O receio surge quando uma variante toma proporções de transmissão significativas, como ocorreu com as novas versões identificadas no Reino Unido, na África do Sul, e, agora, no Brasil. Ainda que a compreensão sobre o comportamento do novo coronavírus não seja perfeita, a rapidez na disseminação é uma das características das novas cepas.
A exemplo do caos que se instaurou em Manaus, onde a variante brasileira foi detectada em dezembro, o temor é de que a situação se torne ainda mais severa em todo território nacional.
Ele chamou de megaepidemia a situação que pode ocorrer no país nos próximos 60 dias, como reflexo do surgimento da variante em Manaus, que parece ter um grau de transmissibilidade maior em relação à primeira cepa.
“Temos mais uma crise. Essa nova variante em Manaus, em que o mundo inteiro está fechando os voos para o Brasil e estamos enviando pacientes para outros estados sem fazer os bloqueios de biossegurança. Provavelmente, a gente vai plantar essa cepa em todos os territórios da Federação e daqui a 60 dias a gente pode ter uma megaepidemia”, pontuou, em entrevista ao programa Manhattan Connection, da TV Cultura."Em muitos casos, a transmissão é mais rápida que a capacidade de identificá-la (a variante)"
Renato Kfouri, diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações
A dificuldade na detecção se deve ao fato da baixa capacidade de testagem. Segundo ele, menos de 0,1% das cepas isoladas são sequenciadas geneticamente no Brasil. E não é possível saber qual variante será dominante em qual período de tempo, ainda que existam especulações nesse sentido.
Até o momento, o infectologista explica que permanece a eficácia das vacinas para as novas variantes. “Ainda assim, a propagação das novas versões do vírus aumenta o número de casos, mais leves, moderados ou graves, aumenta a pressão nos sistemas de saúde”, diz.
Ansiedade
A identificação da variante brasileira do coronavírus, chamada P.1, está gerando ansiedade e dúvidas entre a população, como avalia o infectologista Estevão Urbano, do Comitê de Enfrentamento à COVID-19 de Belo Horizonte. Em contato com os médicos que estão na linha de frente em Manaus, ele conta que as impressões são de que o novo tipo, além de ser de mais rápida propagação, também é mais agressivo – mas se trata de impressões, nada ainda cientificamente comprovado.
“A nova cepa pode ter contribuído para agravar o caos na cidade. Não foi identificada logo no início e hoje mais de 50% das pessoas infectadas em Manaus são pela variante. O número de óbitos por lá está no patamar mais grave até agora. É fundamental manter a cautela”, diz Estevão Urbano.
“As novas cepas são motivo de preocupação mundial. Temos que estar vigilantes até ter certeza absoluta se é mais transmissível ou mais letal. Não temos estudos, e precisamos ter antes de o caldo entornar. O Brasil tem que adotar protocolos de acompanhamento e mapeamento dessa cepa. O que ocorre em Manaus pode acontecer no país todo", alerta.
Esforço conjunto
Por outro lado, a virologista Marilda Siqueira, chefe do Laboratório de Vírus Respiratórios e do Sarampo do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), pontua que o instituto vem trabalhando em redes de estudo sobre o genoma das versões do coronavírus, junto a outras frentes de atuação do Ministério da Saúde e o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações.
“Em todo país vem sendo feito um grande esforço nesse sentido. Temos amostras sendo analisadas em diversos laboratórios. O objetivo é fornecer informações que possam auxiliar no melhor entendimento sobre a circulação e importância dessas variantes no país. Se implicam ou não em mais transmissibilidade, mais ou não patogenicidade (capacidade de um agente biológico causar doença)", relata a virologista.
Investigada eventual variante em Minas
“A circulação está em grande velocidade. Pensar, por exemplo, que recebemos dos japoneses a informação de que a variante brasileira chegou por lá é preocupante. Demonstra que ultrapassou nossa capacidade de vigilância”, diz.
“Mas, nesses casos, todos os cuidados são observados. O problema são as pessoas assintomáticas, ou com sintomas leves, que saem da cidade para procurar tratamento em outras regiões, sem declarar que estão infectadas", aponta.
"Mutações de RNA nos vírus acontecem o tempo todo. A questão é de acompanhamento e vigilância. Não sei o que o levou a esse raciocínio, mas não falou nenhum absurdo. Mais de 220 mil pessoas mortas, para mim, já é uma megaepidemia”, afirma José Geraldo. O epidemiologista explica que a nova aceleração no número de casos pode estar relacionada ao vaivém das medidas de restrição e flexibilização no país. "Se abre e tudo volta ao normal, a doença explode, se fecha, controla, e, se abre de novo, volta", avalia.
Irresponsabilidade
O infectologista e professor emérito da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Dirceu Greco pondera que não há elementos robustos para saber se a variante brasileira tem risco de se expandir ainda mais, mesmo sabendo que é mais infectante. “O contraponto importante é aumentar a produção e distribuição das vacinas. Mas, levará um tempo até que toda população esteja imune”, diz. Na opinião de Dirceu, até agora, o país tem um governo irresponsável perante a pandemia.
Entenda como agem as novas cepas
O que é o coronavírus
Coronavírus são uma grande família de vírus que causam infecções respiratórias. O novo agente do coronavírus (COVID-19) foi descoberto em dezembro de 2019, na China. A doença pode causar infecções com sintomas inicialmente semelhantes aos resfriados ou gripes leves, mas com risco de se agravarem, podendo resultar em morte.
Vídeo: Por que você não deve espalhar tudo que recebe no Whatsapp
Como a COVID-19 é transmitida?
A transmissão dos coronavírus costuma ocorrer pelo ar ou por contato pessoal com secreções contaminadas, como gotículas de saliva, espirro, tosse, catarro, contato pessoal próximo, como toque ou aperto de mão, contato com objetos ou superfícies contaminadas, seguido de contato com a boca, nariz ou olhos.Vídeo: Pessoas sem sintomas transmitem o coronavírus?
Como se prevenir?
A recomendação é evitar aglomerações, ficar longe de quem apresenta sintomas de infecção respiratória, lavar as mãos com frequência, tossir com o antebraço em frente à boca e frequentemente fazer o uso de água e sabão para lavar as mãos ou álcool em gel após ter contato com superfícies e pessoas. Em casa, tome cuidados extras contra a COVID-19.Vídeo: Flexibilização do isolamento não é 'liberou geral'; saiba por quê
Quais os sintomas do coronavírus?
Confira os principais sintomas das pessoas infectadas pela COVID-19:
- Febre
- Tosse
- Falta de ar e dificuldade para respirar
- Problemas gástricos
- Diarreia
Em casos graves, as vítimas apresentam:
- Pneumonia
- Síndrome respiratória aguda severa
- Insuficiência renal
Vídeo explica por que você deve 'aprender a tossir'
Mitos e verdades sobre o vírus
Nas redes sociais, a propagação da COVID-19 espalhou também boatos sobre como o vírus Sars-CoV-2 é transmitido. E outras dúvidas foram surgindo: O álcool em gel é capaz de matar o vírus? O coronavírus é letal em um nível preocupante? Uma pessoa infectada pode contaminar várias outras? A epidemia vai matar milhares de brasileiros, pois o SUS não teria condições de atender a todos? Fizemos uma reportagem com um médico especialista em infectologia e ele explica todos os mitos e verdades sobre o coronavírus.Coronavírus e atividades ao ar livre: vídeo mostra o que diz a ciência
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