Aos poucos, especialistas da área médica conseguem entender melhor os efeitos do novo coronavírus no organismo humano, principalmente em perfis distintos de pacientes. Em um estudo publicado na revista Nature Medicine, cientistas ingleses mostram dados que apontam para a ocorrência da síndrome inflamatória multissistêmica (MIS-C) em crianças infectadas pelo Sars-CoV-2. Os pesquisadores explicam que o problema de saúde difere da síndrome de Kawasaki, outra enfermidade apontada como possível consequência da infecção pelo novo coronavírus em indivíduos mais jovens, que, aparentemente, são menos acometidos pela COVID-19.
No estudo, os cientistas destacam que pesquisas recentes têm apontado uma nova síndrome clínica em crianças infectadas pelo Sars-CoV-2, responsável por sintomas como erupção cutânea, dor abdominal e febre, também sinais da COVID-19. “Antes, pensava-se que essas características seriam apenas um agravamento da infecção. Mas vimos que ela pode ser considerada uma enfermidade já conhecida, definida como síndrome inflamatória multissistêmica em crianças (MIS-C)”, destacaram os autores do artigo, liderados por Manu Shankar-Hari, pesquisador do Kings College London.
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Os cientistas constataram ainda que, na fase aguda da doença, os pacientes apresentaram níveis elevados de citocinas (proteínas liberadas pelas células do sistema imunológico), uma atividade também vista em adultos com COVID-19. Durante o estágio agudo da MIS-C, o número total de células B e tipos diferentes de células T, ambas moléculas de defesa do corpo, diminuíram. “Declínios semelhantes foram observados nas respostas imunes de adultos com o novo coronavírus. Esses dados sugerem que as respostas imunológicas em pacientes com MIS-C e em pacientes adultos com o Sars-CoV-2 compartilham algumas semelhanças.”
Diferenciando
Natasha Slhessarenko, pediatra e patologista clínica do laboratório Exame, em Brasília, destaca que o estudo inglês também ajuda a entender melhor o comportamento do coronavírus em crianças. “No começo, achávamos que elas não tinham casos graves da doença, mas, em abril, começamos a ver sinais de um problema inflamatório pediátrico, a síndrome de Kawasaki, e tivemos a suspeita de que essa enfermidade poderia estar relacionada ao novo coronavírus”, detalhou. “Porém, novos estudos mostram que os sintomas que essas crianças infectadas apresentam são mais semelhantes aos da MIS-C.”
A médica explica que o estudo inglês, apesar de ter sido feito em um grupo de pacientes pequenos, mostra dados que ajudam a entender melhor essa diferenciação. “Eles viram, por exemplo, que esses sintomas atingiram crianças maiores. Na Kawasaki, temos crianças bem menores. Outro ponto foi a dor abdominal, que é um sintoma da MIS-C apenas”, comparou. No artigo, os autores do estudo indicam que o pico da incidência da síndrome de Kawasaki foi entre 1 e 3 anos, a de MIS-C, entre 7 e 14 anos, e indicam outras diferenciações entre as doenças. “Sintomas gastrointestinais e disfunção miocárdica são incomuns na doença de Kawasaki, sendo que ambos foram mais prevalentes em nossos casos de MIS-C soropositivos”, escreveram.
Segundo Slhessarenko, as semelhanças relacionadas ao comportamento do sistema imune das crianças e dos adultos em relação ao Sars-CoV-2 observadas no estudo também corroboram outra suspeita levantada por especialistas. “Essas similaridades nos mostram que essa síndrome nas crianças seria semelhante à fase três da COVID-19 em adultos, chamada de resposta hiperinflamatória, quando ocorre a chamada tempestade de citocinas, algo de que já se tinham desconfianças”, detalhou.
Para a médica, pesquisas maiores ajudarão a esclarecer melhor os efeitos do coronavírus em pacientes infantis. “Só poderemos esclarecer melhor esse tema com mais pesquisa, e, como os autores desse estudo também ressaltam, com testes genéticos, que podem ser a chave para definir por que algumas pessoas têm reações mais graves à enfermidade e outras não.”
Carga viral dos pequenos é maior
Os casos raros de crianças com COVID-19 fizeram os médicos acreditarem, por um bom tempo, que elas seriam pouco suscetíveis ao Sars-CoV-2. Contudo, o maior estudo já realizado sobre o tema, publicado no Journal of Pediatrics, mostra que, embora adoeçam menos do que os mais velhos, elas são infectadas igualmente. O mais grave é que a pesquisa identificou em pacientes pediátricos e jovens – inclusive os assintomáticos –, carga viral significativamente maior do que a detectada em adultos internados nas unidades de terapia intensiva (UTIs), em estado crítico.
De acordo com os pesquisadores, que disseram ter ficado surpreendidos com o resultado, isso faz com que as crianças e os jovens adultos sejam “transmissores silenciosos” da COVID-19. Embora desde o início da pandemia tenha sido alertado que eles poderiam espalhar o vírus sem adoecer, Lael Yonker, do Hospital Geral de Massachusetts e principal autora do estudo, explica que esse potencial é muito maior do que se poderia imaginar devido à carga viral detectada nos pacientes com menos idade.
