois de ameaçarem quebrar o veículo do agressor com uma barra de ferro. Ele responde pelo estupro da vítima mais velha e pela tentativa de abuso sexual da mais jovem.
Defesa
Após ser condenado em maio deste ano, Marinésio deixou o Centro de Detenção Provisória (CDP) e foi transferido para a Penitenciário do Distrito Federal 1 (PDF1). Pela repercussão do caso, ele permaneceu isolado em uma cela. Entretanto, atualmente, divide o cárcere com outros detentos. De acordo com o advogado do cozinheiro, Marcos Venício Fernandes Aredes, o sentenciado está “tranquilo e não sofre nenhuma represália”.
De acordo com o advogado, a imagem de que Marinésio é um monstro, criada pelo púbico, não existe. “Ele confessou, para mim, que, depois que fez 41 anos, passou a ter um apetite sexual revigorado. Nunca pensou em matar ninguém, mas aconteceu e ele não consegue explicar”, afirma. Marcos ainda completa que o acusado teve problemas psicológicos e que costumava ter “apagões” quando cometia os crimes.
Marcos ainda completa que o cozinheiro não cometeu violência sexual ou qualquer tipo de estupro. “Ele não é esse monstro que as pessoas acreditam e, agora, passa por um período de desconstrução dessa imagem criada pela mídia e pela polícia”, alega.
Sonho interrompido
Aos 26 anos, Letícia Sousa Curado de Melo vivia em uma fase de conquistas. Evangélica, ela havia passado no exame da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) em 2018 e começou a estudar para concursos. A advogada morava em Planaltina com o marido, Kaio Fonseca Curado de Melo, 26, e com o filho de casal, hoje com 4 anos. Ela era funcionária terceirizada no MEC, onde prestava assessoria jurídica. Em fevereiro de 2019, a jovem foi aprovada no concurso público do Ministério Público da União (MPU) para o cargo de analista e aguardava ser convocada. Em junho do mesmo ano, passou no processo seletivo para estudar na Fundação Escola Superior do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) e, em agosto, começou a frequentar as aulas do curso de pós-graduação em ordem jurídica e MPDFT, destinado a quem deseja ingressar na carreira de promotor público.