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Estado de Minas ENTREVISTA

'Excessos de óbitos pela COVID são catástrofe', diz ex-diretor do Ministério da Saúde

Ex-diretor de Imunizações, Júlio Croda, que chegou a prever 180 mil mortes no Brasil, confirma tendência de queda no número de vítimas, vê alta na mortalidade em Minas entre as menores, mas avalia como catástrofe excesso de óbitos em alguns outros estados


19/10/2020 06:00 - atualizado 19/10/2020 09:15

(foto: Wilson Dias/Agência Brasil)
(foto: Wilson Dias/Agência Brasil)

 

Desde agosto, o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) passou a divulgar um gráfico sobre “excesso de mortalidade”, produzido por epidemiologistas, professores e pesquisadores, a fim de avaliar os efeitos diretos e indiretos da pandemia da COVID-19 no Brasil, conforme estratégia recomendada pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

Os cálculos são feitos a partir de mortes naturais ocorridas no país entre 2015 e 2019, tendo, a partir dos números, a expectativa de óbitos para 2020. É neste contexto que o território nacional expõe um contraste, uma vez que os excessos 
variam entre 2% e 74%. 

Os cálculos do Conass apontam que, a partir da confirmação da primeira morte pela COVID-19 no Brasil, em meados de março, até 20 de junho, pelo menos 74 mil mortes a mais do que o esperado foram registrados nos cartórios. Os números, portanto, mostram que regiões com menos leitos de terapia intensiva, como o Norte e Nordeste, foram mais afetadas pela doença.

"Temos estados com 2% de excesso. Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Curitiba e Minas Gerais estão com os menores excessos de óbitos"

Júlio Croda,Ex-diretor de imunizações do Ministério da Saúde



Em entrevista ao Estado de Minas, o infectologista Júlio Croda, ex-diretor de imunizações do Ministério da Saúde, pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e professor da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS), detalhou a ideia do excesso de mortes. Em outra oportunidade, Croda havia dito ao EM que haveria um “massacre” se estados e municípios com estruturas mínimas de saúde permitissem a flexibilização, ressaltando que a ausência de diretrizes vindas do governo federal complicava ainda mais a situação. Mas, apesar disso, hoje o panorama é melhor do que há quatro meses, quando a reportagem foi publicada. “Estamos numa tendência de queda no Brasil. A maioria dos estados está numa tendência, de acordo com a curva epidemiológica, já teve uma queda importante”, disse Croda.

N o livro assinado por Luiz Henrique Mandetta, que deixou o Ministério da Saúde ainda no início da pandemia por divergências com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), o ex-ministro relatou as projeções feitas por sua equipe sobre os efeitos da COVID-19 no Brasil.

De acordo com Mandetta, o prognóstico mais crítico foi feito por Júlio Croda, que estimou 180 mil mortes, caso não fossem adotadas regras de distanciamento no país. "Um dos cenários, elaborado pelo médico Júlio Croda, diretor do Departamento de Imunizações e Doenças Transmissíveis do Ministério da Saúde, previa 180 mil mortes caso o país não adotasse as medidas necessárias de distanciamento social e padrões rígidos de higiene e proteção", publicou Mandetta.

Em junho, em entrevista ao EM, o senhor disse que o Brasil teria um “massacre, sobretudo entre a população de baixa renda, se houvesse flexibilização com falta de leitos. Está sendo, de fato, um massacre?
Teve falta de leitos em alguns locais? Teve. Então é importante pegar os dados que são publicados no Conass, na parte de “excesso de óbitos”. Se você tem excesso de óbitos, esse excesso é por COVID ou por causa do COVID, porque você, por exemplo, não tem leito de terapia intensiva, não tem leito de enfermaria, tanto para internar pacientes com COVID quanto com outras comorbidades. Por estado, que o número de leitos é proporcional no SUS – existe menos leitos por habitantes no SUS do que na rede privada –, existe menos leitos de UTI na Região Norte e Nordeste do que nas outras regiões do país – exceto o Rio de Janeiro, que a saúde é um caos –, essas regiões foram as que mais sofreram, além do Rio de Janeiro. Os dados trazem muito bem a capacidade dos estados de atendimento, quanto eles conseguem ampliar o número de leitos e quanto ele pode fazer de isolamento para prevenir esse excesso de óbitos. Os excessos de óbitos, acima de 2%, são uma catástrofe, porque temos estados no Brasil com 2% de excesso. Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Curitiba e Minas Gerais estão com os menores excessos de óbitos.

