Ao longo dos meses de pandemia, muito conhecimento foi adquirido sobre a infecção pelo novo coronavírus, uma situação de emergência sanitária global entre as mais severas na história. Mas ainda há muito a saber. Vacinas desenvolvidas em menos de um ano são, por si só, um dos grandes feitos da medicina e da ciência modernas neste período em particular. Enquanto muitos países começam os planos de vacinação, incluindo, finalmente, o Brasil, muitas dúvidas aparecem quando os imunizantes são o assunto.
No momento em que as primeiras doses do imunizante CoronaVac, da Sinovac/Instituto Butantan, começam a ser distribuídas no Brasil e há aprovação para uso emergencial da vacina da Oxford/AstraZeneca, parceira da Fiocruz, o Estado de Minas convidou especialistas para esclarecerem pontos que podem suscitar dúvidas entre a população. Os médicos infectologistas Unaí Tupinambás, Estevão Urbano, Carlos Starling e o virologista Flávio da Fonseca responderam às perguntas e dão orientações importantes para que não sobrem lacunas acerca do entendimento sobre os mecanismos e efeitos das vacinas contra a COVID-19. Tire suas dúvidas.
Como saber se posso tomar a vacina?
É preciso saber se está no grupo prioritário para a primeira fase. Postos e centros de saúde já têm pessoas cadastradas em função da vacinação anual contra a Influenza. Já existe um cadastro para isso.
Quem são os grupos prioritários e o que define as prioridades?
Depende do grau de exposição ao vírus, como no caso de profissionais de saúde, ou o grau de suscetibilidade à doença, como idosos e pessoas com comorbidades. Ainda pessoas que estão institucionalizadas, devido ao agrupamento de muita gente no mesmo lugar.
Profissionais de saúde serão prioridade. Mas o que define o que é profissional de saúde?
É definido como aquele profissional que entra em contato direto com o manuseio de paciente possivelmente infectado. Só se enquadram médicos, enfermeiros e auxiliares de enfermagem. Equipe administrativa não se encaixa, ainda que dentro de um hospital.
Cuidador de idoso é grupo prioritário?
Não. No entanto, cuidadores das casas de repouso fazem parte dos grupos prioritários.
Quem é grupo de risco terá que comprovar, com laudo médico, na hora da vacina?
Parece que sim. De alguma forma, a relação entre o grupo prioritário tem que ser comprovada, mas isso não está detalhado pelo Ministério da Saúde ainda.
Por que a definição de duas doses?
A primeira dose não consegue produzir um nível de anticorpos protetores suficiente no organismo. A proteção máxima vai ocorrer 15 dias após a segunda dose, de reforço. Essa estratégia induz uma resposta protetora mais intensa que a infecção natural.
Qual é o tempo entre a primeira e a segunda doses?
Cada vacina tem um. Para a CoronaVac, são duas semanas, e para a Oxford são três semanas. Cada vacina tem um protocolo correto de distanciamento temporal entre as doses.
Quais documentos são necessários para se vacinar?
Documento de identidade e o cartão de vacinação.
Se não tiver o cartão de vacinação, a pessoa consegue ser vacinada mesmo assim?
Para qualquer vacina tem que levar o cartão, mas a ausência não é prerrogativa para a recusa da vacinação. Nesse caso, o profissional que aplicar a vacina fará um novo cartão.
É preciso guardar o comprovante da vacina? Por quanto tempo?
Sim, permanentemente. Mas o governo tem uma organização caso o comprovante seja perdido. Quando a pessoa é vacinada, entra em um cadastro e os sistemas de saúde têm acesso aos dados.
Quanto tempo o organismo leva para produzir a defesa contra o vírus?
Geralmente, entre sete e 10 dias após a imunização começa a produção de anticorpos.
Vai ter vacinação em casa para idodos ou eles terão que se deslocar?
Segundo informe técnico do Ministério da Saúde, eventualmente poderá ser feita a vacinação em domicílio, considerando pessoas com dificuldade de locomoção, mas a nota não especifica como isso será feito. Deve ficar a cargo de cada gestor (prefeituras e governos de estado).
Deficientes físicos: vai ter vacinação em casa ou terão que se deslocar para receber a vacina?
Pessoas com dificuldade de locomoção poderão ser atendidas em casa, embora isso não seja detalhado ainda pelo Mi- nistério da Saúde. Deve ficar a cargo de cada gestor (prefeituras e governos de estado). Mas o deficiente físico só será atendido no caso de se encaixar como prioridade.
Há contraindicação para vacinar pessoas com câncer?
