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Estado de Minas GERAL

PM temporário nega motivação racista ao espancar João Alberto no Carrefour

Durante o depoimento, Giovane Gaspar negou qualquer motivação racista para as agressões e que não teve intenção de matar João Alberto Freitas


28/11/2020 11:00 - atualizado 28/11/2020 12:11

(foto: Reprodução Redes Sociais)
(foto: Reprodução Redes Sociais)
O policial militar temporário Giovane Gaspar prestou depoimento à Polícia Civil gaúcha nesta sexta-feira, 27, sobre o assassinato de João Alberto Freitas, o Beto, homem negro morto após ser espancado por seguranças do supermercado Carrefour em Porto Alegre. Gaspar é o homem que aparece nas imagens desferindo diversos socos contra a vítima. Em seu depoimento, ele alegou que não teve intenção de matar Beto, afirmando que tentava apenas conter a vítima. Durante a oitiva, que durou cerca de quatro horas, Gaspar negou qualquer motivação racista para as agressões.

A Brigada Militar do Rio Grande do Sul comunicou nesta sexta o desligamento de Gaspar da corporação, mas ainda há prazo para que ele recorra da decisão. A defesa do policial também pretende apresentar um pedido de liberdade.

Gaspar prestou depoimento no quartel da Brigada, onde está preso. Segundo a delegada Roberta Bertoldo, responsável pelas investigações, o segurança escutou no rádio que era preciso apoio no caixa 25, onde estaria Beto. Chegando ao local, Gaspar alegou que viu Beto com uma "cara brava" olhando para uma fiscal. O segurança também contou que perguntou a Beto se tinha algum problema e ouviu a resposta de que estava tudo certo.

Logo após o breve diálogo, Beto teria começado a caminhar rumo à saída. Gaspar contou à polícia que decidiu seguir Beto pois temia uma ocorrência mais grave. O segurança garantiu que não houve troca de palavras entre eles no caminho. Quando chegaram na portaria, Beto desferiu um soco contra Gaspar, que reagiu imediatamente com vários golpes contra o rosto do cliente, enquanto o seu colega Magno Braz Borges, também segurança do mercado, segurava as mãos da vítima.

De acordo com a delegada, o segurança disse ter ficado assustado com a força física de Beto. Ele também admitiu todas as agressões, mas negou qualquer intenção de matar. No depoimento, disse que, ao ver Beto desacordado, ele e o colega acreditavam que era apenas um desmaio. Sobre a participação da fiscal Adriana Alves Dutra, também presa, o segurança deu poucos detalhes e afirmou que não recebeu qualquer ordem, embora ela fosse sua superior naquele momento.

Sem vínculo com a empresa

Em relação ao vínculo empregatício, a defesa de Gaspar apresentou um nova versão. Segundo os advogados, o segurança não tinha qualquer vínculo com a Vector, empresa terceirizada contratada para fazer a segurança do Carrefour. O Grupo Vector já declarou que ele era registrado.

De acordo com os advogados David Leal e Raiza Hoffmeister, Gaspar teria sido contratado informalmente para cobrir as folgas de um amigo, quem faria o pagamento pelo trabalho. A própria Vector reconheceu Gaspar como um de seus funcionários, anunciando inclusive a sua demissão por justa causa.

Desligado da Brigada Militar

Nesta sexta-feira, 27, Gaspar foi comunicado oficialmente de seu desligamento da Brigada Militar. A decisão foi tomada pelo comando da corporação na quinta-feira, 26. Gaspar ingressou na Brigada em 2018, na condição de Policial Militar Temporário. Ele tem três dias para entrar com recurso contra a decisão.

O Carrefour anunciou nesta sexta que segue em contato com a família de João Beto. A empresa afirmou que, enquanto as negociações seguem, a rede varejista oferecerá dois apoios imediatos: ajuda emergencial à família da vítima, com assistente social para dar apoio psicológico à viúva, Milena Borges, à filha mais velha, Thaís, de 22 anos, e à ex-mulher de João Alberto, com a qual ele teve outros três filhos.

"O Carrefour sabe que nada trará a vida do senhor João Alberto de volta, mas espera poder ajudar a família neste momento de dor irreparável. E continua avançando para implementar as medidas que ajudarão a contribuir para o combate à discriminação racial no Brasil", diz trecho da nota.

O comunicado ainda ressalta que "como ponto inicial da transformação radial de seu modelo de segurança", a empresa está em processo de contratação de pessoas para a loja Passo D'Areia em até uma semana. Outras duas unidades da rede na cidade de Porto Alegre também vão passar por mudanças.


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