"É importante que a população mantenha a adesão aos métodos preventivos, principalmente as pessoas do grupo de risco que estão retornando às suas atividades habituais"

Júlio Croda,Ex-diretor de imunizações do Ministério da Saúde



Consegue fazer uma estimativa de mortes que poderiam ter sido evitadas se houvesse o rigor no isolamento? Se sim, quantos óbitos poderiam ter sido evitados?
Não consigo, porque isso depende de cada estado. Teve estado com maior adesão, um diálogo melhor, como Belo Horizonte. O excesso de óbitos traz essa ideia, uma balança entre o número de infectados e medidas de distanciamento. Se você tem leitos suficientes e medidas de distanciamento suficientes, baseados na sua capacidade de atendimento, você vai ter menos excessos de óbitos.

Quando o mundo chegou a 1 milhão de mortos por COVID-19, cálculos da época indicam que 14% dos óbitos foram registrados no Brasil, que só tem 2% da população mundial. Houve falha na condução da pandemia na nova gestão do Ministério da Saúde?
Na verdade, a gestão foi delegada a estados e municípios, com pouca participação ativa do Ministério da Saúde. A ausência de gestão pode ter impactado nos números. Uma falta de liderança na gestão da pandemia pode impactar, principalmente em estados que têm mais dificuldades com serviços de saúde, de adotar medidas de distanciamento. Não mudou muito do que comentei na outra matéria, que faltou liderança em termos do Ministério da Saúde ser protagonista, de ter coordenado ações de saúde pública em relação à COVID-19. Estados ficaram sozinhos sem o apoio da esfera federal na coordenação, principalmente na comunicação de medidas de mais impacto para evitar um número maior de casos e óbitos.

Qual o prognóstico que você faz para a doença em relação aos próximos meses?
Estamos numa tendência de queda no Brasil. A maioria dos estados está numa tendência, de acordo com a curva epidemiológica, já teve uma queda importante. Nos próximos meses, acredito que a situação estará melhor do que vivemos no passado, com mais de 1 mil óbitos diários. Hoje em dia, estamos próximos a 700. Existe uma clara tendência de queda no número de óbitos e de casos ao longo do tempo.

Sobre a sua saída do Ministério da Saúde: o senhor saiu antes do restante da equipe do Mandetta ainda no início da pandemia no Brasil. Qual foi o motivo?
Foi porque a gente já sabia das projeções e não tinha uma coordenação – como ainda não tem – em nível federal, principalmente com o apoio da presidência, que pudesse ter uma resposta adequada para reduzir o número de casos e óbitos. Nunca tivemos uma pandemia nessa magnitude, com projeções que indicavam 200 mil óbitos – estamos chegando lá – e sem apoio do governo, principalmente na esfera presidencial, para as medidas necessárias na redução dos efeitos da pandemia, decidi sair porque minha parte técnica já não importava naquele momento.

Como o senhor vê a evolução das vacinas no Brasil?
A testagem de vacinas é positiva no ponto de vista de avaliar a eficácia das doses para a nossa população, de acordo com a característica genérica da população. Temos acordos de transferência de tecnologia que garante uma certa autonomia e independência para os laboratórios.

O Ministério da Saúde chegou a cogitar vacinar apenas 10% da população, que seriam pessoas o grupo de risco e trabalhadores da área da saúde. Como você vê essa medida?
Isso é para o primeiro consórcio, mas há outras propostas, inclusive com a Fiocruz e o Butantã. Não vamos ter só isso de vacinas. Já tem um acordo com a própria Fiocruz e Oxford para 200 milhões de doses de vacinas. 20 milhões só em um investimento, que é essa parceria global. No Brasil terá mais do que esses 20 milhões de doses. É importante que a gente tenha importantes plataformas sendo testadas, acordos de cooperação com diferentes plataformas, porque não sabemos ao final de tudo qual vacina será melhor. Quanto mais opção, melhor em termos de paridade e em número de doses que vamos ofertar num curto espaço de tempo.

