O desmatamento no Brasil, entre 2000 e 2018, atingiu uma área de meio milhão de quilômetros quadrados (km²), uma extensão territorial equivalente à da Espanha. A perda da cobertura natural da vegetação ocorreu em todos os biomas, porém, na Amazônia e no Cerrado a devastação foi maior, cerca de 90% da destruição total. Em 2018, a cobertura florestal da Amazônia representava 75,7% de sua área original.
Na Amazônia, nesses 18 anos, desapareceram 269,8 mil km² de vegetação nativa, uma extensão pouco superior à do estado de São Paulo. No cerrado, 152,7 mil km² foram perdidos, área maior que a do Ceará.
Os dados constam da primeira edição da pesquisa Contas de Ecossistemas: Uso da Terra nos Biomas Brasileiros (2000-2018), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgada nesta quinta-feira (24/9). O levantamento também apurou que a principal transformação no uso da terra foi a expansão das fronteiras agropecuárias.
De acordo com Maria Luisa Pimenta, gerente de Contas e Estatísticas Ambientais do IBGE, todos os biomas tiveram saldo negativo na extensão dos ecossistemas naturais no período analisado, somando 500 mil km². “Porém houve desaceleração ao longo dos anos. A perda proporcional do bioma Pampa foi a maior. Ao longo da série, o bioma teve 16,8% da área convertidos para usos antrópicos (ocupação de zonas terrestres pelo homem, decorrente de exploração). Apesar de sua pequena extensão, a perda relativa é consideravelmente superior à dos demais biomas”, explicou.
O Pantanal teve as menores perdas, tanto absolutas, quanto percentuais, com decréscimo de 2 mil km ou 1,57% do território, segundo a especialista. Vale lembrar que a pesquisa foi realizada entre 2000 e 2018 e não pega, portanto, 2019 e 2020, dois anos nos quais o bioma sofreu com incêndios acima da média. As queimadas, apenas neste ano, comprometeram mais de 20% da cobertura vegetal do Pantanal.
Vetores
A pesquisa do IBGE também apontou, para cada bioma, quais os vetores que causaram o desmatamento. Na Amazônia, a conversão para o uso agropecuário foi o principal motivo da destruição, segundo Pimenta. As áreas de pastagem com manejo passaram de 248,8 mil km², em 2000, para 426,4 mil km² em 2018. “Houve aumento de 71,4% para pastagem e crescimento gradual e contínuo de 300% para agricultura”, disse a gerente do IBGE.
No Cerrado, a expansão acelerada de áreas agrícolas atingiu 102,6 mil km², com a atividade avançando sobre a vegetação campestre ou antigas pastagens. Em 2018, 44,61% das áreas agrícolas e 42,73% das áreas de silvicultura (cultivo de florestas através do manejo agrícola) do Brasil encontravam-se no bioma.
Na Mata Atlântica, que tem lei específica de proteção, por ter sido o bioma mais devastado do país, em 2018, 12,6% estava coberto e houve pouca alteração disso, pois em 2000 a cobertura era de 13,3%. “A franca expansão da silvicultura e áreas agrícolas representam 20% das modificações do bioma”, disse Pimenta.
A Caatinga teve redução contínua de 36 mil km², basicamente de mosaicos, ocupação típica da região, de pequenas pastagens e cultivos de subsistência. No Pampa, a conversão das áreas naturais foi 80% para silvicultura. E, no Pantanal, a pastagem e o manejo são responsáveis por 60% das modificações do ecossistema.
Desaceleração
A maior desaceleração ocorreu no bioma Mata Atlântica: de uma perda de 8.793 km², entre 2000 e 2010, para menos 577 km², entre 2016 e 2018. Na Caatinga, nesses mesmos cortes temporais, as perdas foram de 17.165 km² e de 1.604 km², respectivamente. A Mata Atlântica, que sofre a ocupação mais antiga e intensa, conserva 16,6% de suas áreas naturais, o menor percentual entre os biomas. Já a Caatinga, o terceiro bioma mais preservado do país, tem 36,2% de seu território sob influência antrópica.