Jornal Estado de Minas

Caso padre Robson: Advogado afirma que associação usou dinheiro de doações em investimentos

Advogado do padre Robson, que está no centro de uma investigação do Ministério Público de Goiás (MP-GO) sobre desvio de recursos, Pedro Paulo de Medeiros alegou, em entrevista ao Correio, que o estatuto da Associação Filhos do Pai Eterno (Afipe) prevê, expressamente, a possibilidade de se pegar dinheiro de doações para investimentos, com o objetivo de aumentar os recursos a serem aplicados na evangelização. O religioso Robson de Oliveira foi afastado da reitoria do Santuário do Divino Pai Eterno da presidência da Afipe, após o MP apontar suspeita de lavagem de dinheiro e desvio de recursos na associação que movimentou R$ 2 bilhões em 10 anos. A investigação identificou pagamentos suspeitos na ordem de R$ 120 milhões, com prejuízo de R$ 60 milhões à Afipe.





No site da associação, criada pelo padre em 2004 e com sede na cidade goiana de Trindade, explica-se que “as doações recebidas são voltadas para a evangelização por meio da TV e para obras sociais”. Investigação do Ministério Público do Estado de Goiás (MP-GO), porém, apontou que recursos da fundação foram usados para compra de imóveis, como uma fazenda, em Abadiânia (GO), por R$ 6 milhões; e uma casa de praia, avaliada em R$ 2 milhões.

“Isso (possibilidade de investimentos) está expresso no estatuto. A Afipe foi criada para adotar medidas de evangelização, entre elas construir a Basílica, comprar (concessões de) TV, construir igrejas, asilos e a forma de se ter mais dinheiro pode ser por meio de investimento, com compra e venda de imóveis. Isso está expresso no estatuto”, alegou Pedro Paulo. Mas as negociações ligadas à Igreja apontam prejuízos. Em uma das situações, a Afipe teria vendido uma residência por R$ 1,35 milhão, avaliada em R$ 2 milhões e hipotecada por R$ 7,35 milhões.

A investigação do MP estima um prejuízo total à associação de R$ 60 milhões. O advogado disse desconhecer a cifra. Para uma instituição que movimenta R$ 2 bilhões, destacou, R$ 60 milhões representam um percentual pequeno. “A Microsoft, se a Bolsa sobe 0,001, é R$ 1 bilhão”, disse. E completou: “Se é que tem prejuízo, o que a gente desconhece, não tem nada ilegal em ter prejuízo.”





Conforme o advogado, a Afipe tem, sim, fins lucrativos. O lucro, segundo ele, permitiu que a instituição comprasse rádios, TV, além da construção de uma das maiores basílicas do país. “O estatuto diz, sim, que ela vai fazer investimento, aferir lucro e vai investir nela para fazer evangelização. É uma entidade privada, não é pública. Não é igreja, em que as pessoas decidem o que vão fazer. E elas optaram, sim, em investir, gerar lucro. O Ministério Público quer opinião de algo que não tem de ter opinião”, apontou. De acordo com o defensor, o órgão de investigação não deve opinar na questão, mas apurar se houve desvio de recurso da instituição.

Pedro Paulo foi taxativo ao afirmar que a decisão sobre compra de imóveis cabe ao Conselho da Afipe, presidido pelo padre Robson.


Operação


Padre Robson é investigado pela Operação Vendilhões, deflagrada na última sexta-feira, por suposta apropriação indébita, lavagem de dinheiro, falsificação de documentos e sonegação fiscal. Acatando o pedido do MP, a juíza Placidina Pires, da Vara de Feitos Relativos a Organizações Criminosas e Lavagem de Capitais, determinou busca e apreensão em 16 endereços ligados ao padre, incluindo a TV Pai Eterno. Ela não atendeu ao pedido de prisão do religioso.

A investigação teve início em 2018, após o religioso ser alvo de extorsão por parte de criminosos, que ameaçaram divulgar imagens e mensagens eletrônicas com informações pessoais, amorosas e profissionais que supostamente prejudicariam a imagem do padre. Segundo decisão judicial, que cita investigação, Robson de Oliveira negociou e determinou o pagamento de R$ 2,93 milhões, no total. De acordo com a decisão, foi retirado das associações R$ 1,2 milhão para pagamento dos criminosos, para que “mantivessem em sigilo interesses pessoais do padre”.





Cinco pessoas foram condenadas pela prática. Questionado se o pároco poderia retirar recursos da Afipe para pagar as extorsões, o advogado Pedro Paulo de Medeiros afirmou que os criminosos fizeram montagens de vídeos e fotos com o padre Robson, e que ele foi extorquido na condição de presidente da Afipe. “A ligação dele com a Afipe é essa”, resumiu.

O defensor garantiu, ainda, que tão logo o padre recebeu as extorsões, procurou a polícia e passou a pagar o grupo criminoso sob orientação dos policiais, para que pudessem rastrear as contas e os bandidos. “Por orientação da polícia, foram entregues valores. E os valores estão guardados no processo em que eles foram condenados, esperando orientação para retornar à Afipe. Não sumiram, não foram gastos.”

Ele reiterou, ainda, que “o dinheiro está todo guardado para retornar à Afipe. Não sumiu um real. O dinheiro não foi gasto. Ainda é da Afipe, portanto não há qualidade de ilegalidade nisso.”





 

Operação Vendilhões

  • Padre Robson é investigado por suposta apropriação indébita, lavagem de dinheiro, falsificação de documentos e sonegação fiscal


Total movimentado

  • Suspeito de desvio de recursos e lavagem de dinheiro, o padre Robson teria movimentado R$ 2 bilhões em 10 anos

Doação mensal

  • A estimativa é que as doações mensais sejam de aproximadamente R$ 20 milhões


Desvios

  • MP apontou movimentação suspeita de R$ 120 milhões, com estimativa de prejuízo à Afipe de R$ 60 milhões


Ameaças de divulgação

  • Padre Robson teria negociado e determinado o pagamento de R$ 2,9 milhões da Afipe a terceiros que o ameaçavam com informações pessoais


Prejuízo

  • Apurou-se que a empresa teve prejuízo de R$ 1,2 milhão para que os extorsionários mantivessem em sigilo interesses pessoais do padre