A corrida pela imunização contra a COVID-19 mundo afora gerou uma guerra pela distribuição de vacinas. No Brasil, a disputa é acirrada entre os governos federal e paulista. O diretor do Butantan, Dimas Covas, cobrou novamente ontem uma resposta do governo federal sobre as 54 milhões de doses adicionais da CoronaVac que foram oferecidos pelo instituto, que no Brasil é o responsável pela produção do imunizante da farmacêutica Sinovac. Ele alerta que precisa de um retorno do governo para que se posicione em relação a outro países da América Latina que estão em busca de vacinas junto ao Butantan. O Brasil registrou 1.283 mortes e 63.520 casos em 24 horas, elevando o total para 220.161 óbitos e 8.996.876 de casos.
“Oficiei o Ministério na semana passada, aguardo até o fim desta semana uma resposta porque na semana que vem vou fechar os contratos com os países, começando pela Argentina. Então, vai ser importante que haja essa manifestação, para que lá na frente não possa aí alegar que não houve de fato essa oferta e a oferta está sendo feita, via contrato, via ofício, e de público, que vocês estão aqui como testemunhas".
Covas frisou que o contrato com o Ministério da Saúde é de 46 milhões de doses, com a opção de fornecer 54 milhões de doses adicionais, mas é preciso assinar um contrato adicional— por isso, aguarda a manifestação da pasta. “Não tivemos nenhum aceno nesse sentido. Isso me preocupa um pouco, porque está na hora de decidir. E se demorarmos, não vamos conseguir ampliar esse número”, afirmou.
O diretor frisou que o Butantan tem compromisso com outros países, com acordos de entregas. “Se o Brasil declinar dessas 54 milhões de doses, vamos priorizar os demais países com os quais nós temos acordo. Nessa perspectiva, espero que haja definição por parte do Ministério da Saúde, mesmo porque tudo indica que eles estão ávidos por vacina e nós estamos preparados para fornecer esse adicional de 54 milhões de doses”, pontuou.
Covas ressaltou que “o tempo nesse momento é fundamental". “Em todos os países que o Butantan tem previsão de fornecimento de vacina estão cobrando os cronogramas. Precisamos dar resposta a esses países e precisamos de resposta do Ministério da Saúde. Se houver resposta positiva do ministério, vamos fazer um planejamento para ter 54 milhões de doses adicionais do ministério, mais 40 milhões dos países vizinhos. Não havendo manifestação do ministério, nós vamos dirigir nossa produção para atender aos países, inclusive com possibilidade de aumentar a oferta de vacina, porque a demanda é grande”, afirmou.
Durante a coletiva, o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), ressaltou que o país precisa de mais vacinas e aproveitou para alfinetar o governo federal. "Inacreditável que diante de uma pandemia um país com 215 milhões de habitantes que precisa de vacina para imunizar os brasileiros, salvar vidas, tenhamos o distanciamento entre o que o Ministério da Saúde deveria agir, solicitando mais vacinas que lhe são oferecidas, e esta resposta não é dada. Não será com 2 milhões de vacinas da Astrazeneca que vamos salvar os brasileiros e imunizar os que vivem em nosso país. Precisamos de mais vacinas”, afirmou.
CONTRATO
Em resposta à ameaça do Butantan, o Ministério da Saúde, disse que o contrato firmadocom o instituto estabelece que o pedido de mais doses poderia ser feito até maio. O Butantan não contesta as informações repassadas pelo ministério, mas afirma que “enviou ofício aoMinistério da Saúde para que possa planejar logisticamente a sua produção com a devidaantecedência”. Segundo nota enviada pelo instituto, “durante a urgência de uma pandemia, não épossível se limitar à frieza da burocracia enquanto as ações de combate ao coronavírus podem ser maiságeis”.
O contrato que o Butantan fez com o Ministério da Saúde, assinado em 7 de janeiro, prevê que a instituição, vinculada ao governo João Doria forneceria 46 milhões de doses da vacina aoSistema Único de Saúde (SUS), que as repassariam a todos as unidades da federação. Esse repasse seriafeito de forma escalonada entre janeiro e abril (o montante de janeiro já foi repassado). Após esseperíodo, entretanto, não há nenhuma garantia de novos repasses.
No início do mês, quando o Ministério da Saúde anunciou o fechamento do contrato, o secretário-executivo da pasta, Élcio Franco, afirmou que não haveria orçamento para contratar as 100 milhões de doses (46 milhões %2b 54 milhões) da vacina de uma vez só. “Não temos orçamento neste momento para fazer a contratação integral das 100 milhões de doses. Em um primeiro momento, é uma contratação de 46 milhões de doses com a opção de 30 dias ao término dessa entrega nós fazermos um novo contrato para adquirir as outras 54 milhões", explicou em coletiva no dia 7 de janeiro. A afirmação contradisse o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, que anunciou que havia assinado naquele dia um contrato com o Butantan para oferta de 100 milhões de doses: 46 milhões até abril e outras 54 milhões no decorrer do ano.
Enquanto isso...
...Clínicas negociam compra
Cinco milhões de doses da vacina Covaxin, desenvolvida pelo laboratório indiano Bharat Biotech contra a COVID-19, serão destinadas às clínicas privadas no Brasil após a conclusão das negociações entre a companhia, a Associação Brasileira das Clínicas de Vacina (ABCVAC) e da importadora Precisa Medicamentos. O imunizante, cujos testes de fase 3 ainda não foram concluídos ainda precisaria passar pelo crivo da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). As negociações entre a ABCVAC, que tem 200 associadas e representa 70% do setor no Brasil, e a Bharat Biotech causaram debate sobre a oferta de vacinas para o setor privado. Uma delegação da entidade chegou a viajar à Índia para avançar no diálogo com o laboratório. O pagamento pelas doses será feito pelas clínicas diretamente à Precisa Medicamentos. O preço de cada unidade irá variar de acordo com o lote encomendado. Além do sinal de 10%, as clínicas deverão pagar 50% do valor do contrato quando a Anvisa liberar o uso e a importação da Covaxin e os demais 60% no momento da entrega do produto. Cada clínica poderá comprar um mínimo de 2 mil doses. De acordo com as regras da Anvisa, no entanto, a comercialização de imunizantes para clínicas privadas é vedada durante o regime de uso emergencial.
no Brasil e na Europa