“Amor, vou trabalhar mais um pouco para ajudar a comprar o bolo de aniversário do nosso filho.” Essas foram as últimas mensagens do motorista de transporte por aplicativo Roosevelt Albuquerque da Silva, de 31 anos, enviadas à mulher, Juliana Simplício Rodrigues, 35. O trabalhador foi vítima de latrocínio (roubo seguido de morte) na madrugada de quarta-feira, depois de atender a uma corrida por app, na Asa Norte, com destino a Sobradinho, no Distrito Federal.
Leia Mais
Justiça ordena interdição total da marquise do Parque do IbirapueraDoria recepciona lote com insumo para produção de vacina chinesaPolícia apreende munições e detonadores em SP e vê relação com ataque em CriciúmaHomem é suspeito de matar motorista de app e depois comemorar aniversário Agressor descumpre medida protetiva e é preso no Distrito FederalVídeo mostra briga entre feirante e clientes em feira em BrasíliaRoosevelt morava no Jardim Botânico com a mulher, com quem era casado havia nove anos, e os dois filhos, de 4 e 7 anos. Em entrevista ao Correio, Juliana contou que o marido saiu de casa para trabalhar, na tarde de terça-feira, por volta de 13h. “O combinado era dele voltar às 22h. Como meu filho vai fazer 5 anos em 8 de dezembro, o Roosevelt me mandou uma mensagem de voz pelo WhatsApp dizendo que iria rodar mais um pouco para juntar o dinheiro do bolo da festa”, disse, emocionada.
Segundo as investigações, na noite do crime, o motorista pegou os passageiros na Asa Norte, com destino a Sobradinho, pouco antes de desaparecer. “Mandei mensagens no celular dele e apenas uma foi visualizada. Depois, não chegava mais. Liguei por diversas vezes, mas o telefone só dava desligado. Ele nunca iria atender corrida com destino a Sobradinho. Eu sempre o alertava sobre os perigos dessa profissão e pedia que ele evitasse lugares como Ceilândia, Taguatinga e Samambaia. Tanto é que ele só atendia clientes no Plano Piloto e, no máximo, ia para o Guará e Águas Claras”, contou.
Sem notícias, a mulher conta que, no começo da madrugada, os dois filhos do casal começaram a perguntar sobre o pai. Os meninos, segundo ela, só dormiam quando Roosevelt chegava em casa. “Foi me dando uma sensação estranha, porque ele nunca tinha feito isso, mas pensei que a bateria dele pudesse ter acabado”, completou.
A madrugada foi de intensas buscas em hospitais do DF, no Jardim Botânico e no Instituto de Medicina Legal (IML). Na manhã de ontem, o pai da vítima recebeu a notícia de um corpo encontrado no Polo de Cinema de Sobradinho.
Sonhador
Roosevelt veio com o pai de Maceió para Brasília há 12 anos. Alagoano, de família simples, ele tinha um sonho: tornar-se advogado. Na capital, conheceu Juliana, com quem manteve relacionamento por nove anos e teve dois filhos.
Até o começo do ano, o homem trabalhava como agente de portaria. O emprego ajudava a custear as despesas de casa e a pagar o curso de direito em uma faculdade particular. Faltava apenas um semestre para concluir o curso, mas ele teve que interromper os estudos, pois foi demitido do serviço em decorrência da pandemia do novo coronavírus.
Sem serviço, a mulher conta que o companheiro chegou a chorar e a se lamentar por várias vezes. O trabalho como motorista de transporte por aplicativo veio há uma semana, como uma alternativa de quitar as dívidas acumuladas. Contudo, Roosevelt não teve tempo de recebem o dinheiro arrecadado das corridas realizadas durante os sete dias. Roosevelt será velado hoje, às 13h, na Capela 2 do Cemitério Campo da Esperança da Asa Sul.
Mortes
Dados mais recentes da Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal (SSP-DF) mostram que, entre janeiro e julho deste ano, sete motoristas de transporte por aplicativo foram assassinados. No mesmo período do ano passado, foram três vítimas. A pasta informou que realizou reuniões com representantes das empresas de aplicativos de transporte, com o objetivo de discutir soluções para reduzir a vulnerabilidade dos profissionais e passageiros que utilizam este serviço.
“Entre as medidas tratadas nos encontros, por exemplo, surgiu a opção de restrição aos pagamentos em dinheiro e a possibilidade de pré-visualização do destino por parte do operador”, esclareceu a pasta, por meio de nota.
A Polícia Militar garante que, rotineiramente, faz pontos de bloqueio em lugares estratégicos, em que todas as pessoas presentes nos veículos identificados como transporte de passageiros com o uso de aplicativos são revistadas para garantir a segurança da categoria e da população.
Cadáver em parque
Um cão em treinamento do Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal (CBMDF) encontrou, na manhã de ontem, o corpo de uma mulher em uma galeria de águas pluviais do Parque Burle Marx, no Noroeste. Segundo a corporação, a vítima estava nua, deitada de bruços e com parte do corpo submerso na água represada no local. A área ficou aos cuidados da Polícia Civil.
“O local foi periciado. O corpo estava em estado de decomposição. Portanto, precisamos aguardar os laudos do IML e do IC”, informou o delegado-chefe, João Guilherme Carvalho, da 2ª Delegacia de Polícia (Asa Norte).
Este é o terceiro crime registrado em parques na região do Plano Piloto. Em 21 de novembro, operários da construção de uma igreja na 413/414 Norte encontraram o corpo de Ricardo Alves da Silva Junior, 29 anos, soterrado próximo ao Parque Olhos D’água.
No Castelinho do Parque da Cidade, uma mulher, 33, foi socorrida e encaminhada ao Hospital de Base com múltiplos cortes pelo corpo feitos com arma branca. O caso aconteceu em 20 de outubro. No mesmo local, em 20 de janeiro, um segurança achou o cadáver de Luiz Dourado Viana Silva, 31. Sem marcas de violência, policiais indicaram a possibilidade de assassinato, mas levaram em conta a possibilidade de overdose.
*Estagiária sob a supervisão de Adson Boaventura