Não há contraindicação para pessoas que têm câncer ou outras doenças imunodebilitantes. Pelo contrário, são indicação formal para a vacina, já que nesse grupo os riscos de adoecimento grave são maiores.
Há contraindicação para vacinação de gestantes?
São poucos os dados, confirmados em estudos clínicos, sobre a segurança da vacina da COVID-19 e sua possível toxicidade para as gestantes, os fetos, puérperas ou lactantes. O ideal, para as grávidas, é evitar a vacina por enquanto, e para as lactantes não há perigo. A indicação é que a decisão de vacinar seja tomada em comum acordo entre a gestante e seu médico, considerando caso a caso. No Reino Unido, essa discussão está mais avançada e as gestantes que estão na linha de frente são vacinadas.
Há contraindicação em vacinar pessoas alérgicas?
Depende do tipo de alergia. Se a pessoa tem uma reação alérgica importante ao produto vacinal, deve evitar tomar a vacina. Caso contrário, não tem contraindicação. Quem é alérgico à proteína do ovo, por exemplo, pode ser vacinado, porque os imunizantes oferecidos para a COVID-19 não levam esse componente.
A partir de qual idade crianças e adolescentes devem ser vacinadas?
A maior parte dos testes incluem crianças a partir de 12 anos. Crianças e adolescentes não estão incluídos nos grupos prioritários nesse momento.
Vai ter horário especial de atendimento? Precisa agendar a vacina?
Até o momento, essa informação não está especificada.
Onde a vacina estará disponível?
A princípio, nos postos de saúde e UPAs. Isso tudo está sendo organizado e ficará a cargo de cada gestor (prefeituras e governos de estado).
Não sou grupo de risco, não sei quando serei vacinado pelo SUS. Poderei comprar a vacina em uma clínica particular?
Ainda não. Todas as vacinas estão sendo dirigidas no Brasil para aplicação pública.
O que significam as taxas de eficácia dos imunizantes?
A eficácia global é o percentual de pessoas que ficam protegidas da infecção. Por exemplo, a taxa de 50,38% da CoronaVac significa que a cada 100 pessoas imunizadas, 50,38 ficam protegidas da infecção.
Se tive COVID-19 posso ser vacinado?
Pode, mas o que se sugere é que pessoas que já tiveram a doença, e podem estar imunes a uma nova infecção pelos menos por algum tempo, deveriam deixar a vacina, por ora, para quem ainda não teve a infecção
A técnica do RNA altera meu código genético?
Não. As vacinas de RNA não têm a capacidade de alterar o código genético, não têm acesso ao núcleo das células. Mesmo que tivessem, o genoma humano é protegido contra esse tipo de invasão.
Quais são as principais fake news sobre as vacinas?
Inúmeras. Entre as quais, as de que a vacina altera o DNA ou têm um chip para controlar as pessoas.
A vacina será obrigatória?
Não.
É verdade que a vacina de Oxford não é eficaz em idosos?
Não. Apresentou-se extremamente eficaz, particularmente em idosos.
Faz mal misturar doses de vacinas diferentes?
Não se sabe. Mas com certeza isso altera a eficácia da vacina. O ideal é que a pessoa complete seu protocolo de imunização com a mesma vacina.
Um mesmo tipo de vacina funcionará para todas as pessoas?
Em algumas pessoas, a vacina não funciona bem, mesmo as melhores. Esse é um dos fatores que fazem a eficácia de imunizantes não ser 100%.
Para quem as vacinas contra a COVID-19 não são indicadas?
Grávidas, pessoas com febre, que apresentem qualquer doença ou sintomas no momento da vacinação, pessoas imunodeprimidas ou quem têm alergia aos componentes da vacina.
A pessoa vacinada pode contrair o vírus e/ou transmiti-lo?
Sim. A eficácia da vacina não é de 100%. Por isso a importância de manter todos os cuidados enquanto a pandemia for grave.
Posso ser infectado pelo coronavírus ao tomar a vacina?
Não. As vacinas não têm coronavírus vivos.
Após completar a vacinação, posso pegar COVID-19?
Sim. Você deve continuar a evitar aglomeração, manter o distanciamento das pessoas, evitar ambientes fechados, usar máscara.
Quanto tempo durará a proteção da vacina contra a COVID-19?
Ainda não há essa informação.
Posso parar de usar a máscara após me vacinar?
Não, porque a vacina não garante absolutamente a ausência de infecção. Enquanto as taxas de transmissão estiverem elevadas, é preciso manter as mesmas precauções.
Quanto tempo após tomar a vacina eu poderei frequentar festas, bares, aglome- rações etc.?
Não se deve alterar o comportamento em relação ao vírus enquanto as taxas de circulação viral estiverem altas.
