O Carrefour informou nessa segunda-feira (23) ter afastado do trabalho a funcionária de blusa branca que aparece no vídeo das cenas de agressão ao cliente negro João Alberto Freitas, de 40 anos, morto por seguranças do supermercado, e que não interfere para interromper o crime. A empresa não informou a identidade da mulher.
Primeira vez
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Carrefour: Agressões a negros em mercados não têm punição severaReparação: Movimentos negros cobram R$ 100 milhões em ação contra o CarrefourCarrefour anuncia fundo de R$ 25 mi para combater racismo"Aquele tinha sido o primeiro dia dele (Silva) no mercado e o pior, faltava apenas uma hora para ele ir embora. Na verdade, ele foi contratado por um outro colega, que iria realizar o pagamento do serviço diretamente para ele", disse o advogado do PM temporário, David Leal.
Embora seja vedada atuação de PMs no horário de folga, Silva aceitou o serviço para ampliar a renda familiar, afirmou o advogado. "Ele viu que o bico não servia para ele, mas quis complementar a renda. Ficou com receio de aceitar o trabalho, que acaba sendo mal visto. Ele estudava para concurso e tinha o sonho de ser policial rodoviário federal. Foi no primeiro dia que ocorreu aquela grande fatalidade", disse.
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Ele afirma que Silva não tinha vínculo empregatício com o Grupo Vector, empresa responsável pela fiscalização na unidade do Carrefour. Já o Grupo Vector disse que ele havia sido contratado no dia 19, estava devidamente registrado e teve o vínculo rescindido no dia seguinte ao assassinato.
Leal diz que o caso é uma "fatalidade" e diverge da prisão em flagrante. Os dois seguranças vão responder por homicídio triplamente qualificado - por motivo fútil, asfixia e recurso que impossibilitou a defesa da vítima. Na noite de quinta, eles ficaram em silêncio durante a detenção. "Houve homicídio culposo, provavelmente, pela pressão exercida quando ele foi imobilizado. Meu cliente atuou para conter a agressão. Não teve nenhum cunho racial."
A reportagem não conseguiu contato com a defesa do outro vigia, Magno Braz Borges. O Carrefour não informou a identidade da outra funcionária afastada. A Polícia Civil já havia dito que pode investigar as outras pessoas vistas na cena do crime por omissão de socorro.
"Já ouvimos mais de vinte pessoas no inquérito e vamos seguir realizando as diligências. ", disse Roberta Bertoldo, a delegada responsável pelo caso. A investigação tem prazo de 10 dias para concluir o inquérito a partir da instauração. Caso contrário, os trabalhos podem ser estendidos por mais 15 dias.
Reabertura
A loja do Carrefour onde João Alberto foi morto reabriu nessa segunda-feira (24) em Porto Alegre, após três dias fechada. No local, era possível ver rastros da manifestação de sexta, em que houve invasão e depredação do estabelecimento. Lojistas e frequentadores do supermercado relatam que já flagraram excessos dos vigilantes.
Pichações, cartazes e flores em homenagem à vítima eram visíveis nas grades do Carrefour. Na parte interna, o clima era de tensão; funcionários com semblante preocupado trocavam poucas palavras e o movimento era bastante abaixo do normal. Ênio Dagoberto de Lima, de 67, é ambulante monta sua barraca com chapéus e camisetas na parte externa da loja. Segundo ele, o comportamento agressivo dos seguranças já era perceptível. "Sempre tinha umas mulheres que vendiam macela (planta). Eu vi vezes em que esses dois seguranças colocaram elas para rua com as crianças e tudo", diz.
Em nota, o Carrefour disse dar assistência aos lojistas. Para as lojas com avarias, disse estar em contato com os responsáveis para avaliar medidas.