A pesquisa foi realizada com 192 crianças, adolescentes e jovens adultos de até 22 anos. Desses, 49 testaram positivo para a doença em exames realizados no Hospital Geral de Massachusetts e no Hospital Geral Pediátrico de Massachusetts. Também entraram no estudo 18 pessoas, da mesma faixa etária, que apresentaram condições associadas à infecção prévia por Sars-CoV-2. Os resultados mostraram que aquelas com o vírus ativo tinham quantidade muito grande do micro-organismo circulando.
“Eu não imaginaria que seria uma carga viral tão alta; significativamente maior do que a dos adultos graves, internados nas UTIs”, diz Yonker. Essa característica foi observada especialmente nos dois primeiros dias de infecção. “Você pensa em um hospital e em todos os protocolos e precauções tomados para tratar os adultos gravemente enfermos, mas as cargas virais desses pacientes hospitalizados são significativamente mais baixas do que as de uma criança ou de um jovem aparentemente saudáveis e que estão circulando por aí com uma grande quantidade de Sars-CoV-2”, afirma a médica.
Yonker esclarece que o potencial de transmitir o vírus para outras pessoas está diretamente relacionado à carga viral – quanto maior, mais elevado o risco. Mesmo com uma quantidade alta de Sars-CoV-2 no organismo, pacientes mais jovens, especialmente as crianças, costumam apresentar sintomas leves de condições típicas dessa fase da vida, como febre, tosse e coriza, que podem ser facilmente confundidos com um resfriado.
Menos receptores
Além da quantidade de vírus circulante, os pesquisadores estudaram como os receptores virais nas células reagem ao Sars-CoV-2 e também à resposta do sistema imunológico de crianças e jovens infectados. Até agora, a crença mais comum é de que os pacientes mais jovens tenham menos receptores, reduzindo os riscos de o micro-organismo conseguir entrar nas células e, dentro do núcleo, se reproduzir. Isso explicaria por que eles seriam menos propensos a se infectar e ficar doentes.
Contudo, segundo Alessio Fasano, diretor do Centro de Pesquisa de Biologia e Imunologia Mucosal do Hospital Geral de Massachusetts e coautor do estudo, apesar de as crianças mais novas realmente apresentarem menos receptores virais, se comparadas às mais velhas, aos jovens e aos adultos, quando infectadas elas apresentarão uma carga ainda maior. “Isso quer dizer que as crianças pequenas são mais contagiosas, independentemente de desenvolverem ou não a infecção por Sars-CoV-2”, afirma Fasano.
“As crianças não estão imunes à COVID-19 e seus sintomas não se correlacionam com a exposição e a infecção”, reforça o médico. “Durante boa parte da pandemia, rastreamos principalmente indivíduos sintomáticos. Então, chegamos à conclusão errônea de que a maioria das pessoas infectadas é adulta. No entanto, nossos resultados mostram que as crianças não estão protegidas contra esse vírus. Não devemos descartar as crianças como potenciais propagadores do Sars-CoV-2.”
Inflamação dos vasos
É uma doença pediátrica que causa febre, lábios ressecados e manchas na pele. Esses problemas são provocados por uma inflamação dos vasos, chamada vasculite. A causa dessa enfermidade ainda não foi descoberta. Com o surgimento da COVID-19, os pesquisadores começaram a notar um aumento de casos da síndrome, que é considerada rara, em crianças infectadas pelos Sars-CoV-2. Com isso, especialistas passaram a suspeitar que poderia existir ligação entre as duas doenças.
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Como a COVID-19 é transmitida?
A transmissão dos coronavírus costuma ocorrer pelo ar ou por contato pessoal com secreções contaminadas, como gotículas de saliva, espirro, tosse, catarro, contato pessoal próximo, como toque ou aperto de mão, contato com objetos ou superfícies contaminadas, seguido de contato com a boca, nariz ou olhos.Vídeo: Pessoas sem sintomas transmitem o coronavírus?
Como se prevenir?
A recomendação é evitar aglomerações, ficar longe de quem apresenta sintomas de infecção respiratória, lavar as mãos com frequência, tossir com o antebraço em frente à boca e frequentemente fazer o uso de água e sabão para lavar as mãos ou álcool em gel após ter contato com superfícies e pessoas. Em casa, tome cuidados extras contra a COVID-19.Vídeo: Flexibilização do isolamento não é 'liberou geral'; saiba por quê
Quais os sintomas do coronavírus?
Confira os principais sintomas das pessoas infectadas pela COVID-19:
- Febre
- Tosse
- Falta de ar e dificuldade para respirar
- Problemas gástricos
- Diarreia
Em casos graves, as vítimas apresentam:
- Pneumonia
- Síndrome respiratória aguda severa
- Insuficiência renal
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Mitos e verdades sobre o vírus
Nas redes sociais, a propagação da COVID-19 espalhou também boatos sobre como o vírus Sars-CoV-2 é transmitido. E outras dúvidas foram surgindo: O álcool em gel é capaz de matar o vírus? O coronavírus é letal em um nível preocupante? Uma pessoa infectada pode contaminar várias outras? A epidemia vai matar milhares de brasileiros, pois o SUS não teria condições de atender a todos? Fizemos uma reportagem com um médico especialista em infectologia e ele explica todos os mitos e verdades sobre o coronavírus.Coronavírus e atividades ao ar livre: vídeo mostra o que diz a ciência
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