A Gazeta do Povo decidiu manter o jornalista Rodrigo Constantino em seu quadro de colunistas. O grupo Paraense de Comunicação emitiu um comunicado nesta sexta-feira sobre diversidade ideológica para justificar a decisão.
Segundo informações do portal UOL, o comunicado da Gazeta do Povo deixou os funcionários "frustrados, envergonhados e revoltados".
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O jornalista ainda defendeu que "dá boa educação para que isso não aconteça" com sua filha. “Mas, se ela chegar em casa e disser: ‘Fui estuprada’, vou pedir para ela me dar as circunstâncias”, comentou.
No vídeo, Constantino fez comentários considerados machistas. "Existe mulher decente ou piranha”, afirma em certo momento.
Em nota publicada no Twitter, a Gazeta do Povo disse que "Rodrigo Constantino explica de forma mais clara e objetiva o que quis e o que não quis dizer. Isso não nos impede de considerar que suas manifestações iniciais foram inoportunas e infelizes, intempestivas e formuladas com imprecisão, dando margem a dúvidas que precisaram ser esclarecidas. É compreensível, portanto, parte do desconforto e constrangimento que despertou em muitas pessoas. Na sua coluna desta quinta, no entanto, disse que jamais teve a intenção de analisar qualquer situação em concreto e reforçou a necessidade de que o caso de Mariana seja apurado e que, assim, faça-se justiça. Disse, inclusive, que acha brandas as penas do crime de estupro em nosso país."
Confira a nota na íntegra:
Em relação à recente polêmica envolvendo Rodrigo Constantino, colunista da Gazeta do Povo, e aos vários pedidos acerca da posição do jornal sobre o tema, cumpre-nos, de início, reafirmar aqui o nosso compromisso com a liberdade de expressão, mas também e antes disso, como premissa, o nosso compromisso com a dignidade da pessoa humana, com a dignidade de cada indivíduo. Todos que nos acompanham conhecem nossos valores e nossas convicções, dentre os quais destacamos :a defesa do estado democrático de direito, a defesa da vida, a valorização da família, a valorização da mulher, a crença no protagonismo dos indivíduos e na capacidade de desenvolvimento das pessoas e da sociedade.
A liberdade de expressão é, sem dúvida, algo fundamental, mas nem por isso pode ser utilizada de forma irresponsável e sem limites. Jamais poderíamos admitir ou dar voz a discursos que, consciente e intencionalmente, agredissem aqueles valores e crenças acima mencionados.
Jamais poderíamos tolerar, por consequência, um discurso que defendesse condutas absolutamente inadmissíveis, tais como o estupro, a discriminação ou qualquer outra aberração que atentasse contra a dignidade de toda e qualquer pessoa.
Pois bem, nesta quinta-feira, 05 de novembro, em coluna publicada nesta Gazeta do Povo, Rodrigo Constantino explica de forma mais clara e objetiva o que quis e o que não quis dizer. Isso não nos impede de considerar que suas manifestações iniciais foram inoportunas e infelizes, intempestivas e formuladas com imprecisão, dando margem a dúvidas que precisaram ser esclarecidas. É compreensível, portanto, parte do desconforto e constrangimento que despertou em muitas pessoas.
Na sua coluna desta quinta, no entanto, disse que jamais teve a intenção de analisar qualquer situação em concreto e reforçou a necessidade de que o caso de Mariana seja apurado e que, assim, faça-se justiça. Disse, inclusive, que acha brandas as penas do crime de estupro.
Em seguida, Constantino reforçou o seu entendimento de que “não é não”. Nas palavras dele: “Também reforço aqui que não vejo nenhum espaço para a relativização do não. Não é não, sempre.
Diante de qualquer sinalização para a interrupção de um determinado comportamento (inclusive um simples flerte), seja ele qual for, a vontade manifestada pela mulher deve ser imediatamente respeitada, sem qualquer margem para a discussão. Repito: não é não, sempre”.
Adiante, explicou que a reflexão que desejava provocar estaria centrada apenas em se separar casos de estupro daqueles em que houvesse consentimento. Por fim e muito importante, admitiu que talvez não tenha explicado da forma mais adequada a sua visão sobre o conceito de feministas e, admitindo que possa ter magoado muitas mulheres, pediu desculpas pelas fortes palavras utilizadas.
Como sempre procuramos destacar e lembrar, as opiniões de nossos colunistas não necessariamente representam as nossas opiniões, e desde que respeitados os limites anteriormente mencionados, acreditamos na Gazeta do Povo como um espaço de debate construtivo e sim, também, de divergência de ideias. Estimulamos a pluralidade de pensamentos e ainda que nem sempre compartilhemos deles, acreditamos que, em uma sociedade verdadeiramente democrática, um espaço para a conversa civilizada é absolutamente indispensável.
Constantino, na coluna publicada ontem, procurou novamente explicar a sua intenção, apontou suas próprias falhas e pediu desculpas.
Apesar de sabermos e de respeitarmos entendimentos diversos, não nos parece que, ante as explicações e os pontos por ele abordados, estejamos, necessariamente, diante de uma afronta aos limites razoáveis da liberdade de expressão.
Ainda que não concordemos com a forma de muitos dos seus posicionamentos e com muitas das suas opiniões, continuamos acreditando na importância da diversidade de ideias e na importância do diálogo para a construção de uma sociedade melhor e de uma democracia cada vez mais madura, razão pela qual, após várias ponderações e análises, decidimos pela manutenção de Rodrigo Constantino em nosso quadro de colunistas.
Ana Amélia Cunha Pereira Filizola
Diretora da Unidade de Jornais do GRPCOM