Uma nova variante do Sars-CoV-2 identificada no Brasil apresenta alterações capazes de ajudar o vírus a escapar parcialmente à imunidade oferecida pelas vacinas usadas na prevenção da doença. Essa variante também foi identificada na África do Sul e é diferente da mutação registrada no Reino Unido.
O estudo foi publicado online, na última terça-feira (05/01) em formato de pré impressão (ou seja, ainda sem revisão dos pares), na BioRxiv. Tem como principal autor o microbiologista Jesse Bloom, da Universidade de Washington (EUA). O trabalho mostra que, em algumas pessoas, o novo coronavírus conseguia escapar dos anticorpos neutralizantes até dez vezes mais do que o normal.
Todas as vacinas desenvolvidas ao longo deste ano têm como alvo a chamada proteína spike. Essa é a estrutura usada pelo vírus para entrar nas células que ataca. Os imunizantes 'treinam' os anticorpos para atacar uma determinada região desta proteína, impedindo a invasão do organismo pelo SarsCov2.
As mutações na proteína spike, no entanto, podem ajudar o vírus a "enganar" as duas principais linhas de ação do sistema imunológico. Elas são os anticorpos, que impedem a invasão das células saudáveis, e as células T, que tentam destruir o vírus.
Até agora, uma mutação deste tipo não tinha sido observada. A variante detectada originalmente no Reino Unido que já está presente em várias outras partes do planeta se revelou mais contagiosa. Mas não tem nenhum impacto na eficácia das vacinas que estão sendo desenvolvidas e aplicadas. A nova mutação, no entanto, pode reduzir a capacidade dos anticorpos de neutralizar a atividade viral em até dez vezes.
Isso não quer dizer que as vacinas não vão funcionar. A complexa resposta do sistema imunológico humano à invasão de um vírus seguirá tendo outras estratégias. A mutação pode atrapalhar o trabalho dos anticorpos naquele fragmento específico da proteína spike, mas não afeta anticorpos treinados para olhar para outras partes do vírus.
"Este é o primeiro estudo a mostrar que essas variantes do vírus podem escapar da ação das vacinas que têm sido desenvolvidas", afirmou o pesquisador do Centro de Tecnologia de Vacinas da UFMG Flávio Guimarães, também é integrante do Comitê Permanente de Enfrentamento do Novo Coronavírus da universidade. "Isso não quer dizer que as vacinas são ineficazes, mas que podem afetar em parte a eficácia dos imunizantes. Considero o estudo um alerta para o problema."
Os especialistas explicam que o organismo produz diferentes tipos de anticorpos para combater a entrada de um vírus. "É como uma chave e uma fechadura", comparou o especialista em Imunologia e Biologia Molecular da Universidade da Pennsylvania Scott Hensley. "Se a fechadura mudar, talvez aquela chave não consiga abri-la. Mas imagine que não há apenas uma porta, mas dez portas diferentes. Teremos ainda nove chaves capazes de abrir as outras portas."
Todos os vírus sofrem mutações, isso é normal. A acelerada replicação viral facilita o processo do surgimento de alterações, algumas delas benéficas ao vírus. No entanto, alguns deles têm propensão maior a mutações do que outros. Por isso, por exemplo, a vacina contra a influenza (gripe comum) precisa ser revista a cada ano, enquanto o imunizante contra o sarampo nunca precisou ser alterado.
"É bom lembrar que esse estudo foi feito com o soro de alguns pacientes recuperados da covid-19", alertou o virologista Thiago Moreno, da Fiocruz. "Não existem ainda estudos com indivíduos vacinados para avaliarmos se, no caso dessas variantes, alguns anticorpos vão perder a capacidade de neutralização, ou se os imunizantes vão promover uma resposta policlonal atacando diversas regiões do vírus ao mesmo tempo. Ou seja, não existe neste momento nenhuma referência para fundamentar a ideia de que as vacinas não vão funcionar", disse.
De acordo com os especialistas, a melhor estratégia para impedir novas mutações e deter o avanço da COVID-19 é a vacinação em massa da população. Com um porcentual de 60% a 70% da população imunizada, o vírus praticamente desapareceria. No mundo, cerca de 50 países já iniciaram a vacinação. O Brasil prevê começar a aplicação de doses neste mês.