Hoje, quais regiões do Brasil precisam de atenção maior em relação a aceleração de casos?
Todas têm tendência bastante clara de queda. Na Região Sul, o Paraná está com uma tendência grande de queda. Parte da Região Centro-Oeste você pode falar que tem alguma coisa, mas, no geral, não tem nenhuma região que a gente observa uma tendência de aumento ou segunda onda. Se houver, será na Região Norte. Teve uma situação mais importante ali. Temos que ter atenção com a Região Norte, Nordeste (Ceará) – onde teve uma situação importante –, Maranhão… todas as curvas estão mostrando uma tendência de queda.Onde havia uma tendência mais atrasada, que é o Mato Grosso do Sul e o Rio Grande do Sul. Goiás também está em um elevado. Esses três ainda estão em um platô. Ainda não apresentam uma queda importante.

Muitas pessoas infelizmente confundem flexibilização com “liberou geral”, deixando de tomar os cuidados. É importante manter os cuidados, pois o vírus ainda circula, correto?
Ainda temos um elevado número de óbitos diários, 700 óbitos. São três aviões. Ainda é um número elevado e a queda está sendo bastante devagar, justamente por conta das flexibilizações e a não adoção das medidas preventivas. Quanto mais adoção das medidas preventivas, muito provavelmente essa queda seria maior. É importante que a população mantenha a adesão aos métodos preventivos, principalmente as pessoas do grupo de risco que estão retornando às suas atividades habituais, pessoas que estavam em isolamento, mas por conta do retorno da maioria das atividades econômicas, foram forçadas a sair desse isolamento. Mas é importante manter a precaução.

O que é o coronavírus


Coronavírus são uma grande família de vírus que causam infecções respiratórias. O novo agente do coronavírus (COVID-19) foi descoberto em dezembro de 2019, na China. A doença pode causar infecções com sintomas inicialmente semelhantes aos resfriados ou gripes leves, mas com risco de se agravarem, podendo resultar em morte.
Vídeo: Por que você não deve espalhar tudo que recebe no Whatsapp

Como a COVID-19 é transmitida? 

A transmissão dos coronavírus costuma ocorrer pelo ar ou por contato pessoal com secreções contaminadas, como gotículas de saliva, espirro, tosse, catarro, contato pessoal próximo, como toque ou aperto de mão, contato com objetos ou superfícies contaminadas, seguido de contato com a boca, nariz ou olhos.

Vídeo: Pessoas sem sintomas transmitem o coronavírus?


Como se prevenir?

A recomendação é evitar aglomerações, ficar longe de quem apresenta sintomas de infecção respiratória, lavar as mãos com frequência, tossir com o antebraço em frente à boca e frequentemente fazer o uso de água e sabão para lavar as mãos ou álcool em gel após ter contato com superfícies e pessoas. Em casa, tome cuidados extras contra a COVID-19.
Vídeo: Flexibilização do isolamento não é 'liberou geral'; saiba por quê

Quais os sintomas do coronavírus?

Confira os principais sintomas das pessoas infectadas pela COVID-19:

  • Febre
  • Tosse
  • Falta de ar e dificuldade para respirar
  • Problemas gástricos
  • Diarreia

Em casos graves, as vítimas apresentam:

  • Pneumonia
  • Síndrome respiratória aguda severa
  • Insuficiência renal
Os tipos de sintomas para COVID-19 aumentam a cada semana conforme os pesquisadores avançam na identificação do comportamento do vírus. 

Vídeo explica por que você deve 'aprender a tossir'

Mitos e verdades sobre o vírus

Nas redes sociais, a propagação da COVID-19 espalhou também boatos sobre como o vírus Sars-CoV-2 é transmitido. E outras dúvidas foram surgindo: O álcool em gel é capaz de matar o vírus? O coronavírus é letal em um nível preocupante? Uma pessoa infectada pode contaminar várias outras? A epidemia vai matar milhares de brasileiros, pois o SUS não teria condições de atender a todos? Fizemos uma reportagem com um médico especialista em infectologia e ele explica todos os mitos e verdades sobre o coronavírus.

Coronavírus e atividades ao ar livre: vídeo mostra o que diz a ciência

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