Brasília – A guerra da vacina no exterior é entre a União Europeia e a anglo-belga AstraZeneca. A origem do problema foi o anúncio da farmacêutica de que as entregas de vacinas para a Europa serão menores do que o previsto, o que irritou o bloco de países, que tem pressa na imunização da população e quer compromissos claros da AstraZeneca sobre quantas doses serão disponibilizadas para a região neste primeiro semestre. Os países europeus querem que a AstraZeneca destine a produção de suas fábricas no Reino Unido não apenas para os britânicos, mas também para os 27 países do bloco.
A demanda pelo imunizante gera guerra pública de palavras entre os dois lados, inclusive com ameaças de processos judiciais e restrições à exportação. A UE afirma que a AstraZeneca desistiu da reunião agendada para discutir o assunto. A farmacêutica nega. O bloco europeu tem pressa porque ate agora aplicou apenas 2,2 doses por 100 pessoas, contra 7,5 doses nos EUA, 11 doses no Reino Unido e quase 45 doses em Israel. Mas a vacina da AstraZeneca não deve ser autorizada para uso no bloco antes de sexta-feira. “Nossa principal prioridade deve ser disponibilizar vacina suficiente para muitos países, inclusive para a Alemanha, no mais tardar a partir do segundo semestre”, disse o ministro da Economia alemão, Peter Altmaier.
O problema se agravou neste início do ano quando a AstraZeneca alertou sobre atrasos em uma planta de produção na Bélgica. Diante da ofensiva europeia pela vacina, o presidente-executivo da empresa, Pascal Soriot, disse que a AstraZeneca poderia acelerar a produção, mas não especificou a quantidade. Isso porque a UE insistiu em receber a vacina ao mesmo tempo que o Reino Unido, apesar de ter feito o pedido três meses depois.
Parte da falta de acordo decorre do uso de vacinas produzidas nas fábricas do Reino Unido. A UE contesta a prioridade dado ao Reino Unido nas vacinas e quer que a AstraZeneca concorde em divulgar o acordo que a UE assinou com a empresa. “Rejeitamos a lógica do primeiro a chegar, primeiro a ser servido”, disse a chefe de saúde da UE, Stella Kyriakides.
Em entrevista coletiva, Pascal Soriot reconheceu as dificuldades dos líderes europeus. “Todo mundo está ficando irritado ou emocional com essas coisas”, mas entendo porque a comissão está gerenciando o processo para toda a Europa.” O executivo afirmou também que assim que a Astra obtiver a aprovação regulatória da UE, enviará pelo menos 3 milhões de doses imediatamente, com uma meta de 17 milhões até fevereiro. Isso deve ajudar a Europa a acelerar as vacinações e deixar as economias mais perto de sair de lockdowns prejudiciais que afetaram indústrias e causaram crescente descontentamento.