Brasília – Em meio ao caos gerado pela pandemia do novo coronavírus e o início da vacinação em todo o país, o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, se irritou ontem ao ser questionado pela imprensa sobre suas contradições na recomendação de remédios não recomendados pela ciência contra a COVID-19. Pazuello afirmou durante coletiva de imprensa que o ministério recomenda o “atendimento precoce” e não o “tratamento precoce”. “Incentivamos que a pessoa doente procure imediatamente o posto de saúde, procure o médico, que faz o diagnóstico clínico. Isso é foro íntimo do paciente com o médico. O ministério não tem protocolos sobre isso. Atendimento é uma coisa, tratamento é outra. O atendimento precoce, é esse o nosso objetivo”, afirmou Pazuello durante entrevista.
Ao ser questionado por uma repórter sobre material do ministério indicando o contrário, Pazuello se irritou e afirmou: “A senhora nunca me viu receitar ou dizer, colocar para as pessoas tomarem este ou aquele remédio. Nunca. Não aceito a sua posição”. Em seguida, o ministro continuou: “Nunca indiquei medicamentos a ninguém. Nunca autorizei o Ministério da Saúde a fazer protocolos indicando medicamentos.”
Pazuello mentiu ao dizer, em entrevista coletiva, que o Ministério da Saúde sob sua gestão não recomendou o tratamento precoce com cloroquina. Publicações nas redes sociais desmentem o atual titular da pastahttps://t.co/iuabVpC5li pic.twitter.com/CVBn9WKcFD
— Estado de Minas (@em_com) January 19, 2021
A declaração é contraditória. Em 7 de janeiro, em transmissão ao vivo ao lado do presidente Jair Bolsonaro recomendou o uso dos medicamentos sem comprovação científica. Além disso, folderes do ministério fazem a recomendação. O documento intitulado “Orientações do Ministério da Saúde para o manuseio medicamentoso precoce de pacientes com diagnóstico da COVID-19” cita e recomenda azitromicina e hidroxicloroquina para o tratamento precoce de pacientes. O documento é de 15 de julho de 2020.
O Brasil registrou 452 novas mortes por COVID nas últimas 24 horas, elevando o total de óbitos pela doença a 210.299 segundo o Ministério da Saúde. Houve também 23.671 casos do novo coronavírus. Com isso, o país registra um total de 8.511.770 infectados.
INTIMAÇÃO
O ministro Ricardo Lewandowski, do Supremo Tribunal Federal (STF), intimou o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, e o advogado-geral da União, José Levi Mello do Amaral Júnior, a apresentarem à corte a atualização do Plano Nacional de imunização contra a COVID-19, inclusive com cronograma correspondente às distintas fases da vacinação. O despacho foi proferido ontem, um dia após a Agência Nacional de Vigilância Sanitária autorizar o uso emergencial da Coronavac e da vacina desenvolvida pela Universidade de Oxford e a farmacêutica AstraZeneca.
Em dezembro, também por determinação de Lewandowski, o governo apresentou o Plano Nacional de Vacinação contra a COVID-19, mas sem prever o início da data da aplicação das doses. Na ocasião, o ministro do STF chegou a cobrar esclarecimentos sobre o cronograma do plano de imunização contra o novo coronavírus.