Jornal Estado de Minas

Apagão

Aviões da FAB levam geradores ao Amapá, que enfrenta falta de água e comida


Equipadas com geradores e máquinas de purificação de óleo, aeronaves da Força Aérea Brasileira concluem hoje operação de auxílio, em caráter emergencial, para restabelecer o fornecimento de energia elétrica no Amapá. A missão foi iniciada na noite de ontem, segundo o Ministério da Defesa, com a meta de transportar 51 toneladas de material ao estado, afetado por apagão de grandes proporções desde a noite de terça-feira. 




 
Desabastecimento de água, enormes tumultos em postos de combustíveis, falta de comunicação e prejuízos com a perda de alimentos em refrigeradores ocorrem no estado, onde, de acordo com o Ministério de Minas e Energia, cerca de 85% da população do estado, estimada em 860 mil habitantes pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), é afetada pelo apagão. A queda de energia foi provocada por um incêndio em uma subestação na capital, Macapá, que atingiu 14 das 16 cidades do estado.
 
No quarto dia de transtornos no Amapá, o sentimento da população local é de perplexidade e desespero. Enquanto o problema não é solucionado, famílias se desdobram para tentar comprar alimentos, sobreviver, sacar dinheiro nos poucos bancos em funcionamento e abastecer o carro. O ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, afirmou ontem que o restabelecimento das condições normais de abastecimento energético no estado deve levar 30 dias.

 
 
O ministro tratou da crise de energia com o governador do estado, Waldez Góes, que baixou decreto de situação de emergência. Apenas os municípios de Laranjal do Jari, Oiapoque e Vitória do Jari contam com fornecimento normal do insumo por usarem sistemas próprios independentes. Em ação conjunta, os estados do Amazonas, Pará e Roraima ajudarão com o envio de peças e transformadores para a reconstrução da subestação.




 
“O equipamento já foi reparado na sua parte física e agora está havendo a filtragem do óleo do equipamento. Para se ter noção do volume, são 45 mil litros de óleo e temos que ter certeza de que ele está em condições de operação”, disse Bento Albuquerque.
 
O apagão vem comprometendo fornecimento de serviços básicos como saúde, comunicação, alimentação e até o abastecimento de água, já que a falta de energia deixou as bombas sem funcionamento. Estabelecimentos que têm gerador – como postos de combustível, aeroportos e supermercados – vêm registrando filas quilométricas. Houve filas também para acesso à água distribuída por caminhões-pipa a serviço da Prefeitura de Macapá.
 
 
Decreto de situação de emergência foi baixado pelo governador Waldez Góes (foto: Governo do Amapá/Divulgação)
 
 

Escuridão e perigo

 
O relato de Lana Patrícia Rodrigues, recepcionista do Amapá Hotel, revela o caos que Macapá enfrenta, com a falta de energia, que se reflete em apagão também nos meios de comunicação. A população está sem telefonia celular, TV e internet. Em conversa com o Estado de Minas, ela conta que os hotéis que têm geradores estão superlotados, não só de hóspedes, mas de pessoas em busca de tomadas para carregar celulares e até mesmo de água.




 
“Nosso hotel decidiu priorizar a hospedagem de moradores. Não está recebendo pessoas de fora. Estamos com 100% de ocupação”, informa Lana. A recepcionista conta que, sem energia em casa, foi obrigada a levar para o trabalho o filho de 1 ano e 4 meses. “Muitos alimentos se perderam com a falta de energia.”
Segundo Lana Rodrigues, nas ruas o que se vê são filas enormes em locais com gerador. Também nos postos de gasolina, motoristas formam filas à espera de uma possibilidade de abastecer o carro. “À noite, são poucos locais com luz. Está tudo na penumbra e fica perigoso”, destaca.
 
Outra consequência é o aumento dos preços de produtos e serviços. Para quem mora nas comunidades mais afastadas, os baldes e litros de água fluvial podem custar até R$ 20 para o transporte. Nos supermercados, a garrafa de um litro da água mineral já é vendida por R$ 35. Ainda assim a oferta não é suficiente para toda a população. Na noite de quinta-feira, a Prefeitura de Macapá começou a distribuir caminhões-pipa para abastecer algumas regiões da capital.




 
Pelas redes sociais, parentes de moradores relatam enormes dificuldades de comunicação. “São quatro dias sem notícias da minha família que está em Macapá, sem saber se eles estão se alimentando bem, se têm água para eles... Minha ansiedade tá como?”, questiona um cidadão. “Se não receber notícias da minha mãe, sou capaz de comprar uma passagem para Macapá hoje mesmo”, relata uma mulher.
 
O drama vivido no Amapá fez surgir as hashtags #SOS Amapá e #Amapápedesocorro, que estavam ontem entre as mais comentadas na plataforma Twitter. “Só quem está vivendo isso sabe como é. Espero que vocês nunca tenham que passar por essa situação. A preocupação é muita com tanta gente”, relatou um internauta. “Tenho uma amiga em Macapá. Hoje ela não vive mais lá, mas me disse que está preocupadíssima com sua mãe e irmã por falta de contato com ambas. É de cortar o coração”, postou o usuário de nome Maurício Colina. (Com agências)

* Estagiária sob a supervisão da subeditora Marta Vieira

 
 



Eleições garantidas


A situação dramática provocada pelo apagão no Amapá e o cenário de incertezas no estado não vão impedir a realização das eleições municipais, garantidas, a princípio, para o dia 15. O Tribunal Regional Eleitoral (TRE-AP) divulgou nota assinada pelo desembargador Rommel Araújo, presidente do órgão, afirmando que contará com apoio dos governos estadual e federal para assegurar a votação.

“Mesmo diante dos últimos acontecimentos relacionados ao apagão em grande parte do estado, o governo do Amapá garantiu que haverá energia em todos os locais de votação, já que as medidas para solucionar o problema estão sendo adotadas também pelo governo federal”, diz a nota.

Araújo também assegura que os equipamentos terão carga suficiente para suportar toda a votação. “Quanto às urnas eletrônicas, todos os equipamentos dispõem de bateria com autonomia suficiente para garantir o direito de voto do primeiro ao último eleitor de cada seção eleitoral.” (AM e RD)




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