A gestão João Doria (PSDB) decidiu que não irá mais retardar o intervalo de tempo entre a aplicação da primeira e da segunda dose da vacina contra o coronavírus, como chegou a cogitar no começo desta semana. O intervalo entre as doses da Coronavac, o imunizante produzido pelo laboratório chinês Sinovac em parceria com o Instituto Butantan, será o mesmo usado nos testes da vacina, de até 28 dias.
"Cumpriremos de forma clara os 28 dias para aplicação da segunda dose de todo o grupo que compõe a fase 1", disse a coordenadora do Centro de Controle de Doenças do Estado, Regiane de Paula. Por 'fase 1', ela se referia a profissionais de saúde da linha de frente do combate à doença, indígena, quilombolas e idosos que vivem em instituições como asilos. Nesta sexta, o governo anunciou datas para início da vacinação de idosos de 85 anos ou mais.
A tomada de decisão pelo recuo se deu após falta de entendimento com o Ministério da Saúde: São Paulo queria que o governo federal desse garantias que, aplicadas todas as doses disponíveis, Brasília desse garantias de que houvesse novas doses suficientes para a segunda aplicação.
"O que foi pleiteado ao ministério, o questionamento que foi feito, é se nós poderíamos utilizar essas doses que foram guardadas (nos armazéns da Secretaria Estadual da Saúde), para ampliar de forma mais célere a imunização, e que o ministério desse, portando, uma garantia de que, naquele prazo da segunda dose, nós teríamos mais vacinas", afirmou o secretário estadual da Saúde, Jean Gorinchteyn. "Isso não foi colocado pelo ministério", continuou. "Então, por uma questão de segurança e respeito a todos que foram imunizados, nós mantivemos essas doses guardadas." Essas doses, agora, serão usadas para a aplicação do reforço - que é vital para que o processo de imunização contra a covid-19 tenha êxito.
A ideia era que, se não tivesse de reservar parte das doses neste momento, o governo poderia ampliar a base de pessoas que receberam a primeira parte do imunizante. Com quase duas semanas de campanha de vacinação, 353 mil pessoas receberam a primeira dose da vacina, menos de 1% da população do Estado. Para que o vírus seja controlado no Estado, será preciso vacinar 33 milhões de pessoas, segundo os especialistas.
O presidente do Instituto Butantan, Dimas Covas, criticou a posição do ministério, afirmando que haverá doses suficientes para a segunda aplicação no momento adequado. "Pessoalmente, não concordo com essa posição de reservar 50% das doses. Acho que isso não é condizente com a epidemia, com a gravidade da epidemia e acho que não é (uma decisão) eticamente sustentável", disse.
"Acho que há aí uma análise não factual. É uma análise absolutamente burocrática que não tem levado em consideração a gravidade do momento. Tem municípios que estão usando integralmente as doses e acho que eles estão se baseando nesse aspecto: o problema da gravidade da pandemia e a questão ética", continuou Covas. "Se existem doses disponíveis, por que não usar essas doses e quando chegar o momento certo, da segunda dose, obviamente que haverá segunda dose."
"O que não faz sentido neste momento é reservar 3 milhões de doses das que foram liberadas na prateleira", complementou o presidente do Butantan, para depois concluir: "Eu, pessoalmente, acho que não é uma medida acertada, (mas) não quero polemizar com o ministério."
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