Jornal Estado de Minas

NOVO CORONAVÍRUS

Confira os principais fatos da pandemia no Brasil até os 200 mil mortos

As horripilantes imagens de inúmeros pacientes internados em unidades de terapias intensivas ou mesmo de caixões sendo enterrados em cemitérios do país reforçam a tese de que a pandemia do coronavírus no Brasil está longe de terminar. Diariamente, pais, mães, avós, jovens, maridos, mulheres e muitos profissionais de saúde são vencidos por uma doença avassaladora, silenciosa e que leva a um ambiente sombrio. 





Nesta quinta-feira, 7 de janeiro, menos de um ano depois do registro da doença em solo nacional, o Brasil contabiliza 200 mil mortes e mais de 7 milhões de casos num triste cenário que ajuda a entender o porquê de a COVID-19 ter se expandido de forma tão letal em pouco tempo.

O primeiro caso de coronavírus no Brasil foi confirmado pelo Ministério da Saúde em 25 de fevereiro do ano passado, em meio ao carnaval. Já o primeiro óbito ocorreu em 12 de março, em São Paulo, uma mulher de 57 anos que ficou internada no Hospital Municipal Doutor Carmino Cariccio, na Zona Leste. Menos de quatro meses depois, em 21 de junho, o país já havia ultrapassado a contagem de 50 mil vidas perdidas, no momento em que também já ultrapassava 1 milhão de infectados.

Em 10 de agosto – ou seja, dois meses e 11 dias após a marca dos 50 mil –, o Brasil chegou às 100 mil mortes. No mês de outubro, quando a taxa de infectados voltou a explodir no país, foi a vez de os brasileiros atingirem a faixa de 150 mil entes queridos que perderam a batalha para a doença.





A COVID-19 já é de forma disparada a doença que mais vitimou pessoas no Brasil, quadriplicando os 50 mil integrantes mortos da tropa brasileira na Guerra do Paraguai de 1864 a 1870 e também superando em larga escala os 35 mil óbitos na Gripe Espanhola em 1918. 

Aglomerações e medicamentos polêmicos

Com exceção de um breve período entre o fim de agosto e novembro, o Brasil atingiu seguidos dias ultrapassando os 1 mil mortos por dia. À medida em que a doença dizimava a população e os hospitais ficavam em colapso, o presidente Jair Bolsonaro e os governantes interpretavam a pandemia de formas diferentes. 

Com declarações fortes e diretas, o chefe do Palácio do Planalto minimizou os efeitos da COVID-19 desde seu início, incentivou aglomerações sem necessidade, estimulou a volta as atividades ao seu ritmo normal e indicou medicamentos como cloroquina, hidroxicloroquina e ivermectina aos pacientes mesmo sem comprovação científica. 




 
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Por fim, se negou a tomar qualquer vacina e defendeu que a população tivesse o direito à escolha do imunizante ou não, enquanto nações inteiras aguardavam ansiosamente pela única salvação da doença. À medida que o líder de um país se recusa a ser vacinado, um novo problema surge no controle da doença: vários de seus seguidores vão tomar a mesma atitude. Virologistas afirmam que seria necessário vacinar 70% da população para que a doença seja controlada. 

Em entrevista recente ao Estado de Minas, o infectologista Unaí Tupinambás, que integra o comitê de enfrentamento ao coronavírus em Belo Horizonte, criticou com veemência a atitude de Bolsonaro no enfrentamento à doença: “O presidente reforça o discurso anti-vacina, que é muito triste. Você vê um representante máximo da população espalhando a cisão e a discórdia no país”.

Ministério em crise

Paralelamente aos discursos negacionistas do presidente, o país viveu uma crise institucional e política envolvendo o Ministério da Saúde, justamente por uma das maiores polêmicas que marcou o período da pandemia: o uso da cloroquina. 





Por discordar da receita de Bolsonaro, o ministro da Saúde e médico Henrique Mandetta – então braço-direito do governo federal no controle à doença – foi exonerado do cargo em 16 de abril. Outro médico, Nelson Teich, foi nomeado para a pasta, mas sua passagem durou apenas 28 dias: o estopim da crise foi novamente a discordância do uso da cloroquina e das medidas de isolamento social. 

Presidente Bolsonaro minimizou os efeitos da COVID-19 desde seu início, incentivou aglomerações sem necessidade (foto: Antônio Cruz/Agência Brasil)


Por fim, quatro meses sem ministro titular, Bolsonaro efetivou o interino, general Eduardo Pazuello, como chefe da Saúde, numa tentativa de apaziguar a crise e aprovar a todo custo a cloroquina no grupo de medicamentos de enfrentamento à doença.

