João Batista Rodrigues Freitas, de 65 anos, lamentou nesta sexta-feira, 20, a morte de seu filho, João Alberto Silveira Freitas, de 40 anos, espancado e morto no estacionamento do Carrefour Passo D'Areia, na zona norte de Porto Alegre, na quinta-feira, 19, véspera do Dia da Consciência Negra. "Nós esperamos por justiça. As únicas coisas que podemos esperar é por Deus e pela justiça. Não há mais o que fazer. Meu filho não vai mais voltar", disse ao jornal O Estado de S. Paulo.
Segundo Freitas, enquanto estava sendo agredido, o filho tentou pedir socorro à mulher, Milena Borges Alves. "Ela me contou que o segurança apertou o meu filho contra o chão, e ele já estava roxo. Fazia sinal com a mão para ela fazer alguma coisa, tirar o cara de cima e um outro segurança empurrou a Milena."
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À reportagem, o pai descreveu o filho como um homem tranquilo. Além disso, comentou que a vítima e a esposa há anos fazem compras no mesmo supermercado. "Eles frequentavam o mercado quase todos os dias. Ele até me incentivou a fazer um cartão do mercado. Nunca tivemos problemas e nunca discutimos ou batemos em ninguém."
Despedida
O sepultamento está marcado para as 16h desta sexta-feira, 20, no Cemitério São João, no IAPI, também na zona norte da capital do Rio Grande do Sul. O Dia da Consciência Negra não é feriado no Rio Grande do Sul.
Negro, João Alberto Freitas foi espancado e morto por dois homens brancos, um deles é segurança do local, enquanto o outro seria um policial militar temporário que fazia compras no supermercado.
A Polícia Civil do Estado investiga o crime, tipificado como homicídio triplamente qualificado. Os dois homens foram presos em flagrante. Uma manifestação em frente ao supermercado está prevista para as 18 horas desta sexta-feira, 20.
Vídeos compartilhados nas redes sociais mostram parte das agressões e o momento que o cliente é atendido por socorristas. Em uma das gravações, o homem é derrubado e atingido por ao menos 12 socos. Ao fundo, uma pessoa grita "vamos chamar a Brigada (Militar)".
Uma mulher vestindo uma camisa branca e um crachá, que também seria funcionária do supermercado, aparece ao lado dos agressores, filmando a ação. Ela já foi identificada e será ouvida. Outro registro mostra a vítima desacordada, enquanto há marcas de sangue no chão.
Vizinho da vítima, Paulão Paquetá contou ao Estadão ter testemunhado as agressões. Segundo ele, outros seguranças ficaram no entorno da área, impedindo a aproximação das pessoas que tentavam parar com as agressões.
Em nota, o Grupo Carrefour considerou a morte "brutal" e disse que "adotará as medidas cabíveis para responsabilizar os envolvidos". Afirmou também que vai romper o contrato com a empresa responsável pelos seguranças e que o funcionário que estava no comando da loja durante o crime "será desligado". O grupo disse ainda que a loja será fechada em respeito à vítima e que dará o "suporte necessário" à família da vítima.
Protestos
Uma série de manifestações contra o assassinato brutal de João Alberto estão previstas para ocorrer em Porto Alegre. Pela manhã, os cinco vereadores negros eleitos no último domingo, 15, realizaram um ato em frente ao Carrefour. A maior bancada negra eleita da história da capital prestou solidariedade aos familiares e amigos da vítima e disparou contra o racismo estrutural do Brasil.
Na manifestação estava a vereadora mais votada, a professora negra Karen Santos (PSOL). "Ontem à noite, nós fomos surpreendidos por este assassinato brutal, que é algo reincidente em um país que assassina todos os dias jovens negros e pessoas negras. É uma política genocida. A nossa intenção hoje, antes de tudo, é prestar solidariedade e empatia e dizer que não importa a gente ter cinco vereadores (negros) eleitos, se a gente vai seguir dentro de um país racista, com o racismo institucionalizado. O que aconteceu no Carrefour não é uma ação isolada", afirmou. No fim da tarde, um novo protesto também está marcado para ocorrer em frente ao hipermercado.