O estudo foi publicado online, na última terça-feira (05/01) em formato de pré impressão (ou seja, ainda sem revisão dos pares), na BioRxiv. Tem como principal autor o microbiologista Jesse Bloom, da Universidade de Washington (EUA). O trabalho mostra que, em algumas pessoas, o novo coronavírus conseguia escapar dos anticorpos neutralizantes até dez vezes mais do que o normal.
Todas as vacinas desenvolvidas ao longo deste ano têm como alvo a chamada proteína spike. Essa é a estrutura usada pelo vírus para entrar nas células que ataca. Os imunizantes 'treinam' os anticorpos para atacar uma determinada região desta proteína, impedindo a invasão do organismo pelo SarsCov2.
As mutações na proteína spike, no entanto, podem ajudar o vírus a "enganar" as duas principais linhas de ação do sistema imunológico. Elas são os anticorpos, que impedem a invasão das células saudáveis, e as células T, que tentam destruir o vírus.
Mutação do tipo ainda não havia sido observada
Até agora, uma mutação deste tipo não tinha sido observada. A variante detectada originalmente no Reino Unido que já está presente em várias outras partes do planeta se revelou mais contagiosa. Mas não tem nenhum impacto na eficácia das vacinas que estão sendo desenvolvidas e aplicadas. A nova mutação, no entanto, pode reduzir a capacidade dos anticorpos de neutralizar a atividade viral em até dez vezes.
Isso não quer dizer que as vacinas não vão funcionar. A complexa resposta do sistema imunológico humano à invasão de um vírus seguirá tendo outras estratégias. A mutação pode atrapalhar o trabalho dos anticorpos naquele fragmento específico da proteína spike, mas não afeta anticorpos treinados para olhar para outras partes do vírus.
Especialistas explicam estudo
"Este é o primeiro estudo a mostrar que essas variantes do vírus podem escapar da ação das vacinas que têm sido desenvolvidas", afirmou o pesquisador do Centro de Tecnologia de Vacinas da UFMG Flávio Guimarães, também é integrante do Comitê Permanente de Enfrentamento do Novo Coronavírus da universidade. "Isso não quer dizer que as vacinas são ineficazes, mas que podem afetar em parte a eficácia dos imunizantes. Considero o estudo um alerta para o problema."
Os especialistas explicam que o organismo produz diferentes tipos de anticorpos para combater a entrada de um vírus. "É como uma chave e uma fechadura", comparou o especialista em Imunologia e Biologia Molecular da Universidade da Pennsylvania Scott Hensley. "Se a fechadura mudar, talvez aquela chave não consiga abri-la. Mas imagine que não há apenas uma porta, mas dez portas diferentes. Teremos ainda nove chaves capazes de abrir as outras portas."
Todos os vírus sofrem mutações, isso é normal. A acelerada replicação viral facilita o processo do surgimento de alterações, algumas delas benéficas ao vírus. No entanto, alguns deles têm propensão maior a mutações do que outros. Por isso, por exemplo, a vacina contra a influenza (gripe comum) precisa ser revista a cada ano, enquanto o imunizante contra o sarampo nunca precisou ser alterado.
"É bom lembrar que esse estudo foi feito com o soro de alguns pacientes recuperados da covid-19", alertou o virologista Thiago Moreno, da Fiocruz. "Não existem ainda estudos com indivíduos vacinados para avaliarmos se, no caso dessas variantes, alguns anticorpos vão perder a capacidade de neutralização, ou se os imunizantes vão promover uma resposta policlonal atacando diversas regiões do vírus ao mesmo tempo. Ou seja, não existe neste momento nenhuma referência para fundamentar a ideia de que as vacinas não vão funcionar", disse.
De acordo com os especialistas, a melhor estratégia para impedir novas mutações e deter o avanço da COVID-19 é a vacinação em massa da população. Com um porcentual de 60% a 70% da população imunizada, o vírus praticamente desapareceria. No mundo, cerca de 50 países já iniciaram a vacinação. O Brasil prevê começar a aplicação de doses neste mês.