Quem já teve COVID-19 logo no início da pandemia e é do grupo de risco ou prioridades vai ser vacinado?
Se informar que já teve a infecção não será vacinado, porque não precisa.
Quais são os efeitos colaterais que podem ocorrer após a vacina?
Podem durar até duas semanas após a aplicação da vacina. Isso inclui efeitos leves e locais e sintomas mais graves. Normalmente, a maior parte dos eventos adversos incluem sintomas brandos. São eles:
» Muito comuns: dor no local da injeção, cansaço, fadiga, dor de cabeça
» Comuns: edema, prurido, enduração no local da injeção, náusea, diarreia, dor muscular, tosse, dor articular, coceira na pele, nariz escorrendo, dor de garganta, congestão nasal
» Incomuns: hematoma no local da injeção, vômitos, febre, exantema (erupção cutânea), dor na orofaringe, espirros, tontura, dor abdominal, sonolência, mal-estar, rubor, dor/desconforto nas extremidades, dor nas costas, vertigem, edema, dispneia, diminuição do apetite
» Desconhecidos: é uma vacina nova, podem ocorrer efeitos ainda não mapeados
Há vacina suficiente?
Ainda há poucas vacinas disponíveis, por isso a prioridade para a população-alvo no primeiro momento. Até o fim de abril ou de maio, o quantitativo de doses deve possibilitar vacinar pelo menos 70 milhões de brasileiros.
Quando teremos imunidade de rebanho com a vacinação?
Cerca de 60% a 70% da população precisa estar imunizada ou resistente imunologicamente para começar a ter uma imunidade de rebanho. O tempo que isso vai levar é aquele em que se conseguir vacinar esse percentual de pessoas, acrescentando as já infectadas, que também são resistentes, ainda que não se saiba por qual período.
A vacinação contra a COVID-19 acabará com o novo coronavírus?
Se houver uma alta cobertura vacinal e o imunizante realmente proteger da infecção, a pandemia poderá ser supe- rada, mas isso também depende da adesão das pessoas ao chamado para a vacinação.
Coronavírus são uma grande família de vírus que causam infecções respiratórias. O novo agente do coronavírus (COVID-19) foi descoberto em dezembro de 2019, na China. A doença pode causar infecções com sintomas inicialmente semelhantes aos resfriados ou gripes leves, mas com risco de se agravarem, podendo resultar em morte.
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O que é o coronavírus
Coronavírus são uma grande família de vírus que causam infecções respiratórias. O novo agente do coronavírus (COVID-19) foi descoberto em dezembro de 2019, na China. A doença pode causar infecções com sintomas inicialmente semelhantes aos resfriados ou gripes leves, mas com risco de se agravarem, podendo resultar em morte.
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Como a COVID-19 é transmitida?
A transmissão dos coronavírus costuma ocorrer pelo ar ou por contato pessoal com secreções contaminadas, como gotículas de saliva, espirro, tosse, catarro, contato pessoal próximo, como toque ou aperto de mão, contato com objetos ou superfícies contaminadas, seguido de contato com a boca, nariz ou olhos.Vídeo: Pessoas sem sintomas transmitem o coronavírus?
Como se prevenir?
A recomendação é evitar aglomerações, ficar longe de quem apresenta sintomas de infecção respiratória, lavar as mãos com frequência, tossir com o antebraço em frente à boca e frequentemente fazer o uso de água e sabão para lavar as mãos ou álcool em gel após ter contato com superfícies e pessoas. Em casa, tome cuidados extras contra a COVID-19.Vídeo: Flexibilização do isolamento não é 'liberou geral'; saiba por quê
Quais os sintomas do coronavírus?
Confira os principais sintomas das pessoas infectadas pela COVID-19:
- Febre
- Tosse
- Falta de ar e dificuldade para respirar
- Problemas gástricos
- Diarreia
Em casos graves, as vítimas apresentam:
- Pneumonia
- Síndrome respiratória aguda severa
- Insuficiência renal
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Mitos e verdades sobre o vírus
Nas redes sociais, a propagação da COVID-19 espalhou também boatos sobre como o vírus Sars-CoV-2 é transmitido. E outras dúvidas foram surgindo: O álcool em gel é capaz de matar o vírus? O coronavírus é letal em um nível preocupante? Uma pessoa infectada pode contaminar várias outras? A epidemia vai matar milhares de brasileiros, pois o SUS não teria condições de atender a todos? Fizemos uma reportagem com um médico especialista em infectologia e ele explica todos os mitos e verdades sobre o coronavírus.Coronavírus e atividades ao ar livre: vídeo mostra o que diz a ciência
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