Um dia depois do brutal assassinato de um homem negro em Porto Alegre, o presidente Jair Bolsonaro postou uma série de mensagens no Twitter nas quais nega racismo no Brasil, diz que é "daltônico" por não ver cor de pele e em nenhum momento menciona o caso.
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Com aplausos e pedido de justiça, corpo de João Alberto é sepultadoCorpo de João Alberto, morto no Carrefour, será enterrado hoje em Porto AlegreAcusados de matar João Alberto continuam presos; crime reforça debate sobre racismo"Não nos deixemos ser manipulados por grupos políticos. Como homem e como Presidente, sou daltônico: todos têm a mesma cor. Não existe uma cor de pele melhor do que as outras. Existem homens bons e homens maus. São nossas escolhas e valores que fazem a diferença", escreveu Bolsonaro.
"Aqueles que instigam o povo à discórdia, fabricando e promovendo conflitos, atentam não somente contra a nação, mas contra nossa própria história. Quem prega isso está no lugar errado. Seu lugar é no lixo".
João Alberto Silveira Freitas, de 40 anos, foi agredido até a morte na noite desta quinta, 19, em uma loja da rede de supermercados Carrefour, na capital gaúcha. Um dos agressores era segurança do local e o outro, um policial militar. Os dois eram brancos.
Bem antes de Bolsonaro, o vice-presidente Hamilton Mourão disse que o assassinato de Freitas não pode ser classificado como racismo. "Digo com toda tranquilidade para você: não existe racismo no Brasil", afirmou Mourão.
Nas redes sociais, Bolsonaro disse que o grande mal do Brasil é a corrupção. "Estamos longe de ser perfeitos. Temos, sim, os nossos problemas, esses muito mais complexos e que vão além das questões raciais. O grande mal do país continua sendo a corrupção moral, política e econômica. Os que negam este fato ajudam a perpetuá-lo", afirmou. Logo depois, sem mencionar o crime que chocou o País, o presidente argumentou que não adianta dividir o sofrimento do povo brasileiro em grupos.
"Problemas como o da violência são vivenciados por todos, de todas as formas, seja um pai ou uma mãe que perde o filho, seja um caso de violência doméstica, seja um morador de uma área dominada pelo crime organizado", observou ele.
Nos tuítes, Bolsonaro tentou passar a ideia de que existem "interesses" para criar "tensões" no País e apelou para o discurso da união. "Um povo unido é um povo soberano, um povo vulnerável é mais fácil de ser controlado. E há quem se beneficie politicamente com a perda da nossa soberania", disse.
A exemplo de Mourão, o presidente abordou a miscigenação de raças existente no Brasil e, ignorando os protestos pelo assassinato do homem negro, disse que tentam destruir a "essência desse povo" para colocar o ódio em seu lugar. "Somos um povo miscigenado.
Brancos, negros, pardos e índios compõem o corpo e o espírito de um povo rico e maravilhoso. Em uma única família brasileira podemos contemplar uma diversidade maior do que países inteiros", postou Bolsonaro.
Nem mesmo em conversa com apoiadores no Palácio da Alvorada, na noite desta sexta-feira, 20, o presidente havia tratado do crime. No Twitter, porém, ao elogiar os brasileiros, ele culpou adversários pelo que chamou de "divisão" do País.
"Foi a essência desse povo que conquistou a simpatia do mundo. Contudo, há quem queira destruí-la, e colar em seu lugar conflito , o ressentimento, o ódio e a divisão entre classes, sempre mascarados de "luta por igualdade" ou "justiça social", tudo em busca do poder", afirmou.
As mensagens de Bolsonaro dividiram seus seguidores nas redes sociais e muitos protestaram. "Queria ver se fosse seu filho ou pai, (se) falaria isso. Hipócrita!", reagiu um internauta. "Perdeu a oportunidade de ficar calado", comentou outro.