Três infecções pela nova variante do coronavírus identificada em Manaus foram confirmadas em São Paulo, informou o governo do Estado.
Essa é a primeira vez que a nova variante é detectada em outro Estado brasileiro. Neste mês, Japão e Estados Unidos haviam detectado a nova cepa em pessoas que viajaram do Brasil para lá.
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Os vírus nas amostras dos exames os três pacientes de São Paulo passaram por um sequenciamento genético no Instituto Adolfo Lutz para confirmar que se tratava da nova variante.
Essa cepa do coronavírus sofreu mutações que podem deixá-la mais infecciosa. Cientistas ainda estão investigando isso e o impacto da nova linhagem sobre o colapso do sistema de saúde no Amazonas.
O epidemiologista Jesem Orellana, pesquisador do Instituto Leônidas & Maria Deane (ILMD/Fiocruz Amazônia), tem estudado a variante encontrada em Manaus.
Para o cientista, a cepa está presente em diversos Estados brasileiros, apesar de ainda não haver confirmações oficiais.
"Com certeza já está circulando por todo o Brasil. Não é possível que tenham achado em outros continentes e não tenha chegado a outros Estados", afirma.
Orellana diz que os indícios apontam que a nova variante seja mais infecciosa e mais mortal que muitas linhagens já conhecidas.
"Estamos começando a achar que essa variante pode realmente causar danos maiores que as outras."
O que dizem os cientistas
Pesquisadores de dez instituições, entre elas o Imperial College London e a Universidade de Oxford, ambas na Inglaterra, e o Instituto de Medicina Tropical da Universidade de São Paulo, publicaram um artigo descrevendo casos dessa nova variante, que recebeu o nome de P.1.
Dados analisados por cientistas da Fiocruz Amazônia apontam que ela surgiu entre novembro e dezembro.
É esperado que, durante uma pandemia, o vírus sofra mutações à medida que é transmitido de pessoa para pessoa.
O monitoramento das alterações no código genético ajuda a acompanhar os casos preocupantes e, eventualmente, a que sejam tomadas medidas que bloqueiem a cadeia de transmissão.
O que chama a atenção no caso desta variante manauara é que as mudanças ocorreram nos genes que codificam a espícula, a estrutura que fica na superfície do vírus e permite que ele invada as células do nosso corpo.
Isso pode deixar o coronavírus ainda mais infeccioso.
Como foi feito o estudo?
A pesquisa foi publicada no site Virological.Org, um fórum de discussão que reúne as últimas informações sobre evolução viral e epidemiologia.
Os cientistas analisaram o material genético de 31 amostras de pacientes com covid-19 em Manaus. Desses, 13 indivíduos (ou 42% do total) apresentavam justamente essa nova linhagem.
Alguns dias antes, o Japão havia anunciado a detecção de uma nova cepa de coronavírus em pessoas que viajaram do Brasil para lá.
Tudo indica que essa mutação encontrada no país asiático seja a mesma que se originou na capital do Amazonas.
O que ainda não se sabe?
Por mais que represente um sinal de alerta, o trabalho recém-publicado precisa ser ampliado para que todos possam entender melhor o impacto da nova linhagem na pandemia em Manaus.
A cidade, inclusive, vive uma situação dramática nas últimas semanas: os hospitais públicos e privados estão completamente lotados e os materiais de proteção e tratamento são escassos.
A curva de novos casos e de mortes não para de subir na região. Até esta quarta, o Estado do Amazonas contabiliza 254,4 mil casos e 7,4 mil óbitos por covid-19.
Não se sabe, no entanto, se a nova variante tem alguma influência neste cenário caótico. Para responder a essas dúvidas, nos próximos dias os cientistas pretendem aumentar o número de amostras analisadas.
"Há dois fenômenos: um aumento inexplicável na mortalidade, a partir de dezembro, e um aumento das internações novas. Claro, há mortes que ocorreram porque a rede médica hospitalar foi desestabilizada pelo aumento de atendimentos (...). Mas há muitos casos de pessoas que morreram no hospital, mesmo com assistência médica", diz Orellana.
Segundo Orellana, há diversos relatos de médicos de Manaus que apontam que a nova variante do vírus é ainda mais perigosa.
"Um médico que atua em uma das instituições mais conhecidas em Manaus relatou a deterioração de pacientes internados com covid-19 agora, na segunda onda da pandemia. São pacientes com assistência, (cuja saúde) se deteriora mais rápido. Esse relatos do médico me deixaram impressionado, porque vai ao encontro de uma série de relatos de outros colegas", diz.
Mas Orellana avalia que ainda são necessários estudos para afirmar que a variante encontrada em Manaus é mais perigosa que as que já são conhecidas.
"O que temos ainda são apenas observações clínicas. Ainda não há uma análise científica", diz.
Há outras variantes?
Sim. Nas últimas semanas, autoridades sanitárias notificaram o aparecimento de variantes que geram preocupação em outros lugares do mundo.
A Organização Mundial da Saúde está acompanhando de perto cepas detectadas no Reino Unido e na África do Sul. Os dados indicam que elas são mais transmissíveis que as versões anteriores.
Orellana aponta que essa característica também pode estar na presente na variante de Manaus, porque ela tem semelhanças genéticas com a do Reino Unido. "Não seria nenhuma grande surpresa", aponta o especialista.
Na última sexta-feira (22/01), o primeiro ministro do Reino Unido, Boris Johnson, afirmou que a nova variante encontrada no país pode ser mais letal do que as linhagens já conhecidas. Mas as pesquisas continuam em seu estágio preliminar.
"Além de se espalhar mais rápido, agora parece que há evidências de que a nova variante pode estar associada com uma taxa maior de mortalidade", disse o primeiro-ministro.
Mesmo que as novas linhagens do vírus não sejam mais agressivas, o fato de elas afetarem mais gente pode ter um impacto no número de óbitos.
O que fazer para se proteger?
Enquanto não temos mais informações a respeito das novas linhagens, as medidas de prevenção continuam as mesmas.
A recomendação é que as pessoas fiquem o máximo de tempo possível em casa e sempre usem máscaras quando precisarem sair.
Arejar e ventilar os ambientes também é muito importante. Lavar as mãos com frequência com água e sabão ou álcool em gel é outra medida essencial.
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