Publicações compartilhadas milhares de vezes em redes sociais desde meados de janeiro, durante a crise de saúde que afeta Manaus, asseguram que os cilindros de oxigênio enviados da Venezuela à capital amazonense foram importados pela empresa brasileira White Martins e não doados pelo governo venezuelano, como noticiado pela mídia. Isso é falso. A doação foi confirmada pelo governo do Amazonas e a White Martins negou ter participado do transporte de oxigênio realizado no último dia 18 de janeiro.
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União Química tenta autorização da Anvisa para produzir vacina Sputnik VPapa Francisco dedica oração aos afetados pela covid-19 em ManausTire suas dúvidas sobre a vacina contra a COVID-19TCU autoriza investigação por falta de oxigênio em ManausFura fila revolta: filhas de empresário são vacinadas em ManausCapturas de tela desta publicação, assim como mensagens semelhantes, foram replicadas outras milhares de vezes no Facebook (1, 2, 3) e Instagram, após a mídia noticiar que o governo do presidente Nicolás Maduro havia se comprometido a enviar cilindros de oxigênio à capital amazonense.
Desde o início do ano, a cidade de Manaus tem sido duramente atingida por uma segunda onda da pandemia de covid-19, que sobrecarregou seus hospitais e praticamente esgotou suas reservas de oxigênio, fornecidas em grande parte pela empresa brasileira White Martins.
Para atenuar essa crise de abastecimento, caminhões carregados de oxigênio foram enviados da Venezuela ao estado do norte do Brasil no último dia 18 de janeiro. Não é verdade, contudo, que esses produtos tenham sido importados pela White Martins.
Doação venezuelana
Em 14 de janeiro, o chanceler venezuelano, Jorge Arreaza, informou que “por instrução do presidente Nicolás Maduro” havia oferecido ao governador do Amazonas, Wilson Lima (PSC), o “oxigênio necessário” para atender à emergência de saúde em Manaus.
Dois dias depois, anunciou que os primeiros caminhões com litros de oxigênio estavam saindo da fábrica da siderúrgica estatal Sidor, localizada no estado venezuelano de Bolívar, a caminho de Manaus.
No dia 17 de janeiro, o próprio governo do Amazonas comunicou que estava previsto para chegar a Manaus, no dia seguinte, “107 mil m³ de oxigênio doados pelo governo do estado venezuelano de Bolívar”.
“Deve chegar até terça-feira vindo do Distrito de Bolívar, na Venezuela, e é uma doação que está sendo feita pelo governador daquele estado, que também está vindo ao Amazonas para fazer essa entrega aqui”, afirmou Lima, segundo a nota oficial do governo.
De fato, o governador de Bolívar, Justo Noguera, acompanhou o momento em que os caminhões carregados de oxigênio cruzaram a fronteira da Venezuela com o Brasil, no estado de Roraima, no último dia 18 de janeiro, como visto em vídeo publicado em sua conta no Twitter.
#VenezuelaConBrasil
Gobierno bolivariano envía 136 mil litros de oxígeno para atender la emergencia sanitaria generada por la pandemia del Covid-19 en el estado Brasileño de Amazonas.@NicolasMaduro @PartidoPSUV @jaarreaza @VTVcanal8 @TelmarioMotaRR pic.twitter.com/kobgkfrE8B
— Justo Noguera Pietri (@GobJustoNoguera) January 18, 2021
Fotos dos caminhões saindo do território venezuelano também foram publicadas no perfil do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV) na mesma rede social. Em seu site, o PSUV publicou uma fala em que Noguera informa que o oxigênio hospitalar foi entregue de forma gratuita “para ajudar nosso povo irmão do Brasil”.
Questionado pelo AFP Checamos sobre a alegação de que os cilindros teriam sido importados pela empresa White Martins e não doados pela Venezuela, o governo do Amazonas negou: “O oxigênio foi doado pelo governo do estado venezuelano de Bolívar. O governador de Bolívar, Justo Nogueira, foi quem entrou em contato com o governador Wilson Lima se colocando à disposição para doar”.
A informação também foi rejeitada pela própria White Martins, em nota enviada à equipe de checagem da AFP.
“Esta ação específica que está sendo divulgada na imprensa de que chegará oxigênio da Venezuela em Manaus não tem o envolvimento da White Martins”, disse a porta-voz da empresa, Daniela Melina.
A representante confirmou que a White Martins identificou a disponibilidade de cilindros de oxigênio em suas operações na Venezuela e que pretende importá-los para atenuar a crise em Manaus, mas que essa importação ainda não ocorreu.
Além da Venezuela, o governo federal e diversas figuras públicas brasileiras se mobilizaram para enviar oxigênio a Manaus, onde a média de óbitos pela covid-19 subiu de 142 para 187 por 100 mil habitantes em meados de janeiro de 2021.
Segundo especialistas, essa alta pode ser associada a uma nova variante do coronavírus, mais contagiosa, identificada em turistas japoneses que visitaram o estado do Amazonas.
Conteúdo semelhante a este também foi verificado pela equipe do Aos Fatos.
Em resumo, é falso que os cilindros de oxigênio enviados da Venezuela a Manaus em meados de janeiro foram importados pela empresa brasileira White Martins. O carregamento foi uma doação da Venezuela, como confirmado pelo governo do Amazonas. A própria White Martins negou envolvimento com a carga de oxigênio.