Cerca de 9 mil alunos da capital de São Paulo realizam atividades nas escolas estaduais do ensino médio nesta terça-feira, 3, primeiro dia de retorno às escolas após mais de 220 dias de interrupção das aulas devido à pandemia. Isso significa 20% do total de 58 mil alunos espalhados pelas 1.086 escolas estaduais da capital. O balanço é do secretário estadual de Educação de São Paulo, Rossieli Soares, que nesta manhã visitou a Escola Estadual Milton Rodrigues, no bairro Moinho Velho, zona norte de São Paulo.
O retorno às aulas é optativo. Devido à pandemia de covid-19, as aulas regulares presenciais estavam suspensas desde março na capital, quando foi implantada a quarentena para prevenir a propagação do coronavírus.
O secretário aposta em uma elevação do número de alunos e escolas com atividades ao longo da semana. Na esfera estadual, a expectativa é de conseguir a adesão de 300 mil a 400 mil. "Até o início da próxima semana, nós devemos chegar a 1.300 escolas com atividades. Temos cerca de 219 municípios que já autorizaram o retorno. Teremos uma nova onda de escolas abertas, seja com atividades extracurriculares ou aulas do 3º ano do Ensino Médio", afirma o secretário.
O governo do Estado é responsável pela educação de 3,5 milhões de alunos. No restante de São Paulo, em municípios que autorizaram, as escolas estaduais foram abertas em 8 de setembro para atividades extracurriculares e permaneceram assim em outubro para estudantes do ensino fundamental. De acordo com o secretário, não houve contaminação por covid nas escolas estaduais. "Estamos dando passos vagarosos, mas com segurança. Estamos tendo sucesso nesse retorno. Não tivemos nenhum caso de covid-19 dentro das escolas. Estamos fazendo o monitoramento dos professores e estudantes", afirmou.
Nenhum aluno
Embora a secretaria estime o retorno de 20% dos alunos neste primeiro dia de aulas presenciais regulares, uma escola visitada pela reportagem não recebeu nenhum aluno. Na região da Consolação, na zona central da cidade, a escola estadual Caetano de Campos abriu os portões, mas os alunos não compareceram. Professores e funcionários chegaram normalmente para o trabalho.
Na unidade, os gestores discutem o retorno das aulas apenas no dia 9 de novembro. Uma pesquisa interna da escola, que abrange cerca de 1.200 alunos, mostrou que 86% dos pais descartaram o retorno presencial neste momento.
"Nós temos um alto índice de absenteísmo depois dos feriados. Isso é um dado verificado anteriormente. Vamos aguardar os próximos dias e acompanhar esses índices", afirmou Rossieli Soares. "Além disso, os alunos, principalmente os jovens, estão mudando seus hábitos culturais. Muitos preferem fazer atividades à tarde. Essa é uma realidade nova também para as escolas", avaliou.
Volta nas particulares
Na semana passada, levantamento feito pelo Estadão mostrou que a maioria dos 40 colégios particulares consultados decidiu reabrir para aulas regulares nesta terça-feira. Um deles foi o Colégio Rio Branco, em Higienópolis, área central, onde os alunos do ensino médio terão aulas presenciais três vezes por semana.
As aulas são as mesmas para todos, distribuídos nas duas turmas já formadas antes da pandemia. Na primeira disciplina do dia, História, os estudantes acompanharam a transmissão ao vivo da aula, pois o professor é do grupo de risco e não pode se deslocar até a escola. Para auxiliar os alunos presenciais, o docente de outra disciplina ficou na sala e as cadeiras foram redistribuídas para garantir o distanciamento social.
Na entrada e dentro da escola, repetem-se os protocolos e as tecnologias já conhecidos na pandemia: aferição da temperatura, marcas e placas de distanciamento, dispenser de álcool em gel, dentre outras medidas, seguindo recomendação do Hospital Sírio Libanês, que prestou consultoria ao colégio. Os professores também ganharam kits com máscaras, canetões para utilizar no quadro e outros itens para uso pessoal.
Em paralelo, alunos do ensino fundamental estão em atividades de acolhimento. No caso dos pequenos, a chegada era acompanhada mais de perto, às vezes filmada por celular, enquanto os adolescentes foram a pé ou na carona de familiares. Eles saudavam os funcionários e eventualmente faziam um cumprimento de cotovelo.
Entre os estudantes do ensino médio, grande parte vestia um moletom tradicionalmente feito pelas turmas que estão para se formar. "A gente ganhou na pandemia, todo mundo estava ansioso para usar", diz Júlio Alessandri, de 17 anos.
Na mesma escola há 13 anos, ele conta que não imaginava que a pandemia duraria tanto tempo com a necessidade de restrições, mas depois parou de pensar no tão aguardado retorno. "Não criei muita expectativa (pela volta às aulas presenciais), já que tinha se falado várias vezes (que poderia ocorrer)."
Mãe de Anna Giulia, de 17 anos, a pedagoga Ivana Csapo Felippe, de 51 anos, está satisfeita com o retorno. "Minha filha precisava voltar. As perdas que teve nesse ano são imensuráveis, não só pedagógicas mas principalmente sociais. Ela esperou muito por esse dia, de grande expectativa. Tinha medo de terminar esse ciclo em casa. Tinha que voltar mesmo."
Para a mãe, o ambiente da escola é até mais controlado do que outros para evitar o contágio. Além disso, ela passou orientações para a filha. "Está com álcool gel, seis sete máscaras (guardadas na mochila)."
Professora de sociologia, Marina Miorim estava com ensino exclusivamente remoto desde 18 de março. Ela vê o momento atual como uma nova fase de adaptação. "Venho a pé e não tinha feito mais esse trajeto, de 5 km da minha casa. O deslocamento foi de reconhecimento desse terreno, a cidade está diferente, em ritmo diferente."
Para a professora, essa adaptação também passa por pensar aulas que se encaixem tanto para quem está em casa quanto na sala de aula. "Vai ser um desafio como modular esse processo", explica. "Planejei um tempo curto de exposição e um tempo maior de pesquisa, de atividade de resolução, de exercício. Se cair a internet na casa, o aluno sabe o que fazer. O pessoal daqui vai manter a mesma atividade. Preciso pensar outros cenários que podem acontecer."
Ela também comenta sobre a preocupação em garantir que essa volta adaptada não cause novas frustrações nos alunos, por ocorrer em moldes distintos do pré-pandemia. "Acho que eles já estão acumulando muitas frustrações, estão fechando um ciclo muito importante. Eles têm vínculos muito fortes com a escola, os colegas, os funcionários e os professores."
Rede municipal
As nove escolas municipais com ensino médio e magistério reabriam nesta terça com atividades de acolhimento de pais e alunos. Na Professor Derville Allegretti, por exemplo, ocorreram palestras para explicar os novos protocolos sanitários. A expectativa é de adesão inicial de 10% dos alunos.
Nem todos que compareceram à atividade vão retornar às aulas, contudo. Thais Santos, de 17 anos, do terceiro ano do ensino médio, por exemplo, foi a pedido da mãe, mas decidiu permanecer no ensino remoto. "Não quero voltar, não vai voltar ninguém (dos amigos e conhecidos)."
Na escola, foram realizadas adaptações. Para as refeições, por exemplo, as mesas e cadeiras foram distribuídas em uma área externa, para melhorar a ventilação, e não é permitido levar lanche. Nas salas, fitas foram utilizadas para indicar o distanciamento, entre outras medidas. A ocupação máxima será de 15 alunos por sala.
Em visita à escola, o secretário municipal da Educação, Bruno Caetano, declarou que a expectativa é de aumento na procura dos alunos ao longo das próximas semanas.
A reabertura de outras etapas de ensino deve ser definida até os dias 18 ou 19 deste mês para uma retomada na próxima janela, em 2 de dezembro. "Essa vai ser a tendência: começando pelos que têm mais velhos, mais compreensão dos protocolos de saúde", diz. A expectativa é de que pelo menos uma parte do ensino fundamental volte neste ano, mas não há previsão de aula presencial obrigatória em 2020.
Cerca de 10% dos docentes retornaram entre os que já tiveram covid-19 e os que decidiram voltar. Os maiores de 60 anos estão afastados e os demais têm retorno facultativo.
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