Como justificativa para defender o fim do isolamento, Bolsonaro disse inúmeras vezes em entrevistas e transmissões ao vivo que estava preocupado com os rumos da economia, que cada vez mais se desestabilizava com o enfraquecimento das atividades econômicas, então paralisadas por causa da pandemia. 





Por várias vezes, alegou que o país não poderia parar e que o benefício do auxílio emergencial concedido aos quase 70 milhões de brasileiros desde o ano passado significaria um rombo enorme nos cofres públicos.

Batalha política

A postura de Bolsonaro no enfrentamento à doença levou à troca de farpas com diversos governantes pelo país. O prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PSD), foi um dos primeiros a enfrentar o presidente, defendendo sempre a quarentena como meio de frear a transmissão da doença. O governador de São Paulo, João Doria, também assumiu posicionamento contrário ao do presidente, endurecendo cada vez mais as atividades econômicas em seu estado.

Doria também foi além ao anunciar de forma antecipada a compra de 46 milhões de doses da Coronavac, produzida pelo laboratório chinês Sinovac Biotech em parceira com o Instituto Butantan. O imunizante havia sido rejeitado pelo governo Bolsonaro, que desde o início financiou as pesquisas da vacina AstraZênica/Oxford, com participação da Fundação Osvaldo Cruz (Fiocruz), e apoiou, em segundo plano, a compra da Pfeizer. 





Há ainda um acordo encaminhado do governo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), por meio do convênio Covax Facility. De acordo com o Ministério da Saúde, seriam 300 milhões de doses de vacinas encaminhadas.

Vacinação atrasada


A indefinição acerca da vacina prejudicou a formulação do Plano Nacional de Imunização (PNI), que por várias décadas liderou com êxito campanhas contra caxumba, gripe, febre amarela, poliomielite e rubéola e outras doenças. A campanha contra a COVID-19 foi lançada no mês passado sem uma data prevista para o começo da vacinação. 

“Nosso programa de vacinação já foi premiado internacionalmente e construído ao longo de décadas. Ele é independente de governo, seja os bons ou ruins e até hoje ninguém prejudicou essa boa regularidade. A campanha para a vacina do coronavírus será a maior da história e sem precedentes. O quantitativo de pessoas a serem vacinadas é muito maior que de outras campanhas. Será um desafio enorme para o programa, até porque ele foi gerido a toque de caixa por ótimos técnicos. Mas precisaria de pelo menos quatro meses para ser elaborado", explicou o pesquisador e coordenador do Centro de Tecnologia de Vacinas (CT Vacinas), Flávio Guimarães da Fonseca, em entrevista ao Estado de Minas em 20 de dezembro.





Pressionado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e pela sociedade, o governo definiu prioridades na vacinação -  profissionais da saúde, população idosa a partir dos 75 anos de idade, pessoas com 60 anos ou mais que vivem em asilos e instituições psiquiátricas e indígenas -, mas não mencionou no documento as estratégias mais importantes, como logística de distribuição, compra de acessórios ou mesmo contratação de profissionais. 

Enquanto mais de 50 países já iniciaram o processo de vacinação, o Brasil ainda esbarra em problemas que atrasam o processo, casos da falta de seringas e de refrigeradores, além do fato de a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) não ter validado nenhuma das quatro vacinas em estudo. 

O governo prevê um período de 16 meses para que se cumpra o calendário de vacinação. Os primeiros quatro meses seriam destinados aos grupos prioritários e o restante aos demais grupos. Pelo menos 50 milhões de pessoas seriam vacinas nesse primeiro processo. 





“Não adianta ter vacina disponível se não tivermos o material suficiente para aplicar, ou seja, são necessárias agulhas e seringas para administrar a vacina na população. Infelizmente, neste quesito, o planejamento não foi o adequado. Em julho, o poder público foi avisado da necessidade de insumos para a aplicação de vacinas, porém apenas agora, em dezembro, é que o Ministério da Saúde começou a procurar fornecedores. Existe receio das autoridades de saúde de um real desabastecimento dos insumos utilizados para a aplicação de vacinas em grande escala para a população”, alerta o biomédico Benísio Ferreira, coordenador do curso de Biomedicina do Centro Universitário Internacional (Uninter).

Além de ser o primeiro passo para a retomada da vida normal, a vacina se torna a esperança de uma nação inteira que chora copiosamente por uma tragédia ainda sem data para terminar. Mesmo que o imunizante chegue ao mercado no país, as autoridades de saúde afirmam que é indispensável seguir com os protocolos de segurança para evitar a maior disseminação da